sábado, dezembro 13, 2008

O poder dos vendavais


“Eu estou no meio do vendaval!”. Há uns 10 anos, num trem de metrô, ouvi essa frase de um rapaz muito bonito e completamente alterado. Ele tinha os olhos esbugalhados e percorria o vagão de ponta a ponta, ensandecido, encarando os passageiros e gritando: “Eu estou no meio do vendaval! Eu estou no meio do vendaval!” Posso viver 100 anos, mas nunca esquecerei nem da frase nem dos trejeitos enlouquecidos do moço. Sua loucura e desespero lembravam os de Hamlet quando descobriu que seu pai fora assassinado num golpe sórdido arquitetado pelo próprio irmão.


(Pausa para um parêntese enorme: falando em Hamlet, fui ver essa peça em julho, pouco depois da estréia com Wagner Moura, aqui em São Paulo, no Teatro da Faap. Recomendo vivamente. Na foto acima, vocês vêem a armadura do personagem principal, que já estava no palco antes mesmo de a platéia entrar. O Hamlet com pegada moderna nos cenários, figurinos e coreografias me agradou muito. Embora alguns dos meus amigos tenham concordado com parte da crítica achando a interpretação de Moura excessiva. Mas se o próprio príncipe da Dinamarca criado pelo bardo inglês não era excessivo, então... Bem... Então, eu não sei o que é excessivo...)

Voltando ao rapaz do metrô, tudo indica que estava sob o efeito de drogas, mas isso não vem ao caso. O que importa é que achei a frase linda, impactante, shakespereana, poética... E volta e meia ela me vem à mente, dominando meus pensamentos.

Quem me dera ter coragem de, às vezes, sair por aí totalmente shakespereana, soltando as feras e gritando em alto e bom som: “Eu estou no meio do vendaval!”. Talvez aliviasse a tensão...

O fato é que tem muita coisa acontecendo, ao mesmo tempo, na minha vida e, pra dizer a verdade, prefiro assim... Trabalhos diversificados são bons porque a gente aprende muito, mas, quando vêem juntos e em excesso (sim, eu sei o que é excesso), costumam trazer com eles preços altos, além de uma cor, um desalento e uma vontade.

Os preços altos são os prazos apertados, o estresse, a correria. Já a cor é o cinza escuro que dá o tom das minhas olheiras, que, tudo indica, nunca mais irão embora. O desalento é a montanha de livros e revistas que tenho de ler e não sobram horas vagas. E a vontade é a de, às vezes, largar tudo e ir ao cinema. Ou então gritar, como o rapaz alterado que encontrei no metrô.



Mas eu sou covarde em demasia e jamais sairia gritando por aí. Por isso, optei por, noite dessas, mandar tudo às favas e aceitar o convite do meu bem meu “Mau” pra ver Vicky Cristina Barcelona, do Woody Allen. Adorei, embora as discussões sobre relacionamentos amorosos nos filmes desse diretor me dêem aquela sensação de déjà vu. Mesmo assim, relacionamentos amorosos compõem um dos meus temas preferidos e, por isso, se mil vezes Woddy Allen ainda filmar nessa vida, mil vezes eu irei ao cinema...

Penélope Cruz, que interpreta Maria Helena, está linda, intensa, divertida, sendo responsável pelos melhores momentos do filme. Scarlett Johansson (Cristina) está linda, linda e linda (no mais, acho que fez o dever de casa e decorou as falas. E já está ótimo. Se eu tivesse aqueles olhos, aquela boca e aquele TUDO o mais que ela tem acho que nem isso eu faria...). Brincadeiras e devaneios à parte, penso que realmente ela estava melhor em Match Point e em Lost in Translation. Talvez tenha ficado meio perdida por dividir a cena com outras beldades... Afinal, além de Penélope ainda tinha Rebecca Hall (que achei ótima), interpretando Vicky.

Já o nosso Javier Tudibom Bardem continua o mesmo. Um ator visceral e, nesse filme, charmoso até a unha do dedinho do pé. E, falando em charme, adorei aquela cena do restaurante em que ele - interpretando um pintor moderníssimo - aparece de camisa vermelha, barba, cara de cafa e um discurso filosófico existencial decorado sob medida para seduzir moçoilas. Pois é nessa hora que ele faz o convite, por assim dizer, indecoroso, e que se torna o mote do filme. Bem, indecoroso ou não, eu aceitaria qualquer convite feito pelo Javier Bardem... Pena que certas coisas só acontecem mesmo na ficção... E é por essas e outras que eu escrevo - estando ou não em meio a vendavais.

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