sábado, dezembro 06, 2008
Diário londrino
Quem acompanha esse blog sabe que volto e meia publico posts sobre a viagem que fiz para Londres e para a Escócia, ano passado (setembro de 2007). Lá mesmo, rascunhei todos esses textos, mas eles ficaram guardados a espera de complementos, informações, revisões. Também naquela época, este blog quase não abria espaço para textos em prosa. 99% do que eu publicava aqui eram poesias. Há poucos meses, entretanto, entrei nesse surto “cronista” e confesso que estou gostando.
Então, aí vai mais um capítulo do meu diário de viagem.
“Acordamos tarde, tomamos café e seguimos para o passeio no London Eye, que é uma espécie de roda-gigante londrina moderníssima, com cabines muito amplas que permitem aos freqüentadores uma vista incrível da cidade. Para chegar até ela, enfrentamos uma fila quilométrica, embora muito organizada e, por ser basicamente constituída por turistas, também era completamente multicultural e poliglota. Lembro com nitidez de que, pouco atrás de nós, uma jovem japonesa trajava, de uma só vez, todos os estilos do mundo. A moça parecia um cabide onde se pendurava roupas de tendências e épocas as mais diversas. Era, por assim dizer, um objeto de estudo para pesquisadores da área de moda. Um estudante do tema certamente teria orgasmos múltiplos ao vê-la. Nunca tinha deparado com algo assim. Nem mesmo quando visito a Galeria do Rock, aqui em São Paulo (um lugar onde se cruzam representantes de tribos variadíssimas).
Mais à frente, duas namoradas apaixonadas trocavam carinhos naquela fase típica de começo de relacionamento. Ninguém tem defeitos e é tudo lindo. Muito olho no olho, carícias, sussurros ao pé do ouvido... Ai, que maravilha... Não precisava nem ser fã de quadrinhos pra ver os coraçõezinhos pipocando ao redor das duas. O mais curioso é que, à exceção desta bisbilhoteira que vos escreve, as duas pareciam não chamar a atenção de mais ninguém (assim como a japonesa-cabide). Coisa típica de cidades cosmopolitas, mas, que, por motivos sociais e culturais que renderiam teses, ainda não acontece nas metrópoles brasileiras. Fico pensando nessas três moças em alguma fila daqui. Desviariam completamente a atenção da atração turística e seriam, elas próprias, um evento à parte.
Logo atrás das moças apaixonadas, mãe e filha alemãs conversavam muito baixinho, contidas no sorrir, nos contatos físicos... Contrastavam completamente com as espanholas tagarelas e extrovertidas que também esperavam a hora de ver a cidade lá de cima.
Enfim, chegou a nossa vez de entrar em uma duas enormes cabines do London Eye e, então, a observação que eu fazia das pessoas deu lugar à da cidade. Vista lá do alto, não poderia ser mais bonita com a imponência da sua história milenar. O Big-Ben, o parlamento, as catedrais, o Tâmisa, seus jardins e parques... Meu medo de altura foi, literalmente, para o espaço. Agradeço ao meu bem, meu “Mau” que, como sempre, não deu ouvidos às minhas súplicas de pavor e comprou os ingressos a despeito da minha covardia. Ainda bem. Fico devendo mais essa para ele. As cabines são tão grandes e a velocidade da subida tão ínfima que é impossível se sentir vulnerável. Adorei."
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