terça-feira, dezembro 19, 2006
Vó benzedeira
Menina com quebranto?
- Reza de acalanto!
Ramo de arruda na mão.
E lá vinha a vó benzedeira:
feiticeira do sertão.
Curar as dores do corpo,
as mágoas do coração.
A mão empunhava as folhas
e a coreografia de cruz,
tinha início de repente
(de certo invocando Jesus).
Que será que a vó dizia
em ritmo meio atonal?
A face cheia de vincos –
como um trajeto ancestral...
Guardiã de mil segredos,
rugas de tempo e de sol.
Olhava pro firmamento
E entoava um só refrão.
Em línguas desconhecidas
chamava espíritos bons.
Morgana da terra seca.
Deusa grega disfarçada,
princesa de Bagdá!
Senhora de cantorias
com influências de além-mar.
Fada, bruxa, rezadeira,
índia, africana, mãe-terra
Gaia de todas as eras...
Alquimia feminina...
Herança que me mantém.
Maria, cheia de graça!
Sertão ecoando: amém!
Goimar
São Paulo
08/12/06
terça-feira, dezembro 12, 2006
Tempestade
Foi de repente.
Uma chuva de sentimentos me inundou.
Transbordei.
Raios e trovões atingiram meu peito,
que ardeu em chamas
num desejo infinito.
Minha alma se liquefez.
Chorei torrentes
que alagaram minha vida,
engoliram minhas crenças,
costumes, trejeitos.
Tentei me agarrar aos destroços,
mas saí ferida.
Então, abri os braços e
capitulei...
Mas ao me ver vencida,
nua, exposta, entregue...
A tempestade perdeu o interesse.
...E me atirou na areia da praia.
Caí sem forças, apática,
como um sargaço...
Jazi ali sozinha
até que a paixão chegou à
decomposição total.
Renasci dois anos depois.
Sim... Mulheres são Fênix.
Goimar 10/12/06
São Paulo
sexta-feira, dezembro 08, 2006
Tédio em Lá Maior
Ensaio um poema nobre
na curva das horas vagas
as nuvens desvendam o escuro
da noite que não se acaba.
Atenta, reverto o ócio
transformando em poesia
a brusca poeira densa
que rege a monotonia.
A morte é a estrela guia
namora e quer enlaçar
o dorso do ser humano
que foge a perambular.
A vida e os seus mistérios
refletem cada momento
nas linhas do meu poema
feito pra passar o tempo.
Goimar Dantas
Santos, 1992.
terça-feira, dezembro 05, 2006
Parto
Poesia, cadê você?
………………….......
Silêncio.
............................
Ela ainda é só uma idéia.
................................
Faltam mar e chuva nesta madrugada.
.........................................................
E ela está esperando água.
Pra jorrar.
Fecundar.
Romper a bolsa que a acolhe.
Dar adeus ao útero.
E então nascer.
Chorando alto.
Plena de vida.
Faço força.
Sinto as contrações.
Sei que virá.
Porque de vez em sempre
me desfaço em água salgada.
E de quando em vez,
meus olhos chovem...
Torrencialmente.
Nascida das minhas águas,
a poesia vem...
me olha ternamente
e vira o rosto pra sugar meu peito, com doçura voraz...
Tem versos de chuva.
Ritmo de mar.
Lírica.
Vai se chamar Lírica!
Goimar Dantas
30 de novembro de 2006.
São Paulo
Madrugada. 1h52
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