quarta-feira, maio 28, 2008

Poesia Marginal



Um rei vestido de ouro,
soberano, reluzia...

Um adeus ao final do dia
despedindo-se dos mortais.

Mas nas ruas, nos sinais,
no vagão daquele trem

ninguém reparava além,
nem o via se deitar

por detrás do Rio Pinheiros,
de esgotos vis, marginais...

E para além do mundano
eu pairava noutro plano

namorando o pôr-do-sol...
Minha cabeça voando

e a beleza abençoando
o fim de tarde solar...

Na vida tudo é pintura
Paisagens, telas, molduras

basta saber olhar
com a retina da poesia

que ilumina e torna os dias
uma aventura estelar...


Goimar Dantas
São Paulo
Estação Vila Olímpia
26-05-08

segunda-feira, maio 26, 2008

Chuva no sertão

Sua lembrança resiste ao sol, ao calor, à poeira...
Aqui no sertão, a três mil quilômetros da minha civilização de caos, violência, desordem e alguns progressos,
pensar em você é receber uma rajada de vento,
uma lufada de ar,
o frescor de uma brisa revitalizante.

A música mais executada daqui é o som da sua voz...
Que insiste em reverberar dentro da minha cabeça.
Notas que dão o tom dos meus desejos e recordações.

Nem mesmo o banho frio
(essencial sob esse sol de quase 40 graus)
me anima tanto quanto a lembrança onipresente do teu olhar sobre mim.

Você sacia a sede do meu espírito.
E essa poesia brinda a sua existência...
Que é como a chuva alegrando essa terra.
A minha terra.


Goimar Dantas
22/12/2004
Japi, Sertão do Rio Grande do Norte

sexta-feira, maio 23, 2008

Saramago, Meirelles & lágrimas



Na última quarta-feira, 21, comecei meu dia fazendo tudo, religiosamente, como de costume... Levantei bem mais tarde do que gostaria, me culpei tremendamente por isso, jurei pra mim mesma que pararia de ir dormir de madrugada (faço esse juramento todos os dias e nunca cumpro), tomei café, liguei o computador e acessei o caderno Ilustrada, do jornal Folha de S. Paulo. De cara, me chamou a atenção o texto Encontro com Saramago em Cinema de Lisboa, assinado por Fernando Meirelles, diretor do filme Ensaio sobre a cegueira – longa baseado na obra homônima de Saramago. Já é notório para os que acompanham o noticiário de cultura que 80% da crítica meteu o pau no filme. Por isso mesmo, imagino o frio no estômago que o premiado diretor de Cidade de Deus e de O jardineiro fiel não estava sentido na hora de mostrar a película ao homem responsável pela história que deu origem a ela.

Pois justamente nesse texto publicado na Ilustrada o cineasta descrevia, de modo emocionante, as impressões vividas por ele quando da apresentação do filme a Saramago. Meirelles também detalha o modo como o autor português reagiu, ao final da sessão... E eu, que choro até em comercial de margarina, me acabei em lágrimas após terminar de ler o texto – comovida até a medula com toda a situação descrita... E ontem à noite, só me restou chorar ainda mais ao ver esse vídeo maravilhoso (enviado pela minha irmã), mostrando toda a cena que havia sido descrita por Meirelles no jornal ... É claro que ainda não vi o filme. Mas, pra mim, definitivamente, ele já fez história.

quinta-feira, maio 22, 2008

Luar do ser tão...


Ontem à noite eu vi
Toda a beleza da lua
Grande bola, branca, nua...
Linda dama a me saudar

Ao esperar pelo trem,
Parada, em plena Estação,
Ergui os olhos do chão
E encontrei o luar...
Pensei em Deus, nesse instante,
E agradeci, radiante
Por essa visão sem par

E a índia que ainda sou
Potiguar tão ancestral
Lembrou-se do seu quintal
(que era toda a natureza)
Aldeia a não ter mais fim
Sertão, veredas em mim!
Luares, rios, cachoeiras...

E a mística dessa cena
Escorre, lápis a fora
Nestes versos, neste agora
Nesta homenagem tão minha
A esta lua sozinha
Brilhante a iluminar

Minha vida nesta selva
Tão urbana, tão concreta!
Um horizonte de metas
Que insisto em arquitetar...

E aqui eu vou me embrenhando
Vou guerreando, caçando
Escrevendo e articulando
Sonhos grandes como o mar

Meu querer é como o mundo
Enorme, poço sem fundo
Ninguém pode me parar!

Cavo as oportunidades
Com a enxada das vontades
Pra semear amanhãs

Mas em noites como essa
Esqueço de guerrear...
Pois meu Ser Tão desabrocha
E viro moça da roça
Quando vejo esse luar...

Goimar Dantas
São Paulo
20-05-08

terça-feira, maio 20, 2008

Livros, livros à mão cheia...

Autografando junto com os professores Elisa Guimarães, organizadora da obra e dois dos autores, José Carlos Jadon e Rosário D'Agostini, no lançamento da Coletânea Texto e Discurso - Confluências, que aconteceu no Centro Histórico da Universidade Presbiteriana Mackenzie, dia 15-05-08.




Alegre até não poder mais, ao lado da maravilhosa professora Elisa Guimarães


Autografando junto com meus biografados, Cleuza Ramos e Marcos Zerbini, líderes da Associação dos Trabalhadores Sem-Terra de São Paulo, no evento de lançamento do livro "Da dignidade à oportunidade" - A história de um projeto que transforma sonhos em realidade", no Memorial da América Latina, dia 16-05-08



Sonhadores e realizadores lotaram o Memorial




Momentos inesquecíveis...




Dizendo aos convidados o quanto eu me sinto honrada em poder contar a história desse projeto...


segunda-feira, maio 19, 2008

À sombra da mangueira





(Para Zélia Gattai, a quem interpretei, aos 16 anos, no teatro da escola, na peça “Anarquistas Graças a Deus”)


Zélia, a eterna namorada
A companheira de lutas
Que lia os originais...
A musa, a mãe, a autora
A crítica, a revisora
Das palavras, criadora
Menininha dos Gattai!

Amante de Jorge, amado!
Anarquista e anjo alado
Que descansa, agora, em paz!
Sob a sombra da mangueira
Na morada derradeira
Ao lado de quem quis mais...

Goimar Dantas
São Paulo
19-05-08

Sirena





Da tua pele
quero o gosto sagrado e salgado do suor.
Tal qual barco à deriva
flutuo sem norte
sobre você.
Fecho os olhos.
Sinto o cheiro do mar
e mergulho, serena e sirena,
nas tuas profundezas...
Escuridão que ilumina meu corpo,
meu rosto,
meus olhos...
Ondas espumantes e quentes jorram de mim
e em mim.
É lua cheia lá fora,
mas aqui dentro
eu é quem estou plena.
De você.

Goimar Dantas
São Paulo
03/12/04

quinta-feira, maio 15, 2008

Encontro marcado

(Para Tatá, que faz 10 anos hoje)

Tailane Morena
(que é nada serena)
Tailane Diana dos olhos de índia
Chegou de repente
Nos trouxe sorrisos
Nos tomou de assalto
No primeiro ato!
Foi como se Deus te mandasse no vento
Foi como se a Terra girasse ao contrário
Resgate de um tempo
Resgate de nós!
Por onde tu andavas?
Com quem tu dormias?
Por que precisaste viver essa história?
Quais são teus segredos?
Quais são teus mistérios?
Por que tu te alteras na hora do sono?
Esperta,
Agitada,
Nascendo pra vida!
Será que é uma fada?
Será que é princesa?
- Não!
- É rainha do meu coração!
Teimosa,
Levada,
Menina sapeca
Que sonha acordada
Não pede atenção
Que se entrega fácil
A toda fantasia
A toda a magia
Da televisão
Que dorme até tarde
Demora no banho
Que lê concentrada e aprende a lição!
De certo compomos a mesma corrente
E nas voltas do mundo já éramos “nós”
Minha pequenina
Meu sonho encantado
Milagre
Surpresa!
A flor da estação
A coisa mais linda
Presente Divino
Encontro marcado
nesta encarnação

Goimar Dantas, que gerou Tatá no seu coração
São Paulo
08-10-06

Minimalista


Céu de poesia

Ave Maria!

Ave, mar...

Vê?


~ ~ ~

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Goimar Dantas
São Paulo
13-11-07

segunda-feira, maio 12, 2008

Uma semana, dois lançamentos



























Primeiro lançamento
No próximo dia 15 de maio, às 18h30min, no Centro Histórico da Universidade Presbiteriana Mackenzie, localizado na Rua Itambé, 45, Prédio 1, Consolação, acontecerá o evento de lançamento do livro Texto e discurso – Confluências. A coletânea, publicada pela Editora Mackenzie e organizada pela Prof.ª Dr.ª Elisa Guimarães, traz um ensaio assinado por mim, mais precisamente sobre o sagrado e o profano nas obras de Hilda Hilst e Adélia Prado.

Fiquei superfeliz em ter meu trabalho escolhido para participar deste livro, cujo objetivo geral é explorar, no âmbito da análise do discurso e das teorias do texto, os traços caracterizadores de manifestações textuais e discursivas. A abrangência dos temas é um atrativo à parte, na medida em que os nove ensaístas desvendam universos variados nas áreas de literatura, educação, publicidade, religião, política e música.

O mais interessante é que a obra pode ser vista como valiosa fonte de pesquisa não apenas para pesquisadores estudantes de Letras, Ciências da Linguagem e da Comunicação, como também para o público acadêmico de Humanidades em geral. Na época em que foram escritos os ensaios, os autores eram mestrandos no programa de Letras e Pós-Graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie e desenvolveram os temas como parte de sua dissertação. Os trabalhos foram escolhidos pelos pareceristas como os mais bem produzidos nos últimos anos. Quando soube disso, sinceramente, quase caí dura de tanta alegria... Até porque tive de estudar o dobro durante todo o curso – uma vez que eu era uma das poucas que não tinha vindo da área de Letras (minha graduação foi em Jornalismo).

Dividido em três capítulos, a obra propicia aos leitores a possibilidade de estar em sintonia com os novos tempos, na medida em que a multiplicidade lingüística – pluralidade do discurso – faz parte do nosso cotidiano. É o que ressalta a organizadora do livro, Elisa Guimarães, na introdução da obra, onde também nos lembra que o manejo adequado de conceitos fundamentais da área de estudos do texto e do discurso contribui sobremaneira para a organização do pensamento.

Você é meu convidado!

TEXTO E DISCURSO: CONFLUÊNCIAS
Organização Elisa Guimarães
Editora Mackenzie
Lançamento: Centro Histórico Mackenzie


Segundo lançamento

Na próxima sexta-feira, dia 16 de maio, o auditório Simón Bolívar, no Memorial da América Latina, em São Paulo, será palco de um evento inesquecível para as mais de 100 mil pessoas ligadas à bem-sucedida Associação dos Trabalhadores Sem-Terra de São Paulo, capitaneada pela líder comunitária Cleuza Ramos e pelo deputado estadual (PSDB-SP) Marcos Zerbini. Na ocasião, será lançado o livro Da dignidade à oportunidade – A História de um projeto que transforma sonhos em realidade, de minha autoria. A obra relata os 20 anos de história da Associação, que, diferentemente do MST, promove e viabiliza habitação especificamente em meio urbano.

Por retratar a trajetória da Entidade, o livro contribui, também, para pesquisas e estudos de lideranças sociais, professores, estudantes, profissionais do Terceiro Setor e demais interessados em conhecer a metodologia de trabalho do grupo liderado por Cleuza e Marcos. O casal, que iniciou suas experiências com moradia nas Comunidades Eclesiais de Base, nos anos 80, se orgulha de propiciar aos associados muito mais do que a aquisição das casas próprias localizadas nas 25 áreas já adquiridas pela Associação em diversas regiões da cidade de São Paulo. Graças aos convênios e parcerias com inúmeras instituições públicas e privadas, a Entidade possibilita aos seus membros mais de 20 mil bolsas de estudo de ensino universitário, convênio médico, cursos de inglês, aulas de música clássica e popular, alfabetização, ginástica, ambulatórios, farmácia comunitária e outras iniciativas que garantem educação, cultura, saúde, bem-estar e lazer à população das áreas.

Realizações que tornam a Associação reconhecida no Brasil e no exterior como um exemplo de projeto social marcado pela criatividade e, sobretudo, pelo gerenciamento competente de suas ações. Prova disso é que Cleuza e Marcos são convidados a proferir palestras apresentando sua história e seus métodos de atuação para lideranças sociais mundiais em eventos importantes. É o caso do Meeting de Rímini, na Itália, o maior Festival de Verão Europeu, que reúne cerca de 700 mil pessoas a cada edição.

Espero você lá!


Livro: Da dignidade à oportunidade – A História de um projeto que transforma sonhos em realidade
Editora Gente
Lançamento: Sexta-feira, 16 de maio de 2008, às 19h.
Onde: Memorial da América Latina
Auditório Simón Bolívar
Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda.
São Paulo – SP

sábado, maio 10, 2008

Quereres





(Hoje assisti um clip musical - postado logo abaixo - que me impressionou muito visualmente. Além disso, a letra da música discorre sobre o tempo, a passagem sucessiva das estações, da semelhança das mulheres com a natureza... Afinal, podemos, num só dia, mesclar o calor do Verão com a angústia e a melancolia associadas ao frio do Inverno. Da mesma forma, derramamos lágrimas aos milhares durante a vida – em quantidade semelhante às folhas de Outono que caem, inevitavelmente, pelas calçadas... Mas também temos infinita habilidade para florescer, primaveris, num ciclo contínuo de amores, desejos, sonhos... Queremos muita coisa... Mas, nem sempre sabemos quando ou como... Achei que esse contexto tinha semelhanças com um dos meus poemas, que estava pela metade há tempos, e que concluí agora há pouco – muitíssimo influenciada pela música intitulada “Fleur de saison”, da linda Emilie Simon).



Eu quero um tempo pra escrever poemas
Para ver o sol em meio às invernadas
Pra desvendar os mistérios da vida
Pra ver a luz que está no fim da estrada
Uma paixão que lembre ferro em brasa
Que queime o corpo e entre noite adentro
Que inspire versos, cantares, tormentos
Que seja bruta e capaz de alterar
O meu caminho e a direção dos ventos
Que lembre a força das quatro estações
Sol de verão, sépia de outono,
frio na espinha, flores no ar!
Que traga risos e febres e fogos
Desejo ardente pelo vão do olhar...
Centro da terra, lava, atração
Magnetismo,
Explosão,
Vulcão!
Quero ser fada, floresta, prisão
Uma semente
Uma concepção...
Pra dar à luz
E iluminar
Todos os passos do meu caminhar.

Goimar Dantas
São Paulo
10-05-08





quarta-feira, maio 07, 2008

Esboço


Nesse céu de outono
Nesse fim de tarde
Poente é pintura...
Tela que emoldura
A minha janela

Lá fora – beleza
Mas cá dentro – tristeza
Por não ter aquele
Que um dia virá

E então essa tela
(da minha janela)
Paisagem só minha
Tão particular...

Será nossa obra-prima
Arte consagrada
Beatificada
Pelo Deus-pintor
Esse Grande artista
Clássico e vanguardista
Ousado e purista
Um especialista!
O melhor retratista
Para o tema amor...


Goimar Dantas
São Paulo
Em 07-05-2008

domingo, maio 04, 2008

A lua e o mar (versão 2)*


(*A saga da Lua e do Mar é um tema recorrente em minha poesia. Publiquei a primeira versão dessa história neste blog, no mês de março de 2008).


O poeta da noite pediu pra eu olhar
A lua altaneira no céu a brilhar
Olhei, refleti e me pus a pensar:
“Que triste essa lua, sozinha, sem mar”.

É pena o destino insistir em negar
O encontro da deusa de branco e seu par.
De certo seriam os mais belos amantes,
Deixando a história do mundo distante.

Num ritmo próprio, bem desconcertante,
Vibrando em acordes agudos, cortantes,
Seriam uma espécie de música nova
Composta de versos, reversos e prosas.

Mas tal qual os grandes relatos de amor,
Desafios diversos a dupla encontrou.
Pois a lua vivia num mundo frustrante
Num reino cercado por grades gigantes...

E o mar, ao contrário, era tão libertário
Seguia os impulsos, amava os corsários
Um dia chegava, invadia, inundava.
No outro? Mistério! Sereno ficava...

Vivia repleto de pérolas várias,
Atraía piratas de capas e espadas
Chamava para dentro de si as sereias
E ainda beijava na praia, a areia...

É primo do sol, da terra, do vento
(mistura mais bela dos quatro elementos!)
É berço e é palco de heróis, viajantes,
Dos aventureiros de vidas errantes

Convida, faceiro, pra um banho salgado
Princesas morenas de corpo delgado,
Com vagas nuances da cor do pecado
Sereias urbanas de canto versado.

E bem lá de cima, a Lua, coitada,
Observa tudo, chorando, calada...
Mudando de fase, alterando a maré
Nervosa se apega ao místico, à fé...

Mais perto de Deus ela sente vontade,
De chamar por Ele e pedir: “Piedade!
Me joga, me lança no fundo do mar.
Não me deixe sozinha, no céu, a brilhar.

De que me adianta ser bela e brilhante
Se tenho um amor que vive distante?
Meu Deus, eu suplico: Me atire no mar,
Nos braços daquele com quem sonho estar!

Não quero mais céu, espaço, cometa.
Não quero astronauta, estrela, planeta!
Eu quero é sentir o abraço do mar
Me entregar às ondas até naufragar

Num abraço abrangente, intenso, feroz
Abraço molhado – retrato de nós!”

Goimar Dantas
São Paulo
18/08/05