terça-feira, maio 26, 2009

Plantão Potiguar Informa


João Moreira Salles fala sobre documentário no Curso Abril de Jornalismo

• Ontem terminei o curso de documentário lá na Casa do Saber. A última aula, com duração de três horas, não poderia ter sido melhor. O professor convidado foi ninguém menos do que o documentarista João Moreira Salles. Gostaria muito de ter tempo de escrever horas sobre essa aula espetacular, mas, a essa altura do campeonato, está impossível. Porém, tenho alguns minutos pra dizer que, ao lado de Eduardo Coutinho, João é considerado um dos melhores documentaristas do Brasil e, ontem, foi possível que nós, alunos, entendêssemos como esse cineasta trilhou seu caminho, o que observou, o que leu, de que maneira foi melhorando ao longo do tempo. Da mesma forma que Eduardo Coutinho havia feito na primeira aula do curso, João se mostrou absolutamente sincero e generoso, partilhando conosco suas experiências, o por quê de algumas escolhas em relação a temas, personagens, situações, técnicas e trilhas sonoras utilizadas em filmes e séries como “América”, dirigida por ele aos 23 anos, para a TV Manchete; “Notícias de uma guerra particular”; “Vale”; “Santa Cruz”; “Nelson Freire”; “Entreatos” e “Santiago”. No vídeo acima, você tem uma ótima palhinha contendo um resumo de como João pensa e produz seus documentários.


Acima, minha mais recente "produção" fotográfica. A ideia era ressaltar o tom memorialista do livro da Ecléa Bosi e, para isso, espalhei sobre a mesa da sala dezenas de cartas que recebi de amigos durante a adolescência. Eu adorava escrever e recebê-las e, por isso, ainda guardo boa parte delas.

• Já no domingo, conclui a maravilhosa leitura de Memória e Sociedade – Lembranças de Velhos, de Ecléa Bosi (Companhia das Letras, 2007, 484 páginas). Desde o começo do ano só tenho lido biografias, livros técnicos sobre esse tema ou ensaios, estudos e obras relativas à preservação da memória. Nesse contexto, os livros de Ecléa Bosi foram fundamentais para minhas pesquisas de trabalho. Aprendi muitíssimo sobre a importância da reconstituição da biografia individual para o entendimento não só das relações e histórias familiares, mas do contexto social, como um todo. A obra, publicada em 1979, é resultado da tese de pós-doutorado de Ecléa, na USP. Em meados dos anos 70, a autora entrevistou e reconstitui de forma magnífica a vida de oito paulistanos com idade próxima aos 80 anos. Os personagens vivenciaram os fatos mais marcantes da São Paulo do século XX: a pobreza e a exploração absurda dos imigrantes e migrantes que chegavam à metrópole; o amor pela ópera e pelo teatro; a Primeira Guerra Mundial; a gripe espanhola; diversas doenças provenientes da ausência de saneamento e vacinas; a Revolução Tenentista; a Semana de 22; a Revolução de 32; a Coluna Prestes, as greves e reivindicações operárias; o anarquismo; o getulismo; a Segunda Guerra Mundial; o governo Jânio Quadros; o governo João Goulart; e, finalmente, a ditadura. Trata-se de um recorte amplo e riquíssimo. Por dias, mergulhei numa São Paulo ainda mais incrível, vista pelos olhos daqueles que vivenciaram seu crescimento vertiginoso, bem como suas dificuldades gigantescas. O mais interessante é o fato de o viés histórico-social do texto ganhar forma graças às experiências, dramas, memórias, dores, amores e lembranças pessoais as mais diversas. Impossível não sorrir, sofrer e se emocionar com a vida revivida das personagens Alice, Amadeu, Ariosto, Abel, Antônio, Jovina, Brites e Risoleta. Foi como ler oito romances num só livro. Recomendo vivamente!


A fofa da minha afilhada Lara, em mais um momento: "Comigo ninguém pode".

• Sábado fomos ao tradicional bairro do Bexiga comemorar os oito anos da minha afilhada Lara, filha do meu queridíssimo tio Damião. Lara é uma figura e, depois do meu filho Yuri, é a criança mais sapeca que já conheci na vida. Estou certa de que ela e Yuri são irmãos de alma. Sobre o passeio: estacionamos o carro no Centro próximo ao Bexiga, onde mora meu tio, e fomos andando até a ótima Cantina Capuano, que funciona – de maneira ininterrupta – desde 1907. Adorei o clima aconchegante e bem "família" do lugar, lotado de italianos cantando a plenos pulmões. Além disso, a comida era deliciosa e o vinho da casa... Bem esse era tão doce que parecia suco de uva (do jeitinho que eu gosto, diga-se). Tomei dois goles, que é o máximo a que me permito, para o bem da humanidade. Mais do que isso e eu começo a declamar poemas simbolistas... Portanto, em ocasiões festivas, melhor evitar, né? :)


José Olympio: o editor e sua Casa.

• Tenho paixão por biografias e elas são, de fato, mais necessárias do que nunca neste momento em que me dedico a escrever uma. Confesso, porém, que estou com uma saudade danada de ler poesias e de mergulhar de cabeça na leitura de um bom romance. Puxa, como eu sinto falta... Mas tem nada, não.. Vou aproveitar uma viagem, nos próximos dias, para me dedicar a isso. Até porque preciso de um respiro antes de iniciar a leitura da fenomenal biografia que ganhei essa semana: “José Olympio – o editor e sua casa” (Organização: José Mario Pereira, Editora Sextante, 2008, 425 páginas). A obra é uma verdadeira cachaça pra quem, como eu, se interessa pelo mundo dos livros, pelo mercado editorial, pelos bastidores das edições históricas publicadas pela Editora José Olympio. Repleto de fotos, reproduções de capas famosas, cartas e bilhetes de autores como Cecília Meireles, Drummond e Guimarães Rosa, o livro é obrigatório para os amantes da literatura nacional. Depois conto mais sobre ele por aqui!

A qualquer momento, novas notícias, crônicas e declarações de amor. :)

sexta-feira, maio 22, 2009

Zé Rodrix



Dentre todas as músicas do Zé Rodrix, essa aí de cima é a minha preferida. Acho genial. Hoje, ela é também a minha singela homenagem a ele, que nos deixou nesta madrugada.

quinta-feira, maio 21, 2009

Fato verídico




Dia desses fui buscar minha filha na escola. Era final de tarde, por volta das 18h. Coloquei uma roupinha básica de ginástica porque, em seguida, eu iria direto para aula de yoga. Meus cabelos estavam soltos e despretensiosos, daquele jeito que não vê secador há dias. Na boca, um batonzinho chinfrim, comprado numa promoção tipo “leve três e pague dois”. No pé, meu único e velho tênis, uma vez que minha filha, que já calça o mesmo número que eu, se apropriou do meu outro par por uso capião, há uns seis meses. E foi desse jeito, despreparada e indefesa, que deparei com “ele”.

Dei de cara com o sujeito, ali, na calçada... Um arrepio percorreu meu corpo de ponta a ponta, instantaneamente. É sempre assim... Ao menor sinal de aproximação, fico trêmula, tesa, quase em estado de choque. Mas, naquele fim de tarde, quis dar uma de difícil. Então, respirei fundo e continuei andando, como se nada de diferente estivesse acontecendo.

Não olhei pra trás. E também nem precisava. Dava pra sentir sua presença marcante quase colada às minhas costas. Talvez fosse imaginação, mas juro que cheguei a sentir seu hálito de hortelã em meu pescoço – espécie de portal por onde entram sensações que tanto podem me salvar quanto condenar.

Tentei me desvencilhar: apertei o passo, ensaiei uma corrida, disparei pela rua. Em vão... Fugir era bobagem. Ele sempre me alcançava, independentemente de onde eu estivesse. Eu já tentara escapar outras vezes, mas o máximo que consegui foram quatro meses de distância. Parecia que, de alguma forma, eu estava condenada à sua presença e a todos os dramas decorrentes dela. Bastava alguém me dizer que ele estava por chegar para que eu ficasse física e psicologicamente alterada: sensação de impotência, medo de enfrentar a vida lá fora e uma certa prostração crônica que me fazia querer voltar ao útero materno. Pode soar exagerado, mas, de fato, ele tinha esse poder sobre mim. Era visível, não adiantava negar. Por isso, naquele final de tarde, por mais que eu tentasse desprezá-lo, terminei sucumbindo.

Ao chegar à escola, com aparência transtornada, a inspetora de alunos, sempre tão simpática, me encarou com ar de espanto – até porque eu emitia sinais evidentes do que acontecera: pelos eriçados, lábios trêmulos, respiração ofegante... A mulher não se conteve e perguntou: “- Minha filha, o que é isso?”

Só me restou tentar justificar: “Ai, Dona Valéria, é que eu não posso com o frio, sabe?? Ainda mais quando chega assim, sem avisar, me pegando de jeito, desprevenida, no meio da rua... Nem vesti um agasalho, olha só como estão os pelos dos meus braços... Tô quase congelando, toda arrepiada... Aposto que minha boca já está roxa”.

A mulher meneou a cabeça, quase não acreditando no que ouvia. Inconformada, rebateu: “Mas nem está tanto frio assim... É só um ventinho de final de tarde, típico do outono em São Paulo. Eu acho até gostoso, sabia?”.

Devolvi: “Ihhh, Dona Valéria... Mas, pra quem nasceu no sertão, qualquer vinte graus é neve... Quando tá ventando em Santa Catarina, eu já tô me cobrindo aqui”.

No caminho de volta, rendida, entregue e desarmada, dei início ao meu legítimo espetáculo de submissão a “ele”: cruzei os braços e, cabisbaixa, fui pra casa, batendo os dentes.

 Djavan - Um dia frio


Goimar Dantas
São Paulo
Outono/2009

sexta-feira, maio 15, 2009

Coisa mais linda...


Tatá na Fundação Casa de Jorge Amado, em Salvador.


Minha Tatá Cravo e Canela está fazendo 11 anos hoje. Uma data que simboliza, ao lado do nascimento do Yuri, o maior presente que já recebemos. Ao olhar para ela, mal dá pra acreditar no que vemos... Aquela menina pequenina por quem nos apaixonamos à primeira vista se transformou em uma moça linda, altiva, inteligente, encantadora, senhora de si.

Como uma das personagens de Jorge Amado, nossa baiana de Ilhéus tem gingado, tem força, tem garra e aquele jeito maroto e matreiro que enfeitiça a todos. Quando Tailane Morena passa, tudo o mais se enche de graça, como se fosse uma canção de Tom e Vinícius...

Tem os olhos mais expressivos de que já tive notícia e um sorriso que desnorteia, entonteia, enlouquece... Nossa Tatá Cravo e Canela veio pra nos mostrar que o amor está para além das convenções, dos laços de sangue, das burocracias, dos obstáculos de toda a natureza. Com ela aprendemos que o amor é, sim, aquele sentimento transformador e potente, capaz de mover montanhas.


Tatá nos mostrando seu sorriso mais lindo, ao lado do meu bem, meu "Mau".


Tatá veio para nos ensinar que somos mais fortes do que jamais imaginávamos ser, veio para nos dizer que não há fronteira nem limites capazes de separar os que estão predestinados a compor a mesma história nesse transe terrestre.

Tatá é nossa fé, nossa crença, nossa religião. É touro com a ascendente em escorpião (!). É a certeza de que realmente existe muito mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia.

 Cássia Eller - As coisas tão mais lindas

quinta-feira, maio 14, 2009

Recuerdos




Aos 19 anos, quando cursava a faculdade de jornalismo, em Santos, tive a sorte de ter aula de filosofia com o professor e escultor Daniel Leandro Gonzalez, filho do ator e também escultor Serafim Gonzalez, morto em 2007. Daniel conduzia as aulas de uma maneira muito sensível e competente. Não possuía didática, mas sobrava paixão pelo tema - qualidade que verdadeiramente importa em sala de aula.

Ao ouvi-lo, a gente tinha a impressão de estar numa espécie de jornada peripatética, guiados por um Aristóteles contemporâneo que abria mão das túnicas gregas em detrimento de calças brancas e camisas amarelas (é sempre assim que me lembro dele, talvez porque eu guarde fotografias em que Daniel está trajando tais indumentárias).

Ele explicava os pré-socráticos lançando sobre a classe um olhar penetrante e ambíguo que parecia mesclar o tudo e o nada – extremos tão filosóficos quanto paradoxais. O que Daniel dizia soava sempre como algo importante e definitivo e, nesse contexto, só me restava anotar compulsivamente cada uma de suas frases, como se fossem verdades absolutas. Não sei se eram mesmo tudo isso, mas é uma delícia escavar a memória e trazer à tona minha atenção incomensurável e admirada. O curioso é que nunca mais consegui me interessar de forma amorosa pela Filosofia. Sempre leio por obrigação, para complementar/fundamentar temas e pesquisas literárias.

A filosofia de Daniel caminhava de mãos dadas com seu amor pelas artes plásticas e, a cada semana, ele escorregava pela argila imaginária de suas ideias, moldando nossas aulas com o mesmo requinte que até hoje empresta às suas esculturas – espalhadas em hotéis, shoppings, jardins, centros de convenção e outros lugares de destaque na cidade de Santos.

Mas eu não era a única a achá-lo o máximo. Prova disso é que o professor se transformou em uma grande influência para Rogério, meu melhor amigo, que, conforme já contei aqui no blog, perdeu a vida num assalto, aos 20, apenas um ano após descobrir seu amor pela Filosofia. Em pouco tempo, Rogério esbanjava conhecimento na área, enquanto eu continuava tentando entender os pré-socráticos.

Daniel era sensibilíssimo e, certa vez, nos falou de seu amor pelo compositor argentino Astor Piazzolla. Lembro de que ele disse algo como: “Piazzolla, pra mim, é sinônimo de música. Não há nada que me toque mais do que ele”. Achei aquilo tão forte, tão bonito... Ao mesmo tempo, me senti péssima porque, até então, eu não conhecia o maravilhoso autor de Libertango. Por isso, logo que pude comprei um CD do mestre portenho e bastaram três acordes de seu bandoneon para que eu me apaixonasse completamente.


"O anjo", quadro que comprei da artista Mara Gonzalez, mãe de Daniel.


Anos depois, já casada e com filho, conheci os pais de Daniel e tive a honra de comprar um quadro de sua mãe, a também artista plástica Mara Gonzalez. O quadro se chama “O anjo” e é meu xodó aqui em casa. Segundo Mara, o Anjo retratado na tela está disfarçado de ser humano e vive andando aí pelas ruas, protegendo as pessoas. Não raro, eu associo o anjo a Daniel, a Rogério e também a Diego, um amigo cuja semelhança física com o rapaz do quadro é espantosa. E para além disso, Diego exerce, na vida, o papel de anjo, na medida em que sua missão na Terra é, desde sempre, ajudar as pessoas.

Hoje me deu saudade de Daniel e também daquele tempo distante em que eu me sentia uma estudante cheia de sonhos, habilmente conduzida por mestres aristotélicos e apaixonados. Só resta, como diz o poema de Manuel Bandeira, tocar um tango argentino.

terça-feira, maio 12, 2009

Coletivo Potiguar



E dando continuidade à temática da fotografia, assunto preferido dos últimos dias e posts, gostaria de indicar a exposição fotográfica Coletivo Potiguar. Como o próprio nome deixa claro, trata-se de uma exposição coletiva contendo trabalhos de fotógrafos potiguares ou que se dedicam a arte de retratar a região. São eles: Erik van der Weidje, Hugo Macedo, Jean Lopes, Karen Montenegro, Max Pereira, Nuno Rama, Pablo Pinheiro, Ricardo Junqueira e Zé Frota.

Ainda não fui à exposição, que segue até 14 de junho na Caixa Cultural, em São Paulo, mas já pude conferir algumas fotos lindíssimas por meio de matérias publicadas em sites. Com a cara de pau que me é peculiar, já adicionei um dos fotógrafos do Coletivo, o Jean Lopes, aos meus contatos no Flickr. Jean é um artista de extrema sensibilidade e estou totalmente “in love” pelo trabalho do moço, que você pode conferir clicando aqui.

Abaixo, reproduzo a matéria do UOL sobre o Coletivo.

30/4/2009 11:01:00


Coletivo Potiguar


Coletiva, em São Paulo, reune nove fotógrafos

Da Redação

A fotografia potiguar faz da Caixa Cultural a sua casa de 1º de maio a 14 de junho. Durante este período, o espaço cultural da Praça da Sé, em São Paulo, exporá Fotografia Contemporânea Potiguar – Imagens da esquina do Brasil. A mostra reúne nove fotógrafos, nem todos filhos do Rio Grande do Norte, mas todos com a produção relacionada de alguma forma ao estado. A curadoria e pesquisa são de Ricardo Junqueira, fotógrafo brasiliense que vive em Natal (RN) desde 1996 e também participa da coletiva.

Imagens da esquina do Brasil tem um caráter didático. Pretende refletir sobre a recente produção autoral potiguar e sua contribuição no contexto da arte visual contemporânea. Espera também colocar essa produção no cenário da fotografia nacional e internacional. Para isso, o projeto prevê também a produção de um livro, de um CD-ROM e de material educativo, para serem distribuídos entre curadores, colecionadores, museus, escolas, bibliotecas públicas e outras instituições.

A exposição terá em torno de cem imagens, abrangendo um período que recua até o ano 2000. Participam, além de Junqueira, os fotógrafos Jean Lopes, potiguar de Assu, o paraibano Numo Rama, o paulista José Frota, a alagoana Karen Montenegro, atualmente vivendo no Rio de Janeiro, o holandês Erik van der Weijde, o paulista Pablo Pinheiro e os potiguares Max Pereira, professor de fotografia no Senac e Hugo Macedo.

Fotografia Contemporânea Potiguar Imagens da esquina do Brasil
Onde: Caixa Cultural
End.: Praça da Sé, 111, Centro – SP
Período: de 1/05 a 14/06
Entrada franca

domingo, maio 10, 2009

Traições e tentações


Essa foto, intitulada "Rei dos reis", tirei lá no Cemitério de Santa Rita do Sapucaí. Achei perfeita pra ilustrar esse post.

Ando traindo a escrita com dúzias de imagens e, vitimada por séculos de cultura judaico-cristã, que me precedem a despeito de eu desejar esse peso em minhas costas, sinto-me culpada. Mas, ao mesmo tempo em que carrego a culpa, lembro de uma frase safadinha do ótimo Oscar Wilde, impressa em uma de minhas agendas de juventude. A danada dizia assim: “Eu resisto a tudo, menos às tentações”. HAHA. Não é redentora essa frase? Não parece que ela nos diz "Segura na minha mão, e vai?". Eu fui. E tô achando ótimo (mesmo com a culpa a tiracolo).

A verdade é que estou num processo cansativo de transcrição de entrevistas para a biografia que estou escrevendo e, quando me dou conta, minha energia pra escrever poemas ou crônicas foi pra casa do chapéu. Daí eu paro tudo e vou bisbilhotar sites de fotografia. Fico horas babando, quase que literalmente, em álbuns de fotógrafos profissionais ou amadores, muitos deles maravilhosos, que tenho achado lá no Flickr.

Cada vez mais, vou descobrindo um novo mundo de possibilidades e um prazer renovador nessa mania de sair por aí fotografando. Como eu já disse aqui antes, a fotografia é um hobby recente e, como tal, tem a capacidade de trazer aquele frescor adolescente para meus dias já tão balzaquianos. E, vamos combinar que é delicioso sentir aromas juvenis sob o nariz da gente, né, não? Eu tava precisando. Muito.

quinta-feira, maio 07, 2009

Notívaga


Olha o charme desse prédio da Barão de Itapetininga... No detalhe do pôster, o poema "Quando eu morrer", lindo, do Mário de Andrade - verdadeira declaração de amor a São Paulo. Todas as fotos foram captadas no sábado, dia 02, durante a Virada Cultural.

Segue o poema do Mário:


Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.


"Alguma coisa acontece no meu coração" quando passo em frente ao Teatro Municipal.




Eu amo o prédio antigo onde hoje funciona o Shopping Light. Antes, era a sede da Companhia Light and Power. Não estava particularmente lindo nesta noite?




Vista da Avenida 23 de Maio. Há dois dias, precisei voltar ao Centro e aproveitei pra fazer fotos em PB e em cores, desse mesmo lugar, mas à luz do dia. Qualquer hora posto aqui, juntamente com as minhas outras fotos "diurnas" do Centro da Cidade, saudade!

segunda-feira, maio 04, 2009

Mimo para Tatá



Minha amiga Cássia, do blog Sobre meus amores, está se especializando em fazer lindas páginas de scrapbook, uma técnica artesanal que utiliza papéis coloridos e acessórios como botões, fitas e retalhos para fazer álbuns de fotografias lindíssimos! Dia desses, ela viu uma foto que fiz da Tatá, em preto e branco, e adorou! Pediu que eu enviasse para ela, de modo que pudesse produzir uma página de scrap. O resultado é essa graciosidade que ilustra esse post. No seu blog, Cássia oferece os detalhes do processo.

Cássia, minha flor, mais uma vez, obrigada!!!

Abaixo, a foto que deu origem ao mimo. Foi tirada em Santa Rita do Sapucaí, enquanto Tatá descansava sobre um banco de madeira, no quintal da Vó Elza.

Cinema em cena



Tô fazendo o curso Visões do documentário, lá na Casa do Saber. A primeira aula foi com Eduardo Coutinho, que é, na opinião dessa humilde cabocla que vos fala, um dos cineastas mais importantes do Brasil contemporâneo. Coutinho é autor de documentários geniais como Edifício Master, Babilônia, Jogo de Cena, Santo Forte e Boca de Lixo, sem falar do mítico Cabra marcado pra morrer, que eu, vergonhosamente, ainda não vi. A aula foi excelente, infinitamente superior ao que eu já esperava. Assistimos trechos de vários trabalhos dele e, na sequência, Coutinho comentava tudo com riqueza de detalhes. “Eu fiz assim por causa disso/Fiz assado porque queria demonstrar aquilo” etc, etc.

Para além disso, Coutinho foi homem com agá, a ponto de expor suas fraquezas, medos, fragilidades e defeitos. Coisas como: “Eu sou um cara muito desorganizado”, “Perdi o controle do filme”, “Não sabia como terminar”, “Quando eu vi, tinha um monstro de quatro horas na minha frente e não tinha a vaga ideia de como transformar aquilo em filme. Só me restou pedir ajuda ao João (Moreira Salles) e ele me socorreu divinamente”.

Fiquei de cara. Eu acho tão lindo quando a pessoa se desnuda dessa forma na frente de um bando de gente desconhecida... Imediatamente, se estabelece uma relação fraternal, íntima, uma conexão que nos põe, de fato, no mesmo barco. É claro que todo mundo tem medos e inseguranças, mas quando pessoas que admiramos confessam que sentem o mesmo (e com freqüência!), isso se transforma num incentivo e tanto.

Já a segunda aula, com o documentarista Carlos Nader, foi realmente uma surpresa porque eu nunca tinha assistido nada dele (apesar de querer muito ter visto Pan-cinema permanente, documentário sobre o poeta Waly Salomão, primeiro lugar no festival É tudo verdade, 2008). Documentários sobre poetas sempre têm lugar cativo no meu coração potiguar, mas, no final do ano passado, eu tava trabalhando feito uma mula e não tive tempo de conferir o filme no cinema. Voltando à aula, fiquei incomodada com os primeiros filmes dele, todos com uma levada experimental demais para o meu gosto. Achei interessante conhecer, mas não é, definitivamente, minha praia.

Porém, os dois últimos trabalhos do Nader me ganharam, principalmente o que vi de Pan-cinema permanente, que vou conferir na íntegra assim que sair em DVD. Aliás, nesse filme, há uma das cenas mais bonitas que já passaram por esses olhos que a terra não há de comer (porque eu já sou doadora há anos). Trata-se de uma tomada linda que apresenta uma moça dançando ao som de uma música árabe, à frente do Waly Salomão. Na metade da cena, Nader substitui a música pela canção Vapor Barato, de autoria do Waly. Enquanto isso, a moça continua lá, serpenteando.

Fiquei arrepiada e enchi os olhos d’água durante a projeção. Aliás, estou cada vez mais emotiva. Começo a achar que tenho de andar com caixa de lenço de papel na bolsa, forever. No trailer postado acima tem um trechinho dessa cena, mas, infelizmente, é muito pequeno para dar a dimensão exata do seu impacto. No mais, Nader se mostrou uma figura genial e muito doce. Durante a aula, declamou Fernando Pessoa e leu trechos do último volume de Em busca do tempo perdido, de Proust, pra gente. Fofo até a medula.

Estou muito animada com o curso. Pena que é curtinho e só teremos mais três aulas. Muito pouco pro tamanho da minha sede...

sábado, maio 02, 2009

Haikai da liberdade



E porque se dá ao luxo de ter plumas,
o pássaro pode planar pleno...
E sem planos.

Goimar Dantas
São Paulo,
01-05-09

sexta-feira, maio 01, 2009

A féria do feriado



Hoje fomos ao Masp ver a exposição do Vik Muniz. Eu tava “doente” pra conferir os trabalhos desse artista plástico brasileiro que é, na minha opinião, um dos mais criativos do mundo. Aconselho vivamente para todo mundo que respira. Imperdível. Mesmo. Pra saber mais sobre a obra do Vik, clique aqui.



E como eu vivo matando dois coelhos com uma cajadada só, aproveitei a ida à Paulista pra fazer várias fotos, abusando do preto e branco. Adorei clicar esse "Menino que não é do Rio", radicalizando no calçadão.



Outra coisa que adoro é clicar pessoas que também estão fotografando ou filmando. E não é que hoje, lá na Paulista, eu topei com um fotógrafo que tem a mesma mania que eu?? Não deu outra, nos clicamos à primeira vista (heheheh). Não ficou legal? Você pode ampliar as imagens clicando sobre cada uma das fotos que insiro aqui no blog. Se quiser, também pode conferir outras cenas do meu roteiro de hoje, pela Paulista, na minha página do Flickr. Também lá, basta clicar sobre as fotos para ampliá-las. O caminho para minha página está aqui. Por enquanto só coloquei algumas. Nos próximos dias vou inserindo as demais. Essa dos "cliques à primeira vista", por exemplo, ainda não tá lá.



Mas o melhor é que o final de semana ainda promete. E muito. Amanhã começa a Virada Cultural. Centenas de atrações tomam conta da cidade de São Paulo das 18h de sábado às 18h de domingo. Tenho paixão por esse evento. Milhares de pessoas, de todas as tribos possíveis, transitam pelas ruas do Centro, bairro onde se concentram as atrações mais interessantes. Para mim é um deleite em dose dupla porque além dos espetáculos de dança, música, teatro, performances etc, posso aproveitar pra rever os prédios históricos da cidade, que eu AMO. De quebra, a gente sente aquela energia indescritível que só uma boa overdose de arte propicia. Acima, uma foto que fiz na Virada Cultural do ano passado, no palco "Canja", onde predominava música instrumental (Blues, na maioria das vezes).

E por falar na Virada de 2008, achei tudo impecável: pontualidade dos shows, sinalizações, policiamento. Vou torcer pra organização caprichar este ano novamente. A muvuca faz parte, não tem jeito. A única tristeza: impossível conseguir entrar nos shows do Teatro Municipal, a não ser que a pessoa não se importante em passar horas preciosas na fila - coisa que, definitivamente, não é comigo. Até porque há dezenas de outras atrações maravilhosas nas proximidades e eu opto por elas. Consulte a programação da Virada 2009 clicando aqui.