sexta-feira, novembro 28, 2008

Nasceu!



Tatá e Yuri. Foto feita no primeiro final de semana que ela passou em nossa casa.




Conheci minha filha há três anos, num abrigo localizado na Zona Leste de São Paulo. Nossa família parecia estar completa até então. Eu, Maurício e Yuri sempre nos bastamos. Não fomos ao abrigo com a intenção de adotar ninguém. A idéia era só passar uma tarde divertida com as crianças. Há anos ajudávamos esse abrigo com sacolinhas de Natal e pequenas doações. Então, recebemos o convite que mudaria nossas vidas para sempre.

Nossa amiga Valéria de Paula Queiroz, que era voluntária do abrigo, nos disse: "Gente, vamos lá conhecer as crianças que vocês ajudam". E nós fomos. E lá chegamos. E uma hora depois, nós a vimos. Linda, com seus olhos de índia nos chamando para ela. Para dentro dela. Para o mundo dela. Para a alma dela. E nós fomos. E o mundo, como o conhecíamos, se transformou por inteiro. Era 18 de setembro de 2005.

E, depois disso, lutamos oito meses tentando conseguir autorização judicial pra que ela passasse um final de semana aqui em casa... A história de vida dela era complicada demais e o juiz temia que nossas intenções não fossem sérias. Temia que fosse fogo de palha. Por não estarmos numa fila de adoção, éramos tratatos como párias, como marginais. Fizeram um levantamento no sistema pra ver se nenhuma família estava interessada nela. Claro que não acharam ninguém. Até porque a esmagadora maioria dos que estão na fila só quer adotar bebês brancos e com até dois anos de idade, no máximo. Foram meses de estresse. Meses nos deslocando, atravessando a cidade para vê-la, a cada 15 dias. Era desesperador olhar pra ela e perceber que o cabelo, a pele, as roupas... Tudo poderia estar melhor se ela pudesse estar conosco desde o dia em que a conhecemos... Mas a Lei dos homens é muito esquisita, demorada, defasada... E nada podíamos fazer. Não podíamos sequer visitá-la toda semana, de modo a não deixá-la mais ansiosa e confusa do que já estava.

Finalmente, em abril de 2006, ela passou a vir para nossa casa nos finais de semana. E aí começou outro drama: tínhamos de devolvê-la para o lar no domingo. E era aquela choradeira. E eram nossos corações partidos. E era nossa vontade de xingar, de gritar, de espernear, de bater em todo mundo. Afinal, era a nossa filha, desde o primeiro momento... Não desejo essa dor pra ninguém.

Até que, um mês depois, aconteceu. O juiz - já não era sem tempo - ficou comovido quando soube que minha filha estava doente e muito triste por conta dessa situação de ter pais e, ao mesmo tempo, não ter... Precisou que ela tivesse febre e que fosse levada para o hospital. Precisou que ela chorasse a noite inteira, acordando outras crianças do abrigo. Precisou que todos sofrêssemos pra que ele, o juiz, enxergasse o que já era evidente para todos.

E assim, recebemos a guarda provisória em 18 de maio de 2006. Nove meses depois do dia em que a vimos pela primeira vez. Uma gravidez. Uma nova vida... Ela já era nossa pela lei do amor. Mas faltava a tal lei dos homens dar o veredito final nos concedendo a guarda definitiva. Um documento que faria com que minha filha tivesse o sobrenome da nossa família e uma nova certidão de nascimento.

Foram mais dois anos e meio de espera pra que isso acontecesse. Idas e vindas ao fórum, entrevistas, relatórios, papeladas, burocracias, advogados (do Estado) morosos impedindo a nossa felicidade total. Nossa advogada sofria conosco e não tinha mais cara pra nos explicar que as coisas não têm prazo quando a Justiça dos homens está no meio delas... E dá-lhe espera, expectativa, frustração.

Mas essa semana veio a notícia com um telefonema da doutora Maria Carolina Torres (para nós, a Carol): "O juiz deu o parecer final. Saiu a guarda definitiva. Vocês vão poder fazer a certidão da Tatá".

Então, ontem, dia 27 de novembro, aos 10 anos de idade, nasceu, para a lei dos homens, a minha filha Tailane Morena Dantas Pedro. A mesma menina que já está conosco, certamente, há muitas e muitas vidas. Ela sempre foi nossa. Nós sempre fomos dela.

E essa era a música que cantávamos para nossa pequena quando íamos visitá-la no abrigo.


quarta-feira, novembro 26, 2008

segunda-feira, novembro 24, 2008

Peito aberto




Há dias escancaro as portas do peito
e, nem assim,
a poesia entrou...

Teria eu escrito alguma coisa
que a lírica dama não gostou?

Goimar Dantas
São Paulo, 23-11-08



Abaixo, uma baladinha que eu adoro. Além de ser ótima pra ressacas poéticas...


sábado, novembro 22, 2008

Adélia Prado e a poesia do dia-a-dia



Adélia Prado. Ela foi tema da minha dissertação de mestrado, ao lado de Hilda Hilst. Por conta disso, já vi Adélia algumas vezes, mas nunca é suficiente vê-la nem ouvi-la. E daqui a pouco, mais precisamente às 18h, ela estará dando palestra aqui em São Paulo, na Balada Literária que acontece desde quinta, dia 20 (ver post abaixo).

Conforme o previsto, não consegui ver nenhuma das apresentações da balada, tamanha a quantidade de trabalho que tenho por esses dias... Por conta disso, estou em casa, parindo textos por todos os poros. Boa parte deles têm de vir ao mundo na segunda-feira, devidamente robustos, corados e saudáveis. Estou fazendo o possível. E o impossível também. Uma das coisas impossíveis seria prosseguir trabalhando enquanto Adélia estará próxima daqui, discorrendo sobre poesia, religião, erotismo, cotidiano e outros temas que compõem sua obra.

Ah... O peso das responsabilidades por vezes pode nos esmagar, nos causar tremenda dor e nos fazer reféns. Mas eu resolvi não permitir que isso acontecesse e para cada duas horas trabalhadas, tiro 10 minutos pra mim. E eles são intensos. Poéticos. Como é a própria Adélia. E graças a esses minutos sagrados, hoje já fui à minha varanda ver a chuva grossa que caía lá fora e que tanto me inspira... Já fui à cozinha fazer chá de morango. Já vi três vídeos da Adélia no You Tube (é pena, são poucos vídeos... o melhor tem 10 minutos, mas, nos últimos três, alguém da platéia resolve falar e acaba com a magia que vinha inundando o lugar... alguém tinha de ter editado isso e liberado o vídeo só com Adélia falando...). Já escutei Caetano em francês... E, agora, estou escrevendo este post...

E como são quase 18h e estou muito cansada, me concederei a honra de 30 minutos de folga antes de iniciar os trabalhos noturnos. E nesse intervalo, vou atravessar a rua e ir até um charmoso restaurante que abriu aqui na frente do meu condomínio. E lá, pensarei em poesia, em Adélia e em como somos capazes de mandar a tristeza às favas sorvendo os pequenos prazeres da vida. E esse pensamento tão bem-vindo será elaborado enquanto comerei uma fatia de bolo, acompanhada por um bom café.

E viva Adélia(a quem devo parte desses aprendizados)!

quarta-feira, novembro 19, 2008

Balada literária em São Paulo



Essa foto tem uns dois anos, mas é perfeita pra ilustrar minha cara de desespero nessa fase atual de não saber se assovio ou chupo cana. Tenho pilhas de trabalho pra entregar nas próximas semanas e ando sem tempo até de me coçar. Em meio a esse turbilhão, uma amiga nos convidou pra ir para o apartamento dela, na praia, nesse feriado... Sei, não... Enquanto as crianças vão pro mar, acho que vou passar o tempo todo é me bronzeando com a palidez da luz branca desse laptop...

Ao mesmo tempo, aqui em São Paulo, acontece a ótima Balada literária, organizada pelo Marcelino Freire. Pra variar, acho difícil que eu consiga ver alguma das atrações... Fico me perguntando: por que será que meus picos de trabalho sempre coincidem com os melhores eventos literários do Brasil???? Vou te contar, viu?

Bom, pra os que estarão em São Paulo, sem muito o que fazer nesse feriado da Consciência Negra (quinta, dia 20, mas que a maioria vai emendar com a sexta), vejam aí a programação maravilhosa, que pesquei lá no blog Doidivana.

Aproveitem!


DIA 20 - QUINTA-FEIRA

11h00 - LIVRARIA DA VILA
EVA FURNARI, ÍNDIGO, LUIZ BRAS e VLADIMIR SACCHETTA conversam com TATIANA BELINKY.
Mesa de abertura em que três autores da literatura infantil e o escritor VLADIMIR SACCHETTA conversam com a homenageada da BALADA LITERÁRIA 2008, a escritora TATIANA BELINKY.
Participação especial da atriz ANA LUISA LACOMBE.

14h30 - LIVRARIA DA VILA
ALBERTO GUZIK conversa com FERNANDO BONASSI, RICARDO SILVESTRIN e SUZANA AMARAL.
O escritor e ator ALBERTO GUZIK conversa com o escritor e dramaturgo FERNANDO BONASSI, com o poeta e músico RICARDO SILVESTRIN e com a cineasta SUZANA AMARAL.

18h00 - SESC PINHEIROS
RICARDO SOARES conversa com CECÍLIA GIANNETTI, JUAN DIEGO INCARDONA e PEDRO MAIRAL.
O escritor, jornalista e diretor de TV RICARDO SOARES conversa com a escritora carioca CECÍLIA GIANNETTI e com os argentinos JUAN DIEGO INCARDONA e PEDRO MAIRAL.

21h00 - TEATRO BRINCANTE
Noite em homenagem ao Dia da Consciência Negra e ao centenário do poeta pernambucano SOLANO TRINDADE com as participações de MARIA EUGÊNIA ALMEIDA, MIRÓ, NARUNA COSTA, OLIVIA ARAÚJO, PEDRO AMÉRICO, ROSANE ALMEIDA, VALMIR JORDÃO e WILSON FREIRE.
Na ocasião, será exibido o documentário MIRÓ: POETA, PRETO, POBRE E PERIFÉRICO, dirigido por WILSON FREIRE e premiado no CINE PE 2008.

DIA 21 - SEXTA-FEIRA
11h00 - LIVRARIA DA VILA
ÁLVARO COSTA E SILVA conversa com BEATRIZ BRACHER e CRISTOVÃO TEZZA.
O jornalista ÁLVARO COSTA E SILVA, editor do caderno Idéias do Jornal do Brasil, conversa com a paulistana BEATRIZ BRACHER e o catarinense CRISTOVÃO TEZZA.

15h30 - CENTRO DA CULTURA JUDAICA

MAURÍCIO MELO JÚNIOR conversa com BERTA WALDMAN, MARIO TEIXEIRA, MOACYR SCLIAR e RONEY CYTRYNOWICZ.
O jornalista MAURÍCIO MELO JÚNIOR, apresentador do programa LEITURAS, da TV SENADO, conversa com os escritores MARIO TEIXEIRA, MOACYR SCLIAR e RONEY CYTRYNOWICZ e com a pequisadora BERTA WALDMAN, por ocasião do lançamento dos livros ABC do Mundo Judaico, de Scliar, e O GOLEM DO BOM RETIRO, de Teixeira, ambos publicados por Edições SM.

18h00 - SESC PINHEIROS
IVANA ARRUDA LEITE conversa com MENALTON BRAFF e MURILO CARVALHO.
A escritora IVANA ARRUDA LEITE conversa com o gaúcho MENALTON BRAFF e o mineiro MURILO CARVALHO, vencedor do Prêmio Leya de Literatura 2008.

21h00 - MERCEARIA SÃO PEDRO
Abertura oficial da exposição e lançamento de livro de fotografias feitas pelo carioca JOSÉ DINIZ em comemoração aos 40 anos da MERCEARIA SÃO PEDRO, um dos botecos “literários” mais badalados da cidade.

DIA 22 - SÁBADO

11h00 - LIVRARIA DA VILA
EVANDRO AFFONSO FERREIRA conversa com ALTAIR MARTINS, LUCI COLLIN e RONALDO CORREIA DE BRITO.
O escritor mineiro EVANDRO AFFONSO FERREIRA conversa com o gaúcho ALTAIR MARTINS, com a curitibana LUCI COLLIN e com o cearense RONALDO CORREIA DE BRITO.

14h30 - BIBLIOTECA ALCEU AMOROSO LIMA
FABRÍCIO CARPINEJAR e FABRÍCIO MARQUES conversam com JOMARD MUNIZ DE BRITTO e SEBASTIÃO NUNES.
O poeta gaúcho FABRÍCIO CARPINEJAR e o poeta mineiro FABRÍCIO MARQUES conversam com o poeta e agitador pernambucano JOMARD MUNIZ DE BRITTO e com o poeta e editor mineiro SEBASTIÃO NUNES.
Na ocasião, serão comemorados os 70 anos de Jomard e Sebastião - este último, acompanhado da abertura da exposição com o acervo da sua histórica EDIÇÕES DUBOLSO.

17h00 - BIBLIOTECA ALCEU AMOROSO LIMA
IVAN MARQUES conversa com ADÉLIA PRADO.
O professor da USP e crítico literário IVAN MARQUES, criador do programa Entrelinhas, da TV Cultura, conversa com uma das principais poetas brasileiras, a mineira ADÉLIA PRADO.

19h30 - BIBLIOTECA ALCEU AMOROSO LIMA
Apresentação literomusical com o poeta, ator e dramaturgo GERO CAMILO, em que ele aproveita para lançar o seu primeiro CD, “Canções de Invento”.

DIA 23 - DOMINGO
14h30 - LIVRARIA DA VILA
JOCA REINERS TERRON conversa com ANGELI, LAERTE e RAFAEL GRAMPÁ.
O escritor cuiabano JOCA REINERS TERRON conversa com os quadrinistas ANGELI, LAERTE e RAFAEL GRAMPÁ.

18h00 - CENTRO CULTURAL b_arco
CLAUDINEY FERREIRA conversa com FABIANA COZZA, FRANCISCO BOSCO e LUIZ TATIT.
O jornalista CLAUDINEY FERREIRA conversa com a cantora FABIANA COZZA, com o escritor e ensaista FRANCISCO BOSCO e com o cantor e compositor LUIZ TATIT.
Participação especial de MARCIO DEBELLIAN, um dos realizadores do documentário PALAVRA (EN) CANTADA, que discute a relação entre música e poesia no Brasil com depoimentos, entre outros, de ADRIANA CALCANHOTTO, CHICO BUARQUE, JORGE MAUTNER, LIRINHA, MARIA BETHÂNIA e o próprio LUIZ TATIT. Na ocasião, serão exibidos trechos do filme.

20h00 - ENCERRAMENTO - CENTRO CULTURAL b_arco
Show com a banda gaúcha PATA DE ELEFANTE.
Em seguida, lançamento de vários títulos, como o livro-LP NOSSA SENHORA DA PEQUENA MORTE, de CLARAH AVERBUCK. No espaço, estarão expostas as ilustrações da obra, feitas pela artista plástica EVA UVIEDO.
Haverá ainda o lançamento dos livros da EDIÇÕES K, de Curitiba.

quinta-feira, novembro 13, 2008

Concertos para a juventude





Mãe é babona mesmo, né? Então... Não seria eu a mudar essa máxima mais velha do que andar pra frente...hehe. Partindo dessa afirmação, trago até vocês uma pequena apresentação do músico aqui de casa. É meu filho Yuri, 12, que tem aulas de bateria há dois anos, uma vez por semana.

Porém, só no último mês de junho, meu superstar ganhou sua bateria eletrônica de aniversário e pôde começar a se exercitar mais entre baquetas, pratos, bumbos e afins. Olha, eu trabalho em casa, num minúsculo escritório que fica ao lado do quarto dele, mas juro de pés juntos que não me incomodo quando ele começa a tocar. Ao contrário, adoro (!) e, sempre que posso, páro uns minutos e vou até lá babar mais de perto... Esse vídeo foi feito numa dessas "paradas" em que a baba escorre. A música é "Toxicity", da banda "System of a Down".

Bem, gente... Eu sou suspeita, claro... Mas, vamos combinar: ele não é tudo de bom?
A idéia é que daqui a uns anos eu largue essa vida de operária do texto e possa acompanhá-lo em algumas turnês pelo mundo...rs! Nada mal, hein? Afinal, já fiz assessoria de imprensa pra tanta gente, por que não faria para o meu astro do rock?

Ai, ai... Quem sabe?

domingo, novembro 09, 2008

Uma potiguar na Portobello Road



A profusão de pessoas lembra à da Rua 25 de Março, em São Paulo. Entretanto, as semelhanças entre a feirinha de antiguidades londrina da Portobello Road e a principal via comercial paulista não vão muito mais além... Na terra de reis e rainhas imperam os turistas que, além de endinheirados, emprestam a Portobello um quê de Babel pós-moderna. Italianos, espanhóis, brasileiros, japoneses, franceses, indianos, coreanos, chineses e outros tantos representantes dos lugares mais diversos do planeta caminham, “parlam”, “hablam”, compram, fotografam, riem e se dividem em tribos variadas.

Ao andar naquele turbilhão, a impressão era de que eu estava vivenciando um dos típicos sonhos nonsense que nos acometem de quando em vez. E a sensação era ainda mais intensa devido à minha ânsia de captar, escutar, absorver e registrar cada detalhe (aliás, registrei com os olhos porque, como já expliquei em um post mais antiguinho, fiquei tão abobada olhando tudo que mal me lembrava de fotografar...). Essa coisa de viajar pouco faz da gente escravo dos cinco sentidos quando fora do nosso habitat. Eu, pelo menos, sou assim. Entro em parafuso pelo desejo de apreender mais do que posso no pouco tempo que geralmente tenho para andar por aí. É pena porque essas impressões não raro originam quadros difusos e desconexos – como se fossem compostos por um sem-número de pintores de escolas estéticas distintas. E, para complicar, fui cair de pára-quedas no turbilhão da Portobello apenas duas, talvez três horas depois de chegar a Londres, pela primeira vez na vida, em setembro do ano passado... Foi demais para uma tarde só.



Eu ainda estava sob o impacto da Babel anterior, vista e "ouvida" no vagão do metrô (repleto de pessoas de diversas nacionalidades tagarelando em idiomas variados) que nos levou a Holland Park, para a casa onde "Meu bem, meu 'Mau'” já estava hospedado havia dois meses. Aliás, a casa – cuja proprietária era leitora voraz – é um capítulo à parte dessa história. Por seus quatro pavimentos, não havia sequer um cômodo, canto ou vão de escada em que não houvesse livros, revistas e jornais espalhados por sobre mesas, cadeiras, estantes, prateleiras. Um deleite... Na foto acima, vemos um cantinho da cozinha, com prateleiras de livros ao fundo e revistas e jornais sobre a mesa...



Mas, voltando à Portobello Road, o que presenciei foi um misto de lindo dia de sol, músicos se apresentando nas calçadas, casas com jardins cuidadíssimos, roupas, antiguidades e lojas que atraíam pencas de profissionais e amantes da moda (na primeira loja que entrei, por exemplo, dei de cara com uma consultora de moda brasileira que tinha um quadro de dicas no Canal GNT...). O visual das pessoas era variadíssimo: meninas usando shorts com meias-calças (de todas as cores imagináveis), outras com maquiagem pesadíssima, como as protagonistas das novelas mexicanas, rapazes com look hippie-chique, outros fazendo a linha básica, com jeans e camiseta e, é claro, as mulheres do tipo perua (com as roupas de estampa de oncinha que sempre me dão engulhos).



Também havia orientais aos montes portando sobretudos e cabelos do tipo “Sim, sou moderno(a) e moro em Tokyo” e indianos com seus turbantes multicores. Por toda a extensão da rua, centenas de barracas ofereciam, ainda, comidas tão variadas quanto as nacionalidades das pessoas que transitavam por ali. Eu me rendi a uma mistura de camarão com pata de siri e, como sobremesa, tracei uma caixa inteira repleta dos morangos mais doces que já comi em toda a minha vida. De resto, me deixei levar pela viagem visual que eram as pinturas figurativas à venda nas barracas, bem como os pôsteres de astros do cinema, as echarpes de todas as cores possíveis... Adorei passar em frente à casa do escritor George Orwell, situada metros antes da profusão de feirantes, chapéus, boinas, bares com mesas lotadas, cervejas sendo cultuadas por grupos de amigos sorridentes, árabes, saias esvoaçantes, menininhas vestidas à la Sara Kay (leia-se: trajadas como as personagens do álbum de figurinhas Bem-me-quer, que eu colecionava quando criança...), tules, rendas, estampas e bolsas... Zilhões de bolsas, para a minha absoluta perdição...



Dentro da minha cabeça tudo isso virava um redemoinho de dimensões ainda desconhecidas. Era muita gente, informação, mercadoria... Pra não perder tudo aquilo, cheguei em casa e fiz anotações esparsas nas duas últimas páginas, em branco, de uma edição de "O continente", volume 2, da obra "O tempo e o vento", de Erico Veríssimo, cuja leitura eu estava para terminar. Achei perfeito anotar as impressões daquele dia inesquecível (e o conseqüente redemoinho mental que produziu em mim) em meio a um livro cuja história é, justamente, sobre os desenrolares e conseqüências trazidas pelo tempo e o vento. E falando em tempo... Este post está atrasado exatamente um ano e dois meses...

quinta-feira, novembro 06, 2008

Desejos





Eu tenho fome das noites
que ainda estão por chegar.
E certos desejos de lua
por vezes vêm me tomar.
Uns desejos prateados,
amarelados, dourados...
Desejos de cavalheiros
(desses que enfrentam dragões...)
Desejos cheios, crescentes,
que me invadem de repente
numa volúpia de loba
uivando para o luar.
Fera no alto da pedra:
cio sob o céu da selva
me tragando, me bebendo,
inundando feito o mar...
E, então, as noites vindouras
escutam, ao longe, os desejos,
uivos e desassossegos
de uma loba potiguar.

Goimar Dantas
São Paulo
31-10-08

quarta-feira, novembro 05, 2008

Irresistível




Não resisti. Acho que é a primeira vez que faço qualquer menção à política nesse blog. O fato é que a eleição de Barack Obama tomou proporções inimagináveis em todo o mundo. Milhões de pessoas nos cinco continentes estão emocionadas e esperançosas. Sedentas por renovação e mudança. Na verdade, só o futuro e a História dirão se Barack Obama realmente será um bom presidente. A situação está péssima e ele terá um trabalho hercúleo se quiser fazer ao menos um terço de tudo o que esperam dele... Ficarei torcendo para que consiga, claro. Por isso mesmo, adorei esse vídeo que pesquei lá no blog Síndrome de estocolmo. Ele nos mostra pelo menos uma coisa: Obama tem suingue, ginga, jogo de cintura... Quem sabe...

segunda-feira, novembro 03, 2008

Prêmio Jabuti



Com passos de tartaruga, esse post atrasadíssimo traz algumas imagens do evento de 50 anos do Prêmio Jabuti, comemorado na última sexta-feira, na Sala São Paulo. Nessa foto, vemos Ignácio de Loyola Brandão, emocionado e surpreso, por ter tido o seu "O menino que vendia palavras", Editora Objetiva, escolhido como Livro do Ano (o mesmo livro ficou em segundo lugar na categoria livro infantil). Brandão e a torcida do Corínthians davam como certa a vitória de Cristovão Tezza com o seu "O filho eterno", que venceu o Jabuti na categoria melhor romance. Para quem anda meio sem tempo de acompanhar o noticiário literário, Tezza faturou os mais importantes prêmios do ano até o momento: Portugal Telecom, Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Revista Bravo e o próprio Jabuti de melhor romance, claro.

Foi lindo o discurso do Ignácio de Loyola Brandão, que, aos 72 anos de idade, dedicou o prêmio às suas duas professorinhas do primário, que ainda estão vivas, beirando os 90 anos, lá em Araraquara - interior de São Paulo. Ele contou que ambas ainda o chamam de "menino".
Eu achei ótimo ele ter levado o prêmio porque sempre torço para que os livros infantis sejam mais e mais valorizados pelo mercado. Mesmo assim, quero muito ler o livro do Tezza. Estou roxa de curiosidade, mas, cadê o tempo?



O jornalista Laurentino Gomes, que faturou o prêmio de melhor livro do ano de não-ficção, pelo seu festejado "1808", publicado pela Editora Planeta. Fez um discurso ótimo, lembrando de agradecer aos historiadores, de quem bebeu na fonte para escrever seu best-seller. Disse que está felicíssimo porque as pessoas estão lendo seu livro, em vez de ler auto-ajuda. Está certíssimo. Eu também estaria dando pulos se fosse ele.




Como editor José Xavier Cortez, da Cortez Editora, escolhido pela presidente da Câmara Brasileira do Livro, Rosely Boschini, para ser saudado em nome de todos os profissionais do mercado editorial presentes na cerimônia dos cinqüenta anos do Prêmio Jabuti. Há dois meses, tenho tido a honra de desfrutar da presença constante de Cortez, uma vez que estou escrevendo sua biografia, juntamente com a historiadora Teresa Sales. Cortez merece todos os holofotes mesmo. Sua história é cinematográfica e já está sendo devidamente transformada no documentário "Semeador de Livros", de Wagner Beserra e com previsão de lançamento para 2009. Típico retirante nordestino, Cortez se tornou um dos maiores editores da Capital Paulista, tendo publicado os autores acadêmicos mais festejados do país, dentre eles, o educador Paulo Freire, para citar apenas um.




Acho a beleza da Sala São Paulo estonteante. Sempre me comove...





O ator Antonio Callone leu trechos de obras que, ao longo dos anos, foram as vencedoras na categoria Livro do Ano, dentre elas, "Quase memória", de Carlos Heitor Cony, vencedora em 1996, e o ótimo "Um passarinho me contou", de José Paulo Paes, Livro do Ano de 1997.




Miriam Cortez, chiquérrima, acima de tudo e de todos.



Potira Cortez e Potiguar, digo, Goimar Dantas.

sábado, novembro 01, 2008

Semana do livro



No dia 30, estive num bate-papo sobre minha trajetória profissional lá na Biblioteca Municipal de Cubatão, capitaneada pelo historiador Welington Borges, que está comigo nessa foto. O evento fez parte das comemorações da Semana do Livro e contou com a presença de poetas, jornalistas, escritores e músicos.

Welington é um incansável e faz um esforço danado para levar iniciativas dessa natureza até o público cubatense. Fiquei muito feliz pelo convite porque morei em Cubatão uns 20 anos e foi justamente nessa Biblioteca que dei início à minha formação humanista. Lá tive acesso a Machado de Assis, Manuel Bandeira, García Márquez, Fernando Pessoa, Guimarães Rosa, Augusto dos Anjos, Érico Verissimo, Nelson Rodrigues e tantos outros autores essenciais. Para completar, o evento me deu a oportunidade incrível de rever vários amigos queridos, muitos dos quais eu não encontrava há anos. Fiquei superemocionada com a presença deles.




Foi o caso da Monal, Relações Públicas, colunista social, mãe, avó, apresentadora de TV... Sempre me deu uma força incrível desde os tempos mais remotos. Colocava a maior fé no meu texto, a loira... Na época em que cursávamos faculdade, ela fazia seus trabalhos e sempre vinha me pedir pra revisar o texto. Totalmente desnecessário. Ela sempre mandou muito bem. Pois no dia 30, além de ela ir me ver, ainda levou chocolates de presente. Não é fofa?



Conheci Carlos Roque quando tinha 16 anos. Ele fazia arquitetura em Santos e eu cursava o antigo "colegial", também naquela cidade. Íamos às aulas utilizando o mesmo ônibus, cedido pela Prefeitura de Cubatão. Ele me agüentava cantarolando música pop o caminho todo, coitado. Quando eu não cantava, tagarelava de forma exageradamente adolescente. E ele ali, me dando ouvidos, firme, paciente como Jó. Nunca reclamou. Ao contrário: me dedicava extrema atenção. Sempre foi uma gentleman. Roque foi o primeiro e único homem com quem tomei vinho branco acompanhado de um pacote de Fandangos, aquele salgadinho da Elma Chips... Nenhum de nós se lembra bem de como fomos parar na cozinha lá de casa munidos desses produtos, digamos, tão díspares. O mais engraçado foi ver a cara da minha mãe chegando, de repente, e presenciando cena tão insólita.

Lembro como se fosse hoje dele me mostrando suas poesias e desenhos geniais. Roque é lírico do dedinho do pé até o último dreadlock. É especialista em construir casas e sonhos. Adoro.



Fiquei passada com a presença do meu amigo Gilberto Freitas lá no evento... Eu o conheço há uns 20 anos e, desde então, ele sempre trabalhou vinte mil horas por dia. É advogado lá na Prefeitura, além de ter um escritório particular também. Tem uma agenda lotada. Vive fazendo reuniões, recebendo clientes, estudando causas... Chegou só uns 10 minutos atrasado e ficou até o final do bate-papo... E eu me senti a rainha da cocada preta por isso.




Minha amiga Cléia, que cursou Tradutor Intérprete comigo no antigo "colegial" (sim, eu sou uma pessoa antiga), saiu correndo do trabalho, lá em Santos, para levar sua presença maravilhosa ao bate-papo. Gente... Fazia uns 10 anos que nós não nos víamos e eu queria era ter tempo de colocar todos esses anos de fofoca em dia com ela...




Com o poeta e dramaturgo Marcelo Ariel, autor de "Tratado dos Anjos Afogados", editora Letra Selvagem, 2008, e "Me enterrem com minha AR-15", edição Dulcinéia Catadora. Desde que comecei a freqüentar a Biblioteca de Cubatão, Ariel era presença constante, sempre falando de livros, autores, poesia, prosas... Seu último livro teve excelente acolhida da crítica e ele é, de longe, a personalidade cultural mais renomada da cidade. Fiquei toda prosa com a presença dele lá.





Acreditem ou não, eu já fiz teatro. E o Ivan da Conceição era meu colega de turma, nos idos de mil novecentos e naftalina. Deus tem nos convervado bem. Amém. Se eu tivesse competência e paciência seria atriz, mas acho tão cansativo que resolvi deixar a tentativa para a próxima encarnação. Escrever combina mais com meu jeito solitário de trabalhar. Trabalhos em grupo me dão calafrios. Se necessário eu até que trabalho, mas, realmente, não é minha preferência. E esse perfil "eu comigo mesma" não combina em nada com o teatro. Até para encenar um monólogo é preciso uma infinidade de gente nos bastidores. Pois o Ivan nasceu pra isso. Sua próxima empreitada é montar um texto da minha querida Hilda Hilst. Cabra bom, esse Ivan!

Lembro-me dele tentando me "coreografar" certa vez. Dançamos juntos num evento em Cubatão... Não tenho idéia de que evento era aquele. Sei que usei um vestido lindo e emprestado. Sei também que dançamos ao som de "Vaca profana", do Caetano. Tinha de ser com Caetano ao fundo, claro. Ivan é, antes de tudo, um santo. Explico: eu sou uma péssima dançarina. E que Deus me perdoe por tê-lo feito pagar mico ao meu lado.