terça-feira, outubro 26, 2010

Ourivesaria

Para meu pai, Pedro Dantas, que faria 66 anos hoje.

Pedro:
pedra rara.
Dia a dia lapidada
para ornar meu coração:
essa jóia de saudade...
Um rubi, uma esperança!
Que sangra, mas não se cansa,
de pulsar tua lembrança
pra te reviver em mim.

Goimar Dantas
São Paulo
26/10/2010

quarta-feira, outubro 20, 2010

Lembrete

Hoje é Dia do Poeta.
Um esteta que põe letras
nas músicas da alma.

Goimar Dantas
São Paulo
20/10/2010


E para celebrar, publico um pequeno documentário que pesquei aqui, produzido pela editora Alfaguara, como parte das comemorações pelo relançamento da obra do poeta João Cabral de Melo Neto. Os vídeos têm depoimentos de Luis Fernando Verissimo, Chico Buarque, Lázaro Ramos, Ferreira Gullar, Adriana Calcanhotto, Carlos Heitor Cony, Adélia Prado, dentre outros ilustres admiradores do poeta. Apreciem sem moderação!




terça-feira, outubro 19, 2010

A paixão e o pássaro




Eu devia ter uns 8 anos quando vi o homem alado pela primeira vez. Era um Ícaro loiro, de olhos azuis, musculoso e viril como um deus grego. Eu ainda não sabia o que era Grécia, mas quem se importa? O essencial era minha habilidade para identificar um deus quando via um, mesmo pela televisão.

Nunca mais esqueci a cena. E nem poderia, uma vez que o homem-pássaro, que atende pelo nome de Mikhail Baryshnikov, se tornou alvo de uma intensa paixonite platônica de infância que, diferentemente das demais (sim, eu tive várias), perdura até hoje. Ícaros, como todos sabem, são inacessíveis. E, talvez por isso, de nada adiantava o estilingue dos meus olhos atirar sobre ele sucessivos pedaços do meu coração.

Baryshnikov voava alto demais, completamente ignorante de meus suspiros e devaneios de menina. O passar do tempo, por sua vez, apenas intensificou o alcance de suas asas. Além de bailarino renomado, o homem-pássaro também se firmou como ator, estrela de campanhas publicitárias, celebridade. E então pude vê-lo amiúde: em revistas, filmes, programas de tevê, comerciais disso e daquilo. E era incrível observar o modo como ele pousava – e posava – ao lado de tantos mortais, que só serviam para ressaltar o brilho superior de sua plumagem.

E hoje e amanhã ele planará sobre os palcos de São Paulo, aos 62 anos, ainda lindíssimo – posto que deuses jamais envelhecem. Mas como o destino é, por vezes, um piadista sem graça, perdi o prazo para a compra de ingressos, disputadíssimos, como é comum aos espetáculos protagonizados por mitos.

Moral da história: meu Ícaro prossegue tão inacessível quanto o meu coração – hoje, particularmente, mais despedaçado do que nunca.

terça-feira, outubro 12, 2010

Vida de Maria



A dica desse lindíssimo filme de animação veio do amigo Antonio Erivan Gomes, sertanejo forte que, durante a infância, recebeu a oportunidade de romper os ciclos que poderiam apriosioná-lo a uma vida desprovida de educação e, consequentemente, liberdade para voar em busca de seus sonhos.

O problema é que muitas crianças não têm a mesma sorte de Erivan e, por isso mesmo, permanecem numa vida sofrida, muitas vezes perpetuando-a por gerações: filhos, netos, bisnetos... Todos seguindo na mesma toada que aprisiona sonhos, talentos e potencialidades.

Neste Dia das Crianças, esse filme nos ajuda a refletir sobre infância, oportunidades, educação, ciclos que podem (e devem!) ser rompidos.

Fica aqui o meu agradecimento especial ao Erivan. E também o meu desejo genuíno (ou seria ingênuo?) de que todas as crianças possam ter as oportunidades que merecem.

sexta-feira, outubro 08, 2010

Só 10 por cento é mentira



Nada como Manoel de Barros pra encerrar uma semana tão cansativa quanto essa que tive. Outubro começou quente e tudo indica que terminará fervendo. Por isso, vim aqui escrever este post, na esperança de recuperar as forças falando sobre um poeta.

Infelizmente, não conheci a poesia de Manoel de Barros na escola. A bem da verdade, demorei anos para encontrá-la na esquina das prateleiras das livrarias e na curva de algumas entrevistas que ele concedeu a jornais, revistas e emissoras de televisão.

Então, em dezembro de 2004, aconteceu: numa linda noite de luar, em pleno calor do sertão potiguar, mergulhei fundo em seu livro Poemas Rupestres e, desde então, prossigo submersa no líquido amniótico de suas palavras. Vez ou outra venho à superfície, mas só pra dar mais valor às águas pantaneiras da poesia de Barros.

O trailer acima é do premiado documentário Só 10 por cento é mentira, cujo título rende homenagem à famosa máxima de Barros, que diz assim: “De tudo o que escrevo, 90% é invenção. Só 10% é mentira”. Genial, não? Simplesmente genial.

Mas o mais absurdo dessa história é que ainda não vi o documentário. E eu gostaria muito que isso fosse mentira, pura invenção. Por outro lado, não ter visto esse filme me traz aquela sensação prazerosa de coisa boa que a gente tem certeza que está para acontecer. Sabe aquela pré-felicidade? E claro que tudo isso me lembra muito o conto Felicidade Clandestina, meu preferido da Clarice Lispector. É isso: o que me conforta é saber que essa felicidade está logo ali, na esquina, na curva de alguma locadora decente (porque nem todas, afinal, têm documentários brasileiros, mesmo que premiados), esperando por mim.

sexta-feira, outubro 01, 2010

Bethânia na intimidade



Dia desses, saí do computador após 12 horas de trabalho, liguei a televisão no Canal Brasil e deparei com o documentário Maria Bethânia – Pedrinha de Aruanda (2007), em que o diretor Andrucha Waddington retrata as comemorações, emoções, encontros e lirismos decorrentes do aniversário de 60 anos da cantora.

Não peguei o filme do começo, mas tive a sorte de poder ver cenas maravilhosas, como essa do vídeo acima, em que Bethânia conta uma história deliciosa durante um jantar na casa da mãe, Dona Canô, em Santo Amaro da Purificação. Para quem quiser ver outras cenas do documentário, é só dar uma busca no You tube, nesta página aqui.

Mas há uma cena linda que, infelizmente, parece não estar no You tube (pelo menos procurei e não achei...). Nela, numa viagem de carro, à noite, com o irmão Caetano, Bethânia pergunta: "Sabe como Fernando Pessoa chamava a lua?" Ao que Caetano responde: "Ué, ele não chamava de lua?". E Bethânia: "Não. Ele chamava de Nossa Senhora do Silêncio".

E o resto? Bem, o resto também é poesia.

Recomendo muito!