segunda-feira, abril 23, 2007

Autorretrato


>Eu sou...
Menina da rima,
bailarina de retina,
nordestina da toada,
princesa lá do Cordel.
Filha de Pedro e Maria,
neta do seu Zé Dantas
e sua dona Luzia.
E também de Pedro Horácio
e sua doce Maria.
Sou fruto da terra seca.
Amante do som da chuva.
Do estrondo do trovão.
Da melodia do mar.
Eu sou a moça dos textos,
da prosa, da sintonia,
do engenho da palavra.
Eu sou a febre de amar.
Eu venho de outras paradas,
do Rio Grande do Norte.
Daquele sertão sem sorte,
mas cheio de poesia…
Gene das gentes bravias,
dos violeiros da feira,
das histórias infinitas
que nunca vão se acabar.
Espécie de Sherazade
que narra ao raiar do dia,
dorme sonhando versos
e acorda pra lapidar.
Eu tenho a pele morena,
do sol dos meus ancestrais,
que ardiam noites e dias,
sempre querendo mais.
Eu trago o verbo na alma,
escrevo sem ter papel,
desafio na embolada.
Eu sou linha e carretel.
Sou fã de Manuel Bandeira,
de Carlos Drummond de Andrade
e penso que Adélia Prado é
anjo que vem do céu.
Entendo que Hilda Hilst,
pitonisa da paixão,
foi condutora de um tempo,
da marcha do coração.
Eu quero é parir poemas,
dar à luz nas madrugadas,
achar a palavra exata
na hora em que precisar.
Eu sou fiel aos meus livros,
e a vontade insaciável,
de descrever o não-dito,
tesouro bom de encontrar.
Sou Diana Caçadora
e vivo de articular
idéias soltas no espaço,
tramas em pleno ar.
Eu sou lápis apontando.
Nasci para registrar,
para versejar enredos
e personagens sem par.
Se ainda não me conhece,
atente! Pode apostar,
meu nome é bem diferente.
Prazer, eu sou Goimar.

Goimar Dantas
São Paulo, 14/01/07
às 12h30.
Imagem: foto da menina Gói, aos 3 anos. Acervo pessoal.

quarta-feira, abril 11, 2007

Paixão na Paulista



Paixão na Paulista

Era hora do rush em São Paulo.
E eu andava, assim, com meus dilemas.
Contra-fluxo de todo sistema.
Arremedo de um bom cidadão.
Eram seis e trinta de um verão.
De uma calor abafado e ardente.
E eu suava (ainda inocente)
ante tudo que iria viver.
De repente, me vi ofuscado
pela bela de jeito agitado
que surgiu em meio à multidão.
Emanava um calor,
uma chama,
um desejo,
uma estranha doçura...
Luz del Fuego no meio da rua!
Carceragem com um rosto solar.
E eu freei o meu passo apressado.
Cavalo xucro preso por um laço!
Fera vencida em tourada de Espanha!
Senti no peito o varar de uma espada,
de uma lança feroz que transpassa
e ainda zonzo voltei meu olhar
(à procura do rosto solar...)
Para mim era puro poema,
feito a moça do sol de Ipanema,
visão semelhante à do mar.
Bem depressa tratei de segui-la,
mas o fim da avenida surgia.
Feito emblema, enigma,signo:
Uma esfinge que vem devorar!
E eu sozinho enfrentando o feitiço
(que era o viço da dama ao andar.)
Mas o rush em São Paulo é uma dança.
Um bailado,
um forró animado,
onde todos terminam sozinhos(!).
Festa estranha demais de entender.
Procurei-a por todos os lados
(como bicho de faro apurado).
Mas a moça já tinha sumido,
se esquivado sem deixar vestígio.
Ah! São Paulo de amores perdidos!
Dessa graça do encanto instantâneo.
Da paixão que se acha e se perde
no abrir e fechar dos sinais,
no metrô que prescinde do cais,
no olhar sedutor que se lança
nos cinemas e bares, boates.
Nos nasceres de sóis escarlates.
Sentimento rompendo o concreto
(coração no compasso do verso).
Betoneira da selva de pedra.
Com a qual eu misturo essas cenas.
Para erguer edifícios-fonemas.
E chegar ao meu céu... Com poemas.

Goimar Dantas
03/04/07
São Paulo
Imagem disponível em: www.painet.com.br/joubert/images/tourada3.jpg