segunda-feira, novembro 23, 2009

Senso sem direção




Eu me desdobro: origâmica.
E me azulejo: cerâmica.
Escorro em lava: vulcânica – sobre você.

E então me vejo: reflexo.
Um Rio Tejo em seu fluxo,
Cujo desejo (profundo) é se misturar ao mar.

Um oceano nostálgico
De águas salgadas, febris.
E correntezas incertas,
Ondas gigantes e hostis.

E ainda assim eu me entrego,
Submergindo, me enredo:
Sereia plena, feliz...

Espécie de néctar, fruta:
Pra sorver absoluta
Na boca da tua noite.

Sumo pra suar em febre
E entranhar em sua pele:
esse horizonte,
fronteira.
Penhasco,
abismo,
ladeira.
Avesso do meu direito,
onde espero me perder.


Goimar Dantas
São Paulo
27-08-09

quarta-feira, novembro 18, 2009

A hora e a vez de José Xavier Cortez



O editor potiguar José Xavier Cortez, há 43 anos radicado em São Paulo, faz aniversário hoje e um dos presentes que recebeu foi esse trailer do documentário O semeador de livros, em fase final de edição. O roteiro, que traz à tona a trajetória cinematográfica da vida de Cortez, é de Heloisa Dias Bezerra e Wagner Bezerra, que também assina a direção.

Além desse documentário e da biografia, que escrevo em co-autoria com a socióloga Teresa Sales, Cortez será, em 2010, a estrela maior das comemorações dos 30 anos da tradicional Cortez Editora, criada por ele e especializada na publicação de livros acadêmicos, muitos deles voltados às áreas de educação e serviço social.

Haja coração, hein, seu Zé di Mizaé!?

segunda-feira, novembro 16, 2009

Meu bem, meu Mau(rício)


Meu bem, meu "Mau", que faz aniversário hoje, recebendo pela sétima vez consecutiva, em nome do Senac, o prêmio Top of Mind.



Ele não precisa ler muito, pois sabe tudo.
Já eu preciso ler tudo, pois não sei nada.
Ele é introspectivo, preza o silêncio e a reflexão.
E eu sou filha da história, Sherazade de formação.
Ele luta Kung fu, enquanto eu pratico Yoga.
Ele se expõe em planilhas e eu em versos e prosa.

Ele sabe contar, calcular a porcentagem!
E eu? Ora, eu sei narrar, escrever, falar bobagem.
Ele prefere o campo e eu, se sonho, é com o mar.
Ele dorme no avião(!) e eu só faço rezar.

Ele se impõe no olhar, eu me apóio na oratória.
Ele é rei da concisão e eu da dissertação.
Ele comanda 30 e eu não chefio ninguém.
Ele enxerga o hoje e eu só vejo o além.

Na emergência, ele é mansidão – já eu viro tempestade.
No dia a dia, sou mais calma, ele grita por bobagem.
Ele dirige em São Paulo, em Minas, nas rotas do litoral.
Eu me perco no bairro, a pé, indo à banca de jornal.

Ele negocia o mundo, multiplica, contrata, demite, produz!
E eu? Eu fico em casa escrevendo, bastando um facho de luz.
Ele usa terno e gravata, gel no cabelo, perfume importado.
Eu uso saia de algodão, com renda, florzinha e babado.

Ele é “João Balalão, senhor capitão, capote vermelho, chapéu de galão, espada na cinta, ginete na mão, João Balalão, Balalão, Balalão”.
E eu sou “Senhora Dona Sanja, faz favor de entrar na roda, diga um verso bem bonito, diga adeus e vá-se embora!”.

No jogo ele grita “Goooooooooool”! E eu sequer presto atenção.
Na música ele desafina e eu sou pleno pulmão.
No amor ele é puro instinto, força física, paixão!
E eu pulso na poesia, romantismo e coração.

Ele é a minha lógica, minha dose de razão.
Ele é o mundo lá fora, puro poder, explosão!
E eu? Meu Deus... O que eu sou?
Só uma moça do sertão.

Goimar Dantas
São Paulo
Setembro/2009

sábado, novembro 14, 2009

O capitão e a sereia



Na última quinta-feira fomos assistir ao excelente espetáculo O capitão e a sereia, direção de Fernando Yamamoto, no teatro do Sesi Vila Leopoldina, aqui em São Paulo. A peça é uma adaptação do livro homônimo do talentoso escritor e ilustrador André Neves, feita pela companhia potiguar Clowns de Shakespeare.

Há anos eu não tinha acesso a uma apresentação teatral tão impregnada de lirismo, poesia e musicalidade. Acho que minhas últimas experiências nesse sentido ocorreram à época da faculdade de jornalismo, quando vi o inesquecível – e consagrado – Romeu e Julieta, de Gabriel Villela, encenado em uma praia de Santos, em pleno sábado à tarde. Pouco tempo depois, pude conferir, na mesma cidade, O auto da paixão, de Romero de Andrade Lima, numa explosão impressionante de criatividade, ritmo e performance cênica, no histórico Teatro Coliseu.



A trupe potiguar não só me presenteou com essas lembranças de juventude como me mostrou sua própria forma de fazer lirismo, cantando, tocando, dançando e narrando histórias pelas vias do coração. Um coração que, no caso específico do texto encenado, batia ao som dos ritmos do mar e do sertão.



Devo confessar que fiquei especialmente tocada pelo fato de a trupe ser potiguar, não apenas pela imediata identificação que essa conterraneidade provocou entre mim e os integrantes do grupo, mas por ter a rara possibilidade de encontrar expositores tão qualificados da cultura do Estado onde nasci, mas que, infelizmente, conheço tão pouco.



Tê-los se apresentando num teatro que fica a poucos metros da minha casa, em temporada que vai até 29 de novembro, me dá a sensação onírica de que o meu Estado, na verdade, são as pessoas que o compõe, e elas – graças aos céus! – têm asas. No caso da trupe dos Clowns de Shakespeare, as asas da arte, da paixão, da poesia e da imaginação.



E que venham outras temporadas aladas!

terça-feira, novembro 10, 2009

Faça yoga antes que você precise...



É verdade. Ando muito cansada. Mas, chova ou faça sol, duas vezes por semana, há quase seis anos, eu paro tudo e vou pra aula de yoga. Por quê? Ora, porque eu sou brasileira e não desisto nunca.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Habitat



Simplesmente adorei fazer esse clique, na Rua da Pólvora, bairro da Liberdade, em São Paulo.

domingo, novembro 08, 2009

Sabedoria borgeana



Essa semana entrevistei o professor José Castilho Marques Neto, diretor-presidente da Editora Unesp. A despeito de sua agenda lotada e de seu tempo escasso, Castilho permaneceu comigo uma hora. Tempo em que narrou histórias deliciosas sobre meu biografado, José Xavier Cortez.

Ao entrar em sua sala, fiquei impressionada com esse quadro e, principalmente, com a frase nele estampada. Jorge Luis Borges é um dos meus escritores preferidos e, assim que terminei a entrevista, pedi a Castilho autorização para fotografar o quadro.

O professor não só me deu permissão como contou, entusiasmado, como e onde adquiriu esse souvenir maravilhoso do autor argentino. Embora, de longe, pareça um pôster de papel, trata-se de um tecido, comprado na Feira de Antiguidades de San Telmo, em Buenos Aires e, posteriormente, enquadrado por Castilho.

Por falar muitíssimo, preciso, mais do que ninguém, refletir sobre essa frase. Quem me acompanha?

sábado, novembro 07, 2009

Prêmio Jabuti 2009


Yuri e Tatá - lindos - na Sala São Paulo, no último dia 04, na entrega do Prêmio Jabuti 2009.


E o melhor da noite, na minha opinião, foi a escolha do Livro do Ano, categoria Não-Ficção. Quem levou foi a genial Marisa Lajolo, juntamente com João Ceccantini, pela obra Monteiro Lobato - Livro a livro, das editoras Imprensa Oficial e Unesp. Tenho um respeito profundo pelo trabalho da professora Marisa. Um dos meus sonhos de consumo é ter aula de crítica literária com ela. Quem sabe um dia, no doutorado? Seus estudos, voltados à análise da literatura infanto-juvenil brasileira, são obrigatórios para quem estuda ou se interessa pelo tema.

Já na Categoria Ficção ganhou Moacyr Scliar por Manual da paixão solitária. Não sei o livro, mas o título é ótimo, né não?


Mara, Júlia e Ednilson, da Cortez Editora: melhor companhia impossível! Adoro esses três!! Isso sem falar no humor inteligente e afiado da Mara, com seus comentários impagáveis durante todo o Prêmio! :)


Adoro eventos literários não apenas pelo que representam, mas também por poder encontrar amigos como Paulinho Monteiro, da época em que trabalhava na Secretaria de Educação. Hoje, Paulinho é membro da competente equipe da Imprensa Oficial do Estado que, por sinal, vem fazendo um trabalho incrível no ramo de edição de livros. Não à toa, nos últimos cinco anos, vem faturando, merecidamente, várias estatuetas do Prêmio Jabuti.

Em 2004, Paulinho cansou de me ver chorar por conta dos trâmites absurdos e demorados que envolveram o processo de adoção da Tatá. Eu vivia mostrando fotos dela para ele, que acompanhou toda a história, durante um ano, torcendo para que tudo desse certo. Quando finalmente a adotei, eu já não trabalhava mais na Secretaria e Paulinho acabou não tendo oportunidade de conhecê-la. O encontro entre os dois só aconteceu quase cinco anos depois, nessa festa da entrega do Jabuti. Foi lindo vê-lo emocionado por rever o Yuri e, finalmente, por poder conhecer a Tatá.


Tenho paixão por essa moça. É Carolina Vilafranca que, para o meu orgulho, começou a carreira como minha estagiária. E lá se vão 11 anos em que ela arrasa como assessora de imprensa especializada em mercado editorial. Linda, linda... Ainda me lembro de ficar puxando as orelhas dela sempre que Carol emendava as baladas com o trabalho. Nunca entendi como alguém pode passar a noite em claro e, no dia seguinte, trabalhar o dia inteiro, simpaticíssima, como se nada tivesse acontecido. Carol era assim: um arsenal de sorrisos e delicadezas, todo dia, toda hora, chovesse ou fizesse sol. Hoje a moça é casadíssima e, se passa noites em claro, é pra cuidar da fofa da Marina, sua filhinha.

Foi um noite linda!

quarta-feira, novembro 04, 2009

Yellow childmarine



Tô precisando de um refresco. Então lembrei dessa foto que tirei na Washington Square, em Nova York.

No fundo e na superfície, acho que o calor é uma eterna criança:
tem a alma solar e amarela.
Bem amarela.
Nasceu pra brincar
e vive chamando a gente pra fazer o mesmo.
Quem vem?
Quem vai?
Tá pensando muito... Ai, ai, ai...

segunda-feira, novembro 02, 2009

Entre os muros da escola



Queria muito escrever mais sobre o ótimo filme Entre os muros da escola (Entre les murs), do diretor Laurent Cantet, mas a falta de tempo não permite. Há meses estava querendo assisti-lo, mas só ontem consegui. Adoro filmes cuja temática é educação, escola, aprendizado. Entre os muros da escola, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, 2008, impressiona pela abordagem contundente das questões que, hoje, são cada vez mais universais.

Temas como racismo étnico, pobreza, falência do sistema educacional, dúvidas, conflitos, acertos e erros dos professores, as mudanças que a sociedade ocidental provoca no comportamento cada vez mais rebelde e belicoso dos alunos, os desafios de conquistar a atenção desses adolescentes em sala de aula... Tudo é abordado com um realismo impressionante. Palmas também para as interpretações sublimes do professor -que, na realidade, é o autor do livro que deu origem ao filme - e dos estudantes, envolvidos em cenas arrebatadoras, conquistadas graças ao interessante método de trabalho desenvolvido pelo diretor.

Saiba mais sobre o fime assitindo a entrevista com Laurent Cantet, no vídeo acima.