domingo, setembro 16, 2007

Gueixa



O Oriente está a cinco passos:
moça de olhos puxados,
sentada neste café.
Mangá jamais desenhado,
traço, assim, delineado,
estrela nipo-solar.
E a luz desse sol poente
me invade assim, de repente,
instiga meu mar-luar.
É quando eu sinto a energia
que seu espírito irradia,
força extremada,
sem par!
Golpe certeiro e cortante,
linhagem beligerante:
moça-gueixa-samurai...
Seda espalhada nas costas,
tapete negro, macio,
melenas longas e retas
onde é bom de se aninhar.
Olhar que é mira certeira,
ritualística dama
da Cerimônia do Chá.
Mirante para outras terras,
língua que é puro mistério,
dilema a enfeitiçar...
Da direita para a esquerda,
leitura desconcertante,
perdição do viajante,
ideograma de amar.
Expressão da natureza
sob a forma de princesa,
linda boneca de louça,
com boca cor de carmim.
Efeito de um kamikase,
de espada bem afiada,
bandeira branca e vermelhadualidade sem fim.
Misto de paz e de guerra,
um delicado origami
sentado próximo a mim.
E chego ao fim desses versos,
presente de mais um dia,
fruto doce desse vício
que se chama observar.
Assim registro a magia
e eternizo a poesia
que invadiu esse lugar.

São Paulo,
Centro Cultual Vergueiro
Junho- 2007

sexta-feira, setembro 07, 2007

Para além dos Cânticos


Quem nunca pecou,
que atire a primeira pedra.
Esses dizeres me redimem.
Retiram de mim o peso da cruz que é seu corpo forte,
moldado em rituais e sacrifícios...
Ah... A velha culpa cristã...
Ela me faz crer que
meu desejo é pecado e primo-irmão da loucura...
Mas antes que a insanidade me tome de vez,
me apego com fervor a trechos dos Evangelhos.
Apenas eles me apartam da desesperança quando falam de vinhos,
festas, danças e da extrema reverência com que Maria,
irmã de Marta e de Lázaro,
cuidou do seu Senhor.
Ela sim pôde viver a glória
porque lavou os pés de Jesus com perfume de nardo e,
depois, os secou devotamente,
com seus próprios cabelos...

Uma cena que supera a poesia e a sensualidade do Cântico dos cânticos.
E que me comove mais do que toda a arte já produzida pela mão do homem.

E dito isso, pergunto:

-“ Irmão Sol, Irmã Lua...
Estarei sendo profana ao desejar lavar os pés do meu amado?
Logo Ele a quem considero um Deus?”

Quem nunca pecou...

Goimar Dantas
São Paulo – 29/08/07


Imagem disponível em: http://www.ideariumperpetuo.com/MM-Pieter_Pauwel_Rubens-1618.jpg