terça-feira, dezembro 30, 2008

Palavra e canção

Parte I (1,2)




Em agosto de 2008, o professor de literatura, escritor e músico José Miguel Wisnik reuniu-se com o também músico, professor de literatura e escritor Arthur Nestrovski para mais uma aula-show, dessa vez na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro. Na ocasião, os dois contaram com a participação da cantora Paula Morelenbaum. Em meio à voz doce de Paula, Wisnik e Nestrovski mesclaram palavra e canção num bate-papo delicioso sobre os poemas de Vinícius de Moraes.
Eu fiquei fora dessa porque não deu pra largar tudo aqui e ir para o Rio de Janeiro... Mas, Deus é pai e um digníssimo filho dele teve piedade dos mortais e postou a aula no You Tube. Aqui, vocês encontram apenas os dois trechos iniciais do sarau, só pra dar um gostinho.
Felizmente, tive muitas oportunidades de ver tanto o Wisnik quanto o Nestrovski em aulas e cursos aqui em São Paulo. Sou fã de carteirinha dos dois e acho uma verdadeira dádiva poder ouvi-los.
Nesses vídeos, eles cantam e encantam e, depois de cada música, uma explicação muito bem-vinda nos convida a refletir sobre a obra genial de Vinícius.

Bom, eu sou uma apaixonada pela palavra e, ao meu ver, a mistura de música e literatura é um jeito mágico de aguardar a chegada do Ano-Novo. Feliz 2009!



Parte 1 (2,2)

sábado, dezembro 27, 2008

Variações sobre a morada da moça




I

Nos teus olhos de águia
Pra sempre quero morar
E feito moça na janela
me debruçar sobre eles
pra ver o mundo passar...


II


Moro em teus olhos de águia
E lugar mais bonito não há
De lá vejo todo o mundo
Mergulho em poço profundo
E querendo posso voar
Me posiciono em seus cílios
Salto no vento e deslizo
Nas lágrimas que derramar
Passeio por suas faces
E sigo até sua boca
Minha vereda, meu lar.


Imagem: Person at the window, Salvador Dali, 1925.


Goimar Dantas
São Paulo
27-12-08

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Post passarinho




Moro num condomínio de luxo.
Ou não é luxo ter beija-flores, todos os dias, invadindo o espaço de minha varanda para beber água?
Já tive a pretensão de fotografá-los, mas nem minhas mãos nem o disparo do click jamais conseguiram ser tão ágeis quanto eles.
Talvez o problema não seja realmente o modo acelerado como surgem e se vão e sim o número insuficiente de minhas tentativas para eternizá-los. A verdade é que freqüento muito pouco minha varanda. E nisso, não há nenhum luxo...
Já são seis anos vivendo neste endereço e posso contar nos dedos as vezes em que permaneci mais de cinco minutos lá. E por quê?

Ao olhar pra trás, vejo que 80% do meu tempo se transformou em palavras. E para dar à luz a elas permaneço em média dez horas por dia, em trabalho de parto, no escritório minúsculo de paredes lilases. Uma tentativa alucinada de trazer ao mundo um sem-número de beija-flores semânticos e sintáticos. Palavras voadoras que por vezes fugiram arredias só porque parei para tomar água, comer, olhar para o lado... Quantas vezes não deixo o escritório tarde da noite e, quando já estou deitada, novas palavras-beija-flores passam voando em velocidade acelerada, tornando impossível que eu as alcance com instrumentos primitivos como o lápis e o bloco de anotações que mantenho em meu criado-mudo...

Palavras são meu único vício. E quando as uso como metáfora para beija-flores é porque, no fundo, sei que estou mais uma vez trocando o real pelo imaginário. Minha varanda é palpável. Está lá. Mas, por algum motivo, ao invés de aproveitá-la um pouco mais, cá estou eu, escrevendo sobre ela no mesmo escritório pequeno, apesar da suavidade lilás das paredes.



E lilás também é a cor da camiseta de passarinhos que encomendei da minha amiga Cássia logo que a vi no blog Sobre meus amores... Usando uma arte diferente, Cássia também luta para captar pássaros – só que os dela se transformam em lindas produções têxteis... Então, achei por bem interromper um pouco o texto e ir, uma vez mais, até a varanda, empolgada para unir passarinhos reais, passarinhos-têxteis e passarinhos-texto. Desses que luto para deixar voando por sobre linhas e páginas como essas.

E em homenagem aos passarinhos e às palavras, segue uma das músicas que mais amo no mundo – numa interpretação linda da deusa Badi Assad.




Goimar Dantas
São Paulo
17-10-08

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Haikai do escândalo





A última da estação?
Foi a Primavera que fugiu,
faceira, com a chuva de Verão.

Goimar Dantas
São Paulo
21-12-08

sábado, dezembro 20, 2008

Um clássico




É sábado à noite, mas os meus prazos não querem nem saber. Por isso, estou trabalhando há horas. Cansada e já com a criatividade na linha do subsolo, decidi tomar uma overdose de humor. Então, acessei o you tube pra assistir, pela segunda vez na semana, um quadro clássico de Os trapalhões.

Aliás, acaba de ser lançado um DVD reunindo os melhores momentos da trupe, num total de 11 horas de programa. O jornal Folha de S. Paulo deu matéria dizendo que os extras são pobrinhos e que depois de tanto tempo de espera, o ideal seria que o DVD estivesse melhor organizado (talvez por temas, como eles sugerem). Mesmo com esses probleminhas, eu e minha irmã, fãs de carteirinha de Renato Aragão, Zacarias, Mussum e Dedé estamos em polvorosa pra ver quem compra ou ganha o tal DVD primeiro.

Reparem no texto delicioso e politicamente incorreto desse quadro que postei aí intitulado “A filha do seu Faceta”. Concordo com o pessoal da Folha quando dizem que esse quadro representa toda a ousadia do grupo, especialmente quando citam a cena clássica do filme O último tango em Paris, em que Marlon Brando usou manteiga para... Bem... Vocês sabem...

Ao lado do Sítio do Picapau Amarelo e dos filmes do Jerry Lewis, Os trapalhões compõem a trinca criativa que mais me influenciou na infância. E é nela que busco apoio quando estou como hoje: cambaleando e quase sem forças.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

À procura de Bandeira




Onde está você, Bandeira do meu querer?
Onde está, por que não vejo?
Bandeira flâmula e desejo...
Onde está? Meu peito chora!
Sem você, é só a cinza das horas...
Onde está? Que estou em chamas!
Me molha de verve, poeta, declama!
Onde está sua libertinagem?
Talvez no ritmo dissoluto das minhas vontades…
Onde está, meu carnaval?
Pois, quero pular contigo,
De verso em verso, dançando
De mãos dadas, namorando
Estrela da vida inteira
Só no seu peito brilhando.


(Mestre Manuel Bandeira é sempre uma fonte de inspiração. Para ler meu primeiro poema em homenagem a ele, clique aqui)

Goimar Dantas
São Paulo
18-12-08

terça-feira, dezembro 16, 2008

A música do dia



Impressionante como algumas músicas parecem ser feitas sob medida pra determinados dias da vida da gente. E hoje, Vapor Barato é que está dando o tom de cada hora, minuto e segundo. E olha que o dia ainda está na metade...

Talvez seja porque “Ah, sim… Eu estou tão cansada..." e “Ando tão à flor da pele, que qualquer beijo de novela me faz chorar...”.

Ou ainda porque tudo o que eu mais queria era algo como: “tomar aquele velho navio...

Afinal, “Eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus”.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

My space


Não dou. Não vendo. Não troco.


Esse quadro é uma das minhas paixões.



Os que estão ao alcance das mãos.



Altamente recomendável.

domingo, dezembro 14, 2008

Capitu no século 21



Eu não consegui ver toda minissérie, infelizmente. Perdi dois capítulos. Mas o que vi foi suficiente pra me sentir tomada por uma atmosfera onírica, encantadora. Luiz Fernando Carvalho e sua equipe tiveram a coragem de mesclar um clássico machadiano com o pop, com linguagens variadas que iam do vídeoclip à ópera. E isso já é digno de respeito.

Na arte, ousadia é um componente importante. E é preciso ir além, transcender, não se deixar engessar por fórmulas, pelo peso do autor, pelo peso da obra... É claro que essa mesma ousadia dá margem a acertos e equívocos. Nem tudo foi perfeito na minissérie global. Aqui e ali, a sucessão dos capítulos anunciados a cada um, dois minutos, davam às cenas um quê de cansativas. Mas, isso foi o de menos, na minha modesta opinião.

O respeito ao texto prevaleceu em meio aos malabarismos visuais. E é importante pontuar que eu nunca entendi malabarismo como algo pejorativo. Ao contrário. Malabarismos me cativam com freqüência justamente porque gosto de fixar meu olhar no vaivém de muitas coisas. Penso que é uma metáfora boa para vida – que, cada vez mais – exige que depositemos nossa atenção (e nos equilibremos) sobre acontecimentos múltiplos e simultâneos.

Em todas as críticas sobre a minissérie, a trilha sonora ganha parágrafos elogiosos e não poderia ser diferente. Sem dúvida, foi um trabalho espetacular do Tim Rescala. Mas também me chamou a atenção a capacidade inventiva de Carvalho que, sem recursos financeiros suficientes, teve de trabalhar com um cenário teatral – sem externas!!!!! –, fato que exigiu uma dinâmica e uma criatividade muito superiores às de outras minisséries exibidas pela emissora, seja na edição, na criação de figurinos e na confecção de todo o processo, em geral.

Achei fenomenal, por exemplo, o modo como a equipe resolveu certas imagens sugeridas no texto Machadiano, tal como a famosa cena do muro em que Capitu, na adolescência, escreve seu nome junto ao de Bento. Na minissérie, Carvalho simplesmente inseriu os dois atores deitados sobre um quadro-negro, com um giz na mão, sempre emaranhados em seus próprios cabelos cacheados... A câmera passenado por sobre os dois... Suspirei umas cem vezes vendo essa cena. Aliás, o modo como Carvalho explorou os cabelos dos protagonistas merece uma análise à parte. Mais lirismo e beleza, impossível...


Pierri Baietelli interpretou Escobar

Também achei fantástico o jeito como o diretor conduziu a cena em que vemos o afogamento de Escobar. Na ausência do mar, um cenário repleto de véus e plásticos azuis, serviu como pano de fundo à atuação majestosa do jovem Pierre Baitelli. Aliás, a maioria dos atores, desconhecidos do grande público, deram um show. Adorei a Capitu menina composta por Letícia Persiles. Muito mais intensa, encantadora, complexa e interessante do que à Capitu adulta de Maria Fernanda Cândido. Também fiquei positivamente assombrada com o Dom Casmurro criado por Michel Malamed. Gostei também do José Dias, de Antônio Karnevalle.

Penso que é maravilhoso qualquer esforço para evidenciar a literatura, o texto e as histórias de grandes autores. É um passo, um caminho, uma porta aberta para a obra. É óbvio que Carvalho é uma pessoa e Machado de Assis outra. Carvalho vive no século 21 e Machado passou grande parte de sua vida no XIX. Mas esse encontro fica ainda mais rico por conta dessas diferenças.

E que venham outras minisséries. E que venham novos diretores. E que Machado e tantos outros autores possam ter um diálogo (mínimo, que seja!) com o público da época que vivemos.

Abaixo, pra quem não viu (e também pra quem viu e quer rever)um vídeo lindo que dá idéia do que foi a minissérie.

sábado, dezembro 13, 2008

O poder dos vendavais


“Eu estou no meio do vendaval!”. Há uns 10 anos, num trem de metrô, ouvi essa frase de um rapaz muito bonito e completamente alterado. Ele tinha os olhos esbugalhados e percorria o vagão de ponta a ponta, ensandecido, encarando os passageiros e gritando: “Eu estou no meio do vendaval! Eu estou no meio do vendaval!” Posso viver 100 anos, mas nunca esquecerei nem da frase nem dos trejeitos enlouquecidos do moço. Sua loucura e desespero lembravam os de Hamlet quando descobriu que seu pai fora assassinado num golpe sórdido arquitetado pelo próprio irmão.


(Pausa para um parêntese enorme: falando em Hamlet, fui ver essa peça em julho, pouco depois da estréia com Wagner Moura, aqui em São Paulo, no Teatro da Faap. Recomendo vivamente. Na foto acima, vocês vêem a armadura do personagem principal, que já estava no palco antes mesmo de a platéia entrar. O Hamlet com pegada moderna nos cenários, figurinos e coreografias me agradou muito. Embora alguns dos meus amigos tenham concordado com parte da crítica achando a interpretação de Moura excessiva. Mas se o próprio príncipe da Dinamarca criado pelo bardo inglês não era excessivo, então... Bem... Então, eu não sei o que é excessivo...)

Voltando ao rapaz do metrô, tudo indica que estava sob o efeito de drogas, mas isso não vem ao caso. O que importa é que achei a frase linda, impactante, shakespereana, poética... E volta e meia ela me vem à mente, dominando meus pensamentos.

Quem me dera ter coragem de, às vezes, sair por aí totalmente shakespereana, soltando as feras e gritando em alto e bom som: “Eu estou no meio do vendaval!”. Talvez aliviasse a tensão...

O fato é que tem muita coisa acontecendo, ao mesmo tempo, na minha vida e, pra dizer a verdade, prefiro assim... Trabalhos diversificados são bons porque a gente aprende muito, mas, quando vêem juntos e em excesso (sim, eu sei o que é excesso), costumam trazer com eles preços altos, além de uma cor, um desalento e uma vontade.

Os preços altos são os prazos apertados, o estresse, a correria. Já a cor é o cinza escuro que dá o tom das minhas olheiras, que, tudo indica, nunca mais irão embora. O desalento é a montanha de livros e revistas que tenho de ler e não sobram horas vagas. E a vontade é a de, às vezes, largar tudo e ir ao cinema. Ou então gritar, como o rapaz alterado que encontrei no metrô.



Mas eu sou covarde em demasia e jamais sairia gritando por aí. Por isso, optei por, noite dessas, mandar tudo às favas e aceitar o convite do meu bem meu “Mau” pra ver Vicky Cristina Barcelona, do Woody Allen. Adorei, embora as discussões sobre relacionamentos amorosos nos filmes desse diretor me dêem aquela sensação de déjà vu. Mesmo assim, relacionamentos amorosos compõem um dos meus temas preferidos e, por isso, se mil vezes Woddy Allen ainda filmar nessa vida, mil vezes eu irei ao cinema...

Penélope Cruz, que interpreta Maria Helena, está linda, intensa, divertida, sendo responsável pelos melhores momentos do filme. Scarlett Johansson (Cristina) está linda, linda e linda (no mais, acho que fez o dever de casa e decorou as falas. E já está ótimo. Se eu tivesse aqueles olhos, aquela boca e aquele TUDO o mais que ela tem acho que nem isso eu faria...). Brincadeiras e devaneios à parte, penso que realmente ela estava melhor em Match Point e em Lost in Translation. Talvez tenha ficado meio perdida por dividir a cena com outras beldades... Afinal, além de Penélope ainda tinha Rebecca Hall (que achei ótima), interpretando Vicky.

Já o nosso Javier Tudibom Bardem continua o mesmo. Um ator visceral e, nesse filme, charmoso até a unha do dedinho do pé. E, falando em charme, adorei aquela cena do restaurante em que ele - interpretando um pintor moderníssimo - aparece de camisa vermelha, barba, cara de cafa e um discurso filosófico existencial decorado sob medida para seduzir moçoilas. Pois é nessa hora que ele faz o convite, por assim dizer, indecoroso, e que se torna o mote do filme. Bem, indecoroso ou não, eu aceitaria qualquer convite feito pelo Javier Bardem... Pena que certas coisas só acontecem mesmo na ficção... E é por essas e outras que eu escrevo - estando ou não em meio a vendavais.

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Entre dois amores


Verônica imitando Amy Winnehouse

Desde que Verônica aprendeu a dizer a palavra mãe, a confusão se repete. Eu sempre atendo ao chamado respondendo algo como: “Sim/Oi/Fala/Tô aqui, filha...”. É automático. Fica uma situação muito estranha, por vezes constrangedora, e todo mundo me olha com cara de “Xi, tá doida mesmo...”. Geralmente isso acontece quando ela vem nos visitar ou quando vou lá, na casa dela. Nessas horas, minha irmã Zilmara fica passada, sem acreditar que o engano ainda continue ocorrendo mesmo depois de tanto tempo. Sim, porque Verônica, 11 anos, não é minha filha. É minha sobrinha.

Costumo justificar o equívoco dizendo que devo ter sido sua mãe na outra encarnação e, como ela já sabia o que a esperava, resolveu não repetir a dose neste transe terrestre e optou por voltar na barriga da minha irmã. Garota esperta. Afinal, minha irmã é muito mais divertida e low profile. Tem uma disposição incrível pra ver seriados e dvd’s, uma ironia e uma inteligência superiores às de Woody Allen e, ainda por cima, sabe operar aparelhos eletrônicos de última geração sem dar vexame. Quem me dera...


Minha irmã junto com sua obra-prima

Minha irmã também sabe baixar música, fazer vídeos seguindo a orientação da internet, manipular três controles remotos ao mesmo tempo... Uma maravilha. Sem contar os cadernos de exercícios (!!!!!!!) que ela desenvolve para reforçar o aprendizado da minha sobrinha. Nunca vi coisa mais fofa, bem feita, caprichada, criativa. E não bastasse isso, aquela que se abrigou no mesmo útero que eu é muito melhor do que Dona Benta quando o negócio é contar histórias às crianças. As de terror, então... Nem se fala. Meus filhos são fãs de carteirinha e rogam a Deus para que ela venha nos visitar mais vezes, doidos para ouvir "A saga da caveira" (ou outras narrativas nessa linha) pela décima vez.


Verônica em Natal, modelando e passando as férias com a gente

Enfim, minha sobrinha sabe das coisas, além de ser uma artista completa. Canta, dança, faz imitações e ainda esnoba jogando xadrez, a danada. Sempre que possível, viaja com a gente nas férias. Mas ela e meus filhos estão tão grandes que eu precisava ter um desses jipões tipo Grand Cherokee pra continuar levando os três com relativo conforto. Quando o lugar é muito longe e vamos de avião, volta e meia levo a Verônica também. Mas nessas viagens, cujas temporadas tendem a ser mais longas, a coisa não dá muito certo... Ela sente muita falta da mãe (a verdadeira) e isso acaba sendo um drama. Fica chorando pelos cantos partindo meu coração de mãe, digo, de tia.

Sou doida por ela. E clicando aqui e assistindo ao vídeo vocês entenderão o por quê.

domingo, dezembro 07, 2008

A premissa de Alice





Eu trago em mim a herança do mundo
E por isso desejos profundos
Estão sempre a me tomar.
Tão fundos que quando vejo
Estou longe da superfície.
E caio em buracos de Alice
Pois só me resta sonhar.


Goimar Dantas
São Paulo
22-11-08

sábado, dezembro 06, 2008

Diário londrino



Quem acompanha esse blog sabe que volto e meia publico posts sobre a viagem que fiz para Londres e para a Escócia, ano passado (setembro de 2007). Lá mesmo, rascunhei todos esses textos, mas eles ficaram guardados a espera de complementos, informações, revisões. Também naquela época, este blog quase não abria espaço para textos em prosa. 99% do que eu publicava aqui eram poesias. Há poucos meses, entretanto, entrei nesse surto “cronista” e confesso que estou gostando.

Então, aí vai mais um capítulo do meu diário de viagem.

“Acordamos tarde, tomamos café e seguimos para o passeio no London Eye, que é uma espécie de roda-gigante londrina moderníssima, com cabines muito amplas que permitem aos freqüentadores uma vista incrível da cidade. Para chegar até ela, enfrentamos uma fila quilométrica, embora muito organizada e, por ser basicamente constituída por turistas, também era completamente multicultural e poliglota. Lembro com nitidez de que, pouco atrás de nós, uma jovem japonesa trajava, de uma só vez, todos os estilos do mundo. A moça parecia um cabide onde se pendurava roupas de tendências e épocas as mais diversas. Era, por assim dizer, um objeto de estudo para pesquisadores da área de moda. Um estudante do tema certamente teria orgasmos múltiplos ao vê-la. Nunca tinha deparado com algo assim. Nem mesmo quando visito a Galeria do Rock, aqui em São Paulo (um lugar onde se cruzam representantes de tribos variadíssimas).

Mais à frente, duas namoradas apaixonadas trocavam carinhos naquela fase típica de começo de relacionamento. Ninguém tem defeitos e é tudo lindo. Muito olho no olho, carícias, sussurros ao pé do ouvido... Ai, que maravilha... Não precisava nem ser fã de quadrinhos pra ver os coraçõezinhos pipocando ao redor das duas. O mais curioso é que, à exceção desta bisbilhoteira que vos escreve, as duas pareciam não chamar a atenção de mais ninguém (assim como a japonesa-cabide). Coisa típica de cidades cosmopolitas, mas, que, por motivos sociais e culturais que renderiam teses, ainda não acontece nas metrópoles brasileiras. Fico pensando nessas três moças em alguma fila daqui. Desviariam completamente a atenção da atração turística e seriam, elas próprias, um evento à parte.

Logo atrás das moças apaixonadas, mãe e filha alemãs conversavam muito baixinho, contidas no sorrir, nos contatos físicos... Contrastavam completamente com as espanholas tagarelas e extrovertidas que também esperavam a hora de ver a cidade lá de cima.



Enfim, chegou a nossa vez de entrar em uma duas enormes cabines do London Eye e, então, a observação que eu fazia das pessoas deu lugar à da cidade. Vista lá do alto, não poderia ser mais bonita com a imponência da sua história milenar. O Big-Ben, o parlamento, as catedrais, o Tâmisa, seus jardins e parques... Meu medo de altura foi, literalmente, para o espaço. Agradeço ao meu bem, meu “Mau” que, como sempre, não deu ouvidos às minhas súplicas de pavor e comprou os ingressos a despeito da minha covardia. Ainda bem. Fico devendo mais essa para ele. As cabines são tão grandes e a velocidade da subida tão ínfima que é impossível se sentir vulnerável. Adorei."

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Sonhos de menina



Histórias de amor geralmente não têm como ser explicadas usando “Aurélio” e “Houaiss”. São e pronto. Levam a gente à loucura e pronto. É assim. Como dois e dois são cinco (já dizia aquele gênio polêmico nascido em Santo Amaro da Purificação).

Mas daí vem a gente querendo escrever sobre essas histórias de amor. Vem a gente querendo entender mais sobre elas. Vem a gente querendo dar um jeito de traduzir o intraduzível...

E lá vou eu tentar explicar meu amor pela música “Sonhos”, do Peninha. Amor de infância, diga-se. Na minha casa, meus pais só escutavam rádio AM. E essa música era um verdadeiro hit nos programas populares.

Nessa época, eu ainda não tinha histórias de amor mal-sucedidas, dessas de arrancar os cabelos. Quer dizer, tinha o Fabiano, um amor platônico da pré-escola. Um menino de olhos azuis, cabelos loiros e totalmente desprovido de qualquer indício de que soubesse da minha existência. Mas eu não sofria com isso. Afinal, ele era bonito mesmo olhando sempre para o lado oposto de onde eu estava. E, naquele tempo, apreciar o belo me bastava.

Poucos anos depois, apesar de ainda não sofrer, mal o rádio iniciava os primeiros acordes de Sonhos, eu ficava lá, com o olhar perdido, imaginando romances tórridos com os meninos da minha classe... Com meninos da minha rua... Com qualquer menino que cruzasse o meu caminho (descrição do meu conceito de romance tórrido na infância: beijo na boca, seguido de sorvete ou vice-versa). Verdade seja dita, não importava o menino. O coitado era um mísero objeto pra que eu pudesse entrar no universo de amor e dor propiciado pela música.

Não é incrível esse poder de transcendência provocado pela letra e pela melodia de algumas canções?

Eu me rendo a elas. E ainda hoje, tantos anos depois, volta e meia crio mundos para poder me entranhar em algumas músicas. Nessas horas, deixo a imaginação dar o tom e vivo outras vidas. Outras paisagens. Transito por outras fronteiras. E dou graças, sempre, pela viagem. Porque toda viagem é um aprendizado. E o que mais me atrai nessa vida é o conhecimento e a possibilidade de experimentar o novo (mesmo quando ele está usando trajes antigos).

E ontem, pude viajar novamente à minha infância, aprendendo um pouco mais sobre ela. Bastou que, para isso, eu encontrasse um passaporte disponível no You tube. Um bilhete irrecusável concedido por Paula Toller. Eu não estava procurando por essa viagem, em específico, mas, como ela surgiu na minha frente, agradeci e embarquei.

E lá estava o novo, vestida de mim mesma, aos 9 anos de idade, sonhando com meninos. E o poder dessa imagem trouxe mais inspiração e alegria ao meu dia. E não bastasse isso, ao me ver menina, escutando Peninha mesclado à voz de Paula Toller, aprendi que os Sonhos vão e voltam, às vezes com vozes, tons, trejeitos e estilos diferentes.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Forró for all


Animação total na pista.


No último sábado, estive no tradicional restaurante Andrade, aqui de São Paulo – famoso pelo forró e pela comida típica nordestina. O objetivo era acompanhar o encerramento da gravação do documentário O semeador de livros, de autoria de Wagner Bezerra. Conforme já expliquei aqui no blog, o filme contará a história do editor José Xavier Cortez, sobre o qual estou escrevendo a biografia, juntamente com a socióloga Teresa Sales.


Os dançarinos Cortez e Inês, numa pausa após a gravação

Cortez é exímio dançarino de forró e freqüenta o restaurante Andrade há 20 anos. Adorei o lugar. O clima da casa não poderia ser melhor. O pessoal é simpaticíssimo e a maioria dos freqüentadores é assídua. A comida é maravilhosa, todo mundo conhece o dono, os garçons, os músicos... Tirei muitas fotos, conheci um monte de gente e, obviamente, também gravei um vídeo do Cortez arrasando no forró, ao lado de Inês, sua parceira de dança há 10 anos. Mas os dois dão um show tão incrível, que acabei me empolgando... O vídeo ficou enorme e pesado demais pra postar aqui...


Os músicos sabem tudo de forró e não deixam ninguém ficar parado

Acabei não resistindo e filmei um pouquinho da performance de outros casais, todos amigos de Cortez. É impressionante como dançam bem. Porém, na minha modesta opinião, o conjunto da obra conta muito e, por isso, o troféu de charme, graça, gingado, estilo e beleza vai para os lindíssimos Alex e Juliana, essa dupla do vídeo logo abaixo. Fiquei boquiaberta, literalmente, e ficaria horas vendo os dois dançando...


Cortez e Inês com Alex e Juliana


Aqui, uma palhinha do casal especialista em "Ginga, charme e estilo"