domingo, fevereiro 28, 2010

José Mindlin - uma inspiração



Sempre tive paixão por José Mindlin, o mais importante bibliófilo brasileiro, que nos deixou hoje, aos 95 anos. Ao longo da vida, Mindlin e a esposa Guita foram responsáveis por compor e preservar a maior biblioteca particular do Brasil. Parte dela, a famosa Brasiliana, composta apenas por títulos que se referem ao nosso país, em seus mais variados temas, foi recentemente doada para a Universidade de São Paulo (USP). Até porque a maior preocupação de Mindlin era a de que todos pudessem ter acesso às preciosidades que colecionou desde os 13 anos.

Mindlin era o nosso Borges, um homem cujo maior orgulho era estar rodeado de livros, sendo capaz de lutar 15 anos para encontrar e adquirir um exemplar da primeira edição de O Guarani, de José de Alencar. Espero que o autor de Ficções e O Aleph possa recebê-lo no além com a pompa e a circunstância que Mindlin merece: com livros e braços abertos.

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Sina




E mesmo sozinho
No poço sem fundo
O poeta ouve o eco do mundo.

Goimar Dantas
São Paulo
21-02-10

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Lisboa, Pessoa e a ciclovia

O Tejo from Abilio Vieira on Vimeo.


Video: Passeio de bicicleta pela margem norte do Tejo, nos arredores de Lisboa, Portugal.

Esse vídeo, que pesquei ontem no blog do Tas, me deu ainda mais vontade de conhecer Lisboa. Imaginem poder pedalar admirando o Tejo e, ao mesmo tempo, lendo Fernando Pessoa. Um dia eu vou.

O Guardador de Rebanhos

Alberto Caieiro (heterônimo do poeta Fernando Pessoa)


Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Bagagem



E as recordações
da viagem
são o melhor da bagagem.



Como essas que vivemos em tarde inesquecível no Parque de Esculturas Ricardo Brennand, no Recife.



Eu em momento Mito de Sísifo, tentando alcançar o azul de Recife.



Tatá em transe verde e rosa, também no Parque de Esculturas Ricardo Brennand, no Recife.



Yuri de peito aberto, vendo a tarde engolir o mar da Praia de Boa Viagem.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Poesia visual




Este vídeo traz fotos de Julia Jackson, mãe da escritora Virginia Wolf e sobrinha da incrível fotógrafa Julia Margaret Cameron, uma das pioneiras na arte de transpor poesia em imagens. Ter acesso ao trabalho de Cameron só foi possível graças às aulas do curso básico de fotografia e também de uma oficina sobre o tema, as quais concluí ano passado. Adoro a delicadeza dessas imagens, os tons e a capacidade de eternizarem um olhar e uma fisionomia tão expressivas.

Ainda sobre este vídeo: de acordo com a fotógrafa Márcia Alves, minha professora na oficina de fotografia, a linda trilha sonora é da banda Antony and Johnsons.

Em tempo: recomendo vivamente uma visita à galeria da Márcia lá no Flickr. É só clicar aqui.

Deleite-se!

sábado, fevereiro 13, 2010

Acadêmicos da escrita



O Carnaval tradicional é um estranhamento para mim. Todo ano é a mesma coisa: a Festa de Momo vem e me encontra concentrada, terminando algum texto cujo prazo de entrega está batendo às portas, com uma pressa, um ritmo, uma força e uma cadência muito superiores aos das baterias das escolas que se enfileiram nas avenidas Brasil afora.

E diferentemente desses lindos meninos que fotografei mês passado em Olinda, minha fantasia é costurada com linhas e tramas alfabéticas, acrescidas de acessórios de morfossintaxe e estilística. E ao invés de plumas, penas. Penas cuja função é extrair palavras do tinteiro do mundo.

Nos pés, um salto muito alto, não para sambar, mas para compensar minha estatura tão pequena frente à grandeza das coisas que preciso ver e registrar. Para quem escreve abrindo mão da purpurina em detrimento do lirismo, o Carnaval é sempre uma festa solitária, plena de alegria e beleza, mas também de medo e incerteza.

No bloco compacto do texto, ensaístas substituem passistas, romancistas compõem, sempre, a comissão de frente, poetas dominam, claro, os carros alegóricos, biógrafos fazem as vezes de puxadores de samba (porque em seu ofício tentam trazer à tona as melhores histórias, dando voz e visibilidade a enredos que estariam perdidos no tempo e no espaço, não fossem eles a juntá-los em única composição). E a flâmula dessa escola... Ora, essa quem porta só poderia mesmo ser ele: Bandeira, que se desloca da ala dos poetas para honrar o nome tão propício ao carnavalesco ofício.

Mas que ninguém se engane: na Acadêmicos da escrita, todo mundo pula numa solidão de dar dó. Um não pode ajudar o outro. Quem cai tem de se levantar sozinho. Quem perde o fôlego fica pra trás. Quem quebra o salto não participa mais.

E como este ano minha folia é sair no "Bloco da biografia", peço licença pra ir ali aquecer a voz e o verbo, porque já está chegando a hora de eu cantar/contar uma linda história.


Goimar Dantas
São Paulo
13 de fevereiro de 2010

sábado, fevereiro 06, 2010

A casa do poeta



Uma das tantas casas poéticas da Praça Cláudio Manuel, na cidade de Mariana, Minas Gerais.



A casa do poeta nem sempre tem janela,
Mas tem horizonte, de fronte.

A casa do poeta nem sempre tem relógio,
Mas tem o mistério do tempo, lá dentro.

A casa do poeta nem sempre tem quintal,
Mas tem o particular, onde se acha o universal.

A casa do poeta nem sempre tem quartos,
Mas tem um infinito de espaços pra sonhar.

A casa do poeta nem sempre tem varandas,
Mas é verdade que tem um sem fim de veredas .

A casa do poeta não tem banheiro,
Mas tem chuveiro de estrelas (e o vão do buraco negro).

A casa do poeta não é feita de cal nem cimento.
Mas sim de campo vasto, praia deserta, pó de sertão e vento.

Goimar Dantas
São Paulo
13-05-09

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Oferenda



Neste dia dois de fevereiro, em que se rendem homenagens à Rainha do Mar, esta imagem é minha singela oferenda, captada na Praia de Boa Viagem, Recife, Pernambuco.