quinta-feira, abril 30, 2009

Quase quadrilha


Caricatura de George Cruikshank, 1817.


Lutei o dia todinho
pra pegar um Verso bom.
Mas ele era livre e solto
e preferiu se mandar
lá pras bandas do Drummond.
Chorei, sofri, lamentei!
Que drama ele meu causou!
Pensei: Vou voltar pra Rima!
Quem sabe eu não me redima
e, juntinho, a gente faça
lindo poema de amor!

Goimar Dantas
Santa Rita do Sapucaí
22-04-09

domingo, abril 26, 2009

Éter...Homine




Eu me entreguei a um homem
que me leva pelo mundo.
Não é pirata,
não é marujo,
não pesca
e não vai pro mar.

Mas ele escreve, inventa,
conta histórias, se arrebenta,
nas linhas do seu caderno,
nas ondas do seu pensar.

Criador do próprio tempo
é “um” e também é “vários”.
Tanto é meu como é de todos.
Seu verbo? - Multiplicar.

E eu: que sorte!
Me divido...
Feliz em poder estar
nos braços de um
que é muitos!
Poeta, errante, mutante:
Campos, Caieiro, Reis,
Pessoa: inspiração boa!
Alado e etéreo homine!
Com quem aprendo a voar.

Goimar Dantas
Santa Rita do Sapucaí
22-04-09

sexta-feira, abril 24, 2009

Esquina da poesia



É só apurar o olhar pra encontrar poesia em todo lugar.
E essa, assim como as que registrei no post de 22 de abril, achei neste último final de semana, em Santa Rita do Sapucaí, Sul de Minas Gerais.

quinta-feira, abril 23, 2009

Haikai da viagem




Tirei a sorte grande:
abri um livro
e ganhei o mundo.


Esse haikai é minha singela homenagem ao Dia Internacional do Livro, que se comemora hoje. A escolha da data tem motivos especiais: 23 de abril é o aniversário da morte de grandes autores, como Miguel de Cervantes e William Shakespeare. Hoje é, também, Dia de São Jorge.

Reza a lenda que o sangue do dragão morto pelo santo guerreiro deu origem a uma linda rosa vermelha. Por isso, os moradores da região da Catalunha, na Espanha, juntaram essas histórias todas e inauguraram um costume pra lá de poético naquele país. Todo dia 23 de abril, os homens presenteiam as damas com uma rosa vermelha. Em troca, elas devolvem a gentileza presenteando os cavalheiros com um livro.

Ainda quero passar um dia 23 de abril na terra de Cervantes pra conferir esse espetáculo lírico de perto.

Em tempo: fiz a foto deste post há cerca de um mês. Na época, só queria registrar a beleza da flor ao lado desse livro lindo da Ecléa Bosi, mas, hoje, ao pensar numa imagem pra esse texto, me dei conta de que essa fotografia tinha tudo a ver.

Para saber mais sobre o Dia Internacional do Livro, clique aqui.

E falando em Jorge...

quarta-feira, abril 22, 2009

Inspiração mineira



Passei o feriado em Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas. Eu tinha um quilo de coisas pra ler e pra escrever, mas, mesmo assim, acabei me dividindo entre os textos e a prática da fotografia, que concentrei durante duas tardes inesquecíveis. Enquanto tirava fotos lá na Praça da Igreja Matriz, tive a sorte de conhecer Eduardo Adami, médico e apaixonado por fotografia. Adami foi de uma gentileza ímpar e me forneceu ótimas dicas sobre os melhores lugares pra se fotografar na região. Segui as orientações à risca e não poderia ter sido melhor!

A foto acima, por exemplo, com ares de antigamente, tirei no terreno logo atrás da antiga Estação Ferroviária da cidade.




Preciso mesmo agradecer aos céus! Não é o máximo ter visto esse pássaro dando sopa sobre um dos tantos adornos que enfeitam os túmulos do cemitério da cidade? Aliás, o lugar é repleto de esculturas lindas. Para ver outras fotos que tirei neste final de semana prolongado, basta entrar na minha página do Flickr (site voltado à fotografia). É só clicar aqui.



Acima, outro exemplo de arte no Cemitério de Santa Rita do Sapucaí. Não é linda?

sexta-feira, abril 17, 2009

Antes tarde...





É uma vergonha sem precedentes, mas estou 18 anos atrasada. Digo isso porque descobri a banda The corrs, que já existe desde 1991, apenas há poucos dias. Às vezes parece que vivo em Marte, mas não há muito o que fazer quanto a isso. Numa hora dessas, só resta tirar da manga aquele provérbio que começa com “Antes tarde...”

Composta por quatro irmãos irlandeses (3 moças lindas e um rapaz com cara de bom moço), a banda faz um som delicado que a nossa velha amiga de guerra, ela mesma a Wikipedia, classifica como Folk Rock Celta(!). Então, tá. Rótulos à parte, acho que eles fazem um som que me agrada muito, desses que me dão vontade de fechar os olhos e me deixar levar. Adoro, principalmente, essas duas canções que postei acima. A primeira, “Only when I sleep”, realmente me remete a um sonho bom. Já a segunda, “Toss the feathears”, é instrumental e me transporta, de imediato, para uma cerimônia Celta num castelo Medieval. Não é sempre que dá pra viajar tão longe, vamos combinar.

Pra tirar o atraso, faz três noites que o DVD da banda (show Unplugged, 1999) tá fazendo hora extra aqui em casa. Mas não é só culpa minha, não... Meu bem, meu “Mau” tá completamente apaixonado pela vocalista. Eu não o culpo e, sendo bem sincera, acho mesmo é que ele tem muito bom gosto.

quarta-feira, abril 15, 2009

Desabafo



Esses dias eu estou um porre.
Racional demais
e lírica de menos.
Pior é que não bebo
e não posso sequer contar com “aquele conhaque”
pra botar “a gente comovido como o diabo”.
E a lua que precede o conhaque?
Está escondida:
branca, pálida e bandida,
em algum lugar de Pasárgada.
E onde é Pasárgada?
Ainda não sei,
apesar de passar a vida procurando.
Noite dessas apelei
e rezei pro meu anjo da
guarda:
“Santo Anjo do Senhor,
meu zeloso guardador...
Onde está a poesia
que saiu e não voltou?”
Ah... Quero
uma Quintana
de coisas e não consigo!
Ando desiludida
e nem os textos da pessoa do Pessoa
têm conseguido me animar.
Já tentei hastear o Bandeira
no meio peito, mas tudo está
tão Baudelaire...
Tão meio mastro...
Aquela resposta?
Não vem.
Aquela carta?
Não chega.
Aquele e-mail?
Voltou...
Aquele prazo?
Esgotou.
Eu quero a minha
mãe! (Mas ela saiu
pra jogar vôlei com
o pessoal da terceira idade...)
Eu quero o meu pai,
mas ele já não vive mais.
Eu quero a minha irmã,
mas por não ter senso de direção,
ela não acerta o caminho daqui, não!
Eu quero o meu amor,
mas ele entrou numa reunião
que, pra variar, ainda não terminou.
Eu quero me concentrar
e escrever,
mas existe o telefone,
a energia (bagunça!) inesgotável das crianças,
a construção do prédio ao lado,
a gritaria do condomínio
na final do futebol.
Eu quero viajar,
mas isso ainda vai ter de esperar.
Eu quero voar,
mas Ícaro me aconselhou
a não tentar.
Eu quero encontrar o Mar,
mas forças ocultas
me impedem de ir pra lá
(seja para criar,
pra viver um sonho,
pra passear
ou tomar suco de cajá).
Eu quero estar
e também quero ir.
Então, se alguém por mim perguntar,
invoque um dos sambas mais líricos
que há e, mesmo sabendo que ainda estou aqui,
“diz que eu fui por aí.”

Goimar Dantas
São Paulo
15-04-09


Imagem: "O grito", Edvard Munch, 1893.

E pra completar o desabafo, outro samba-poema:

 Marisa Monte - Preciso me encontrar

segunda-feira, abril 13, 2009

Dia do beijo





Eu gosto
muito
Do seu gosto.

E isto posto
Não precisa
Dizer mais.

Goimar Dantas
São Paulo
Março, 2009



sábado, abril 11, 2009

Yuri rocks again



Meu filho Yuri, 12, tem exame de bateria na próxima semana. Tá se empenhando muito pra passar de fase. Estou certa de que vai se dar bem e avançar. Eu é que nunca consigo evoluir: continuo na mesma, me portando como um bebê e precisando de babador a cada vez que o vejo estraçalhando as baquetas. Também pudera, né? Olha que coisa mais lindinha da mamãe...

Em tempo: essa é a segunda performance do meu rockstar aqui no blog. Caso você tenha perdido a estreia e queira ver, basta clicar aqui.

quarta-feira, abril 08, 2009

A serventia da poesia



Toda a minha poesia não tece as tramas de um dia,
Não lança luz sobre as trevas,
Não ressuscita ninguém.

Toda a minha poesia flerta é com a covardia
Posto que é mero recurso
De se “dizer” e não “ser”.

Meus versos não ganham guerras, batalhas, conflitos vãos.
Não libertam prisioneiros,
Não têm receita pra dor.

Meus versos não abrem portas,
Não têm a chave da casa,
Não trazem meu pai de volta,
Não me dão explicações.

Por outro lado, eu entendo que minha poesia é jorro,
Exposição, desaforo,
um drible em Dona Opressão.

Minha poesia é expressão dos meus desejos, vontades...
Grito pleno de saudade, espelho de sensações.
Pode também ser lamento, alusão, desilusão,
Um misto de céu e chão (onde se pode flanar).
Barranco, escora, montanha, todo o mar que se admira
Lá longe se arrebentar.

No fundo
toda a poesia tem alguma serventia,
Seja de noite ou de dia
Pode aos homens encantar.
E provocar um sorriso,
E revelar um mistério,
E ser mais leve que o ar...

Poesia não tece o dia,
Mas é um fio condutor
Que nos mostra
(e nos transporta)
A um mundo paralelo...

Um reino de um só castelo
Onde o rei e a rainha
São a Beleza e o Amor.

Goimar Dantas
São Paulo
05-04-09

terça-feira, abril 07, 2009

A herança de Chicó e Manoel


Chicó, personagem da peça O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, interpretado, em minissérie, pelo autor Selton Melo.

Na última sexta-feira, dia 03, recebi um e-mail curiosíssimo, para dizer o mínimo. Um senhor me perguntava se eu, de fato, conhecia Nego Dé, personagem de um poema que escrevi em 2006 (para ler o poema, clique aqui). Não tenho o direito de revelar o nome desse senhor e, por extremo respeito à sua privacidade, também não posso dizer o motivo que o levou a manifestar tanto interesse pelo personagem descrito em meu poema.

Mas o episódio me deixou muito intrigada e, por conta disso, fiquei com vontade de esclarecer umas coisas por aqui: à exceção das minhas crônicas e dicas de filme, música etc, grande parte do que publico neste blog são poemas. E poemas pertencem ao reino do imaginário. Nem sempre têm relação com o que vivo.

É verdade que já os escrevi inspirada em pessoas reais. Pessoas que amo ou que, por algum motivo, exercem forte poder/influência sobre mim. Mas esses poemas não correspondem à totalidade dos meus textos, composta, também, por versos que são a expressão de meus sonhos ou a representação escrita de uma inspiração nascida de imagens, músicas ou qualquer outra forma de arte que tenha tocado meu coração.

Há, ainda, a poesia que, como costumo dizer,"recebo” de presente, por obra e graça da natureza. É o caso da chuva e do mar, que, generosos, sempre me concedem muita inspiração.


Acima, o poeta Manoel de Barros, que, assim como Chicó, tem explicação para o caso.

Digo tudo isso para ressaltar que quando escrevo poemas geralmente obedeço a uma das frases mais conhecidas de Manoel de Barros, um de meus poetas contemporâneos preferidos e que ousou afirmar o seguinte: “- Sabe, noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento que é mentira”.

Pois é. Como diria Chicó, personagem criado por Ariano Suassuna em O auto da compadecida: “Só sei que foi assim”.


sexta-feira, abril 03, 2009

A transcendência de Teresa



Eu sou doidinha por essa moça. Pra mim, boa música, poesia e livros são como um caminho místico: é adentrar por eles pra gente ter acesso ao transcendente. E, nesse reino, Teresa Cristina é guia competente. Eu me seguro na voz dela: e vou. O caminho fica ainda melhor quando, ao chegar à metade do trajeto, a morena de flor no cabelo e vestido rosa invoca outra guia-mestre: Clara Nunes. Aí, peregrino, não há quem não alcance o Nirvana. Experimente!

quarta-feira, abril 01, 2009

Lírica devoção


O editor José Xavier Cortez, o jornalista Lira Neto, eu e, ao que tudo indica, o espírito de Padim Ciço

Agora sou devota de “Padim Ciço”. Não me resta outra coisa a fazer. Explico: na última segunda-feira, fui até a PUC-SP assistir a uma palestra com o jornalista Lira Neto, autor dos livros Maysa: Só numa multidão de amores (Globo, 2007), O inimigo do rei: uma biografia de José de Alencar (Globo, 2006, vencedor do Prêmio Jabuti) e Castello: a marcha para a ditadura (Contexto, 2004). Atualmente, Lira trabalha na finalização da biografia de Padre Cícero Romão Batista.

Com um currículo desses, a palestra de Lira seria uma excelente oportunidade para que eu escutasse um profissional que vem se dedicando, há anos, ao trabalho biográfico. Como sou iniciante na área, meu objetivo era conseguir fazer perguntas, tirar dúvidas e receber informações que pudessem contribuir para o trabalho que venho desenvolvendo.

O mais interessante é que fui à palestra acompanhada do meu biografado, o editor José Xavier Cortez. Isso porque a Editora fica ao lado da PUC e eu tinha acabado de terminar uma entrevista com uma autora da casa. Quando comentei que iria atravessar a rua e assistir a palestra, Cortez não perdeu tempo: “Que ótimo! Palestra sobre biografias? Vou também”.


Manifestação dos alunos da PUC, na última segunda-feira

E lá fomos nós. Mas, ao chegar à PUC, a surpresa: os alunos estavam todos pelos corredores, com faixas e cartazes, dando início a uma gritaria daquelas. Não entendi o que eles reivindicavam porque estávamos em cima da hora e passamos correndo pelo meio deles. Nesse momento, o frio na espinha foi inevitável: imaginei que a palestra seria suspensa. Quando chegamos ao auditório, a decepção: vazio. Mas, como a esperança é a última que morre, sentamos e resolvemos esperar pra ver o que aconteceria. A recompensa levou só dois minutos pra chegar – tempo que Lira Neto demorou para entrar no local.

Uma funcionária da PUC, que, ao que parece, também era estudante, chegou pouco depois pedindo mil desculpas e dizendo que as classes de jornalismo – público principal daquela palestra – estavam todas na tal manifestação-surpresa organizada pelos alunos. E agora, José? Pois é. Lira tinha todo o direito de ir embora. Afinal, fazer palestra para três pessoas? Onde já se viu? É, mas nós vimos. Com a maior generosidade do mundo, Lira saiu com essa: “Se vocês quiserem, fico aqui e a gente bate um papo”. É claro que a gente quis. E é certo que eu quase morri de felicidade. “O papo” durou cerca de duas horas. Consegui fazer vááááááárias perguntas, tirei dúvidas e ainda pude ouvi-lo discorrendo apaixonadamente sobre seus livros, metodologia de trabalho, dificuldades específicas sobre o fazer biográfico, “causos & bastidores” etc, etc, etc.


Padim Ciço, que, ao que parece, tá me dando a maior força

Sensacional é a única palavra que me ocorre pra dizer o que foram aquelas horas em que tive uma espécie de consultoria/assessoria particular sobre a arte de narrar histórias verídicas. Jamais conseguirei agradecer Lira à altura. Seus relatos sobre a biografia inédita de Padre Cícero, então, foram um deleite! Fiquei curiosíssima e, assim que o livro chegar às livrarias, estarei na porta, esperando. É nítido que Lira é apaixonado pelo que faz e, por isso mesmo, fala sobre seus biografados com um entusiasmo gigantesco.

Mesmo assim, não deixou de expor as dificuldades que a atividade impõe: pesquisas intermináveis, quilos de entrevistas, pilhas de documentos a serem checados/cotejados, extremo jogo de cintura para lidar com vaidades, medos, opiniões, frustrações e expectativas dos biografados (quando vivos) e também de seus familiares, amigos, colegas de trabalho. E, ao final, ainda há a receptividade do mercado, dos editores, dos leitores, dos críticos.

Sei que estou apenas começando. Mas, ao que parece, Padim Ciço está ao meu lado nessa empreitada. Amém. Amém. Amém.