terça-feira, dezembro 19, 2006

Vó benzedeira



Menina com quebranto?
- Reza de acalanto!
Ramo de arruda na mão.
E lá vinha a vó benzedeira:
feiticeira do sertão.
Curar as dores do corpo,
as mágoas do coração.
A mão empunhava as folhas
e a coreografia de cruz,
tinha início de repente
(de certo invocando Jesus).
Que será que a vó dizia
em ritmo meio atonal?
A face cheia de vincos –
como um trajeto ancestral...
Guardiã de mil segredos,
rugas de tempo e de sol.

Olhava pro firmamento
E entoava um só refrão.
Em línguas desconhecidas
chamava espíritos bons.
Morgana da terra seca.
Deusa grega disfarçada,
princesa de Bagdá!
Senhora de cantorias
com influências de além-mar.
Fada, bruxa, rezadeira,
índia, africana, mãe-terra
Gaia de todas as eras...
Alquimia feminina...
Herança que me mantém.
Maria, cheia de graça!
Sertão ecoando: amém!

Goimar
São Paulo
08/12/06

Um comentário:

Anônimo disse...

Menina!!!! Bom dia!

Estou meio extasiado ainda! Acabei de ler sua linda alegoria da Tempestade
(ou Maremoto). Curioso: esse poema, talvez pelo campo semântico, talvez pelo
campo lexical, em outras palavras, pelo sentido e pelo uso de palavras
afins, me remeteu ao seu esplendoroso Maresia. Ambos, para mim, no meu
espírito, se completam, um com a intensidade de algo do momento, Maresia, e
este maravilhoso Tempestade/Maremoto com o recolhimento dos momentos
intensos e marcantes da vida do eu-lírico. Belo, belo, belo, sem nada a ver
com Bandeira!
Caracas! Já o delicioso e extraordinário Vó Benzedeira é mais um dessa sua
linha de recuperação dos sentimentos familiares, ora o pai, ora as vozinhas,
também me lembrou o inefável Baianidade Grega, numa versão diferente, é
claro, mas com a analogia dos sentimentos. Estou extasiado de novo, por
causa de poemas seus. Vc não é fácil não, minha poetisa predileta de todos
os tempos, apesar de Cecília Meireles e Florbela Espanca também ocuparem
lugar de destaque.
Beijo.
Prof. Leo Ricino
Vice-diretor da Faculdade de Letras da unisa