segunda-feira, agosto 31, 2009

"Eles passarão, eu passarinho..."




Eu tenho um "delay" para coisas eletrônicas, internéticas, infernéticas e afins. Quando o Twitter apareceu, eu reneguei por mais de três vezes, infinitamente mais cínica do que o Pedro bíblico. Afinal, eu não sou mulher de me conformar com apenas 140 caracteres e coisa e tals. Mas o tempo passou e vários amigos e escritores que eu amo começaram a tuitar. Então, fui tendo aquela sensação desagradável de mulher do padre: a última a chegar... O negócio foi ficando incômodo, muito mesmo. Só me restou engolir o cinismo e sucumbir. Tô lá faz algumas horas, tentando entender como funciona aquilo e, sobretudo, lutando pra exercer meu poder de concisão. E pra quem quiser bater as asas comigo, basta dar um rasante aqui.

domingo, agosto 30, 2009

Revelações literárias



Adorei essa entrevista capitaneada pelo jornalista Edney Silvestre que, com a competência de sempre, nos traz um bate-papo delicioso com Altair Martins e Ronaldo Corrêa de Brito, ganhadores do Prêmio São Paulo de Literatura. Cada um faturou R$ 200mil - hoje, esse é o Prêmio de maior prestígio no país.

Martins é gaúcho e Brito, que é cearense, vive em Pernambuco. Temos aqui dois autores de lugares e gerações diferentes e cujos percursos literários são completamente diversos. Ambos discorrem sobre processos criativos, dificuldades da profissão, esperanças em relação ao futuro e, extremamente consicentes de seu ofício, traçam um panorama realista da literatura e do mercado editorial no Brasil e no exterior. Imperdível!

terça-feira, agosto 25, 2009

Nós que aqui estamos por vós esperamos



O vídeo acima é um dos meus trechos preferidos do documentário “Nós que aqui estamos por vós esperamos” (Direção e roteiro geniais assinados por Marcelo Masagão, 1999, e trilha sonora de tirar o fôlego, de Wim Mertens). Assisti no último sábado e, durante mais de uma hora, segurei nas mãos imaginárias do diretor e me deixei levar numa viagem inesquecível pelo século 20: ciência, tecnologia, cultura, arte, religião, ritos, mitos, dança, música e guerras sem fim são evocadas e personificadas por meio da presença visual de personagens famosos e anônimos. Pessoas que já se foram, mas que contribuíram – para o bem ou para o mal – para tornar o mundo do jeitinho que é hoje: um misto de caos e beleza, drama e comédia, esperança e descrença.

Fiquei com vontade de sair pelo mundo divulgando o filme. O problema é que como todo bom documentário, esse também é difícil de encontrar para locação. Só consegui vê-lo porque Deus me presenteou com uma vizinha cinéfila que sempre me empresta suas pérolas (obrigada, Senhor!!!!!). Mas, para quem não tem a mesma sorte, minha sugestão é acessar o You tube. O filme está todo disponivel lá.

E para saber mais sobre a obra, aconselho o texto sensível – e bastante detalhado – do historiador Nicolau Svcenko, disponível aqui.

domingo, agosto 23, 2009

Potira Cortez


Com Potira Cortez, na cerimônia do Prêmio Jabuti.


E por ser uma estrela de brilho tão intenso, Potira Cortez, que partiu ontem rumo à constelação que a regia, soube iluminar de forma singular a vida de todos os que tiveram o privilégio de cruzar seu caminho aqui na Terra. Sua presença irradiava uma sensação que era misto de acolhimento, compreensão, doçura e tolerância. Durante quase 40 anos, esteve ao lado de José Xavier Cortez na construção da Cortez Editora e também da Livraria Cortez, especializadas na publicação e venda de livros universitários e consideradas referências no mercado editorial brasileiro.

Potira tinha sempre um sorriso, uma palavra de afeto e um abraço maternal pronto a presentear os que se aproximassem dela. Durante todo esse ano, tive a sorte de poder desfrutar de sua presença. Foi uma honra conhecê-la, entrevistá-la, frequentar sua casa, tomar café da tarde ao seu lado, experimentar seu famosíssimo macarrão natalino, admirar o modo como amava seus animais de estimação.

Quando falava sobre Cortez, dizia: “O Zé isso..., O Zé aquilo..., O Zé gosta assim..., O Zé prefere assado...”, numa sucessão de frases repletas dessa musicalidade própria de quem conhece a fundo os acordes que executa. Por meio de seu olhar e de sua memória, pude conhecer um pouco mais do “Zé” existente dentro do “Cortez”, desvendando o homem por trás do mito. Isso porque para além do Cortez que é editor e livreiro, Potira me apresentou o “Zé” do começo do namoro, o “Zé” que sonhava em tocar sanfona, o “Zé” que inventou uma música para cada uma das três filhas, o “Zé” da roça e do sertão, o “Zé” impaciente, o “Zé” que a chamava de “Nequinha” (diminutivo de “Bonequinha”).

Era idolatrada pela família e durante anos aceitou compartilhar sua casa com sobrinhos, cunhados, primos e amigos do marido que chegavam do sertão para ajudá-lo a construir a editora e a livraria. Como morava ao lado da PUC, não raro também cedia sua residência para abrigar professores e estudantes de mestrado e doutorado vindos de outros estados e até de outros países (amigos de Cortez que não tinham condições de arcar com os custos de hospedagem em São Paulo).

Para além das saudades, é certo que Potira deixará sementes de amor, solidariedade e tolerância. Isso sem mencionar aquele brilho intenso que, de agora em diante, nos iluminará lá do alto.

quinta-feira, agosto 20, 2009

Inspiração



Sou completamente apaixonada por esse vídeo da nouvelle vague e por essa trilha sonora escolhida a dedo para substituir a original. Acho lindo o modo como seus protagonistas estão entrosados, verdadeiramente conectados pelo desejo de realizar a cena com delicadeza e lirismo.

terça-feira, agosto 18, 2009

segunda-feira, agosto 17, 2009

Sobre vésperas e amanhãs



Dei um tempo nas biografias e livros teóricos sobre o e tema. Eu estava precisando desesperadamente de um pouco de romance e poesia nas veias. Então, agora há pouco terminei de ler o maravilhoso Vésperas, de Adriana Lunardi (Editora Rocco, 2002). Prosa poética vigorosa da primeira à última linha. A sucessão de metáforas, o cuidado com a escolha das palavras e a elaboração minuciosa das imagens nas quais as frases desembocam compõem uma experiência única para o leitor, acreditem.

Composta de nove contos, o livro traz uma trama originalíssima fundamentada nas horas que antecederam a morte de nove escritoras que contribuíram para tornar a literatura universal ainda mais fascinante. São elas: Virginia Woolf, Dorothy Parker, Ana Cristina César, Colette, Clarice Lispector, Katherine Mansfield, Sylvia Plath, Zelda Fitzgerald e Júlia da Costa.

Veja esse trecho da contracapa do livro que, na minha opinião, define a obra com perfeição: “São nove contos que traduzem horas extremas, num exercício que transborda os limites entre ficção e biografia, e explora a literatura como tema e inspiração. Vésperas é sobretudo uma metáfora sobre a criação, único poder humano capaz de superar o tempo”. Não dá vontade de ler imediatamente? Foi o que fiz.



Paralelamente à Vésperas, comecei a ler O novo manual de fotografia, de John Hedgecoe (Editora Senac, 2007). Recebi o livro no primeiro dia do meu curso, que logo foi interrompido por duas semanas, devido à gripe suína e coisa e tals. Fiquei arrasada. Não vejo a hora de as aulas recomeçarem, sábado que vem. O livro é um calhamaço e, junto com ele, pretendo ler essas obras incríveis que aparacem na foto acima:

A pequena morte e outras naturezas, de Claudia Lage.
Problemas da Literatura Infantil, de Cecília Meireles
e Romanceiro da Inconfidência, da mesma autora.

Em tempo: à exceção do livro de fotografia, fornecido pela escola, comprei todos os demais no fantástico site Estante virtual e paguei um valor ridículo, incluindo o frete. Aconselho pra todo mundo.



E como a vida não é só feita de madrugadas e leituras, após mais de 60 entrevistas (elas nunca acabam... ainda tenho umas cinco pra fazer este mês), horas e horas de pesquisas que incluíram a consulta a essa pilha de material que vocês veem acima, diversos eventos, almoços e bate-papos em compainha do editor José Xavier Cortez, essa semana farei, pela primeira vez, uma entrevista formal com ele, meu biografado.

É claro que, nesse quase um ano de trabalho, encarei cada uma de nossas conversas como fonte preciosa de informação, mas, na verdade, preferi registrar, primeiro, as entrevistas com dezenas de pessoas que têm(tiveram) grande importância em sua vida. Foram dezenas de parentes, amigos, funcionários e profissionais do mercado editorial que esboçaram meu personagem de acordo com seus pontos de vista, suas lembranças, seus amores, dores, afetos, tristezas.

Agora, chegou a hora de eu arrematar o desenho de Cortez ouvindo o próprio retratado. Já tenho quase duzentas páginas de texto obtidas graças à transcrição dos trechos principais dessas entrevistas. Começo a montar o quebra-cabeças (cortando aqui, ampliando ali e burilando a linguagem) daqui a alguns dias. A previsão inicial era de que eu começasse a redação da minha parte do livro, escrito em co-autoria com a historiadora Teresa Sales, entre junho e julho, mas estou tomando verdadeiros chás de cadeira de vários entrevistados cujas agendas são terríveis. É a vida e vamos que vamos porque eu sou brasileira e não desisto nunca (rs). Enfim, que o espírito de todos os escritores que admiro me ajudem. Amém.

sexta-feira, agosto 14, 2009

À deriva



Semana passada fui ao cinema assistir “À deriva”, de Heitor Dhalia. Adorei. O filme foi bem recebido por jornais e revistas de circulação nacional, mas recebeu críticas pesadíssimas de várias revistas eletrônicas de cinema, todas conceituadas entre os profissionais da área. Mas, sinceramente, andei pesquisando esses sites e vi que os redatores pegam pesado em 90% de tudo o que é levado às telas. Em uma das críticas ao filme de Dhalia, o tom era tão agressivo e debochado que ficou parecendo que o autor do texto era inimigo pessoal do diretor... Pra que isso, gente?

Outro não se conformou em falar mal desse filme, em específico, e aproveitou para relembrar os problemas de Nina e de O Cheiro do ralo, os dois primeiros filmes de Dhalia. Os três trabalhos, por sinal, são universos completamente distintos e essa capacidade de o diretor se reinventar, seja escrevendo, produzindo e conduzindo filmes sobre temas díspares já é, ao meu ver, um ponto mais do que positivo. Na verdade, penso que fazer cinema é uma operação de guerra e valorizo muito quem se atreve a levar a cabo uma empreitada como essa. Só isso já exigira um mínimo de tolerância por parte de quem fica sentado escrevendo e apontando os erros e acertos alheios.

Da minha parte, achei o filme sensível e visualmente um deleite. A trilha sonora do Antônio Pinto (filho do Ziraldo, que inspirou o pai a escrever o livro O menino maluquinho) também é linda. Para além disso, as atuações de Débora Bloch e Vincent Cassel valem cada minuto da projeção. Sobre o roteiro, vamos lá: falar de separação, infidelidade e descoberta do sexo na adolescência parece a coisa mais batida do mundo... E é! Porém, vamos combinar que desde a distribuição das primeiras cópias da Bíblia, cuidadosamente concluídas pelos monges, tudo quanto é historia é batida, né não? O que vale é o jeito que cada um escolhe para contá-las e ponto final.

Não vou ficar dissertando sobre o que eu acho que poderia ter sido melhor no filme... Tô sem tempo e isso está longe de ser o mais importante. O fato é que eu gostei. Muito.

Atualização do post

Em tempo: saímos do cinema quase meia-noite, voltamos pra casa e fomos dormir. Acordei no dia seguinte com o Vicente Cassel na minha cabeça e por lá ele ficou por horas e horas... O cara está um charme e impagável no papel de pai afetuoso. Achei perfeita uma das críticas positivas que li sobre o filme quando o autor disse algo como: "Cassel faz uma interpretação solar. É um astro em torno do qual todos os demais persoangens orbitam". Nem precisava ser tão bonito...

segunda-feira, agosto 10, 2009

Café com Bandeira



Pesquei essa raridade maravilhosa lá no blog da Janaína Pietroluongo, que sempre traz ótimas dicas de literatura, redação e gramática. E vendo esse vídeo delicioso, me deu uma vontade louca, pessoal e intransferível, de tomar café com Bandeira, em alguma casa ou padaria de Pasárgada. Ah... Coisa boa é saber que sonhar pode deixar qualquer segunda-feira mais doce e lírica. Experimente!

domingo, agosto 09, 2009

Dia dos Pais? Não: Dias do Pai...


Beth Carvalho era uma das cantoras preferidas do meu pai. E ele adorava essa música.

Não me lembro de nenhum Dia dos Pais durante a minha infância. Em casa nunca teve essa coisa de datas. Não mesmo. Dia das Crianças? Só soube que existia a partir dos 11 ou 12 anos, quando a televisão apresentava uma avalanche de comerciais de brinquedos e uma programação de desenhos e filmes especiais para a ocasião. Lembro de que a primeira vez que me dei conta disso, movida por tanto apelo publicitário, fui até a cozinha e pedi a minha mãe um presente porque, afinal de contas, eu vira na TV que aquele era o “Dia das Crianças”. Ela fingiu profundo desdém em relação à data e disse que nós não tínhamos dinheiro para essas coisas. Eu, então, respondi com um sincero “Tá bom”, dei as costas e corri para brincar no quintal.

Simples assim: não fiquei remoendo aquilo, não fiquei triste, não me senti a última das criaturas. Trauma era coisa de gente rica. Eu tinha tanta árvore pra subir, tanto pega-pega, queimada, esconde-esconde, corda pra pular... A vida seguia sendo uma festa e não havia Washington Olivetto ou Nizan Guanaes capaz de derrubar por terra esse conceito.

Mas a despeito desse "nem te ligo" pras datas, lembro de que durante uns três anos, no Dia das Mães, eu a presenteava com uns cadernos de receitas que a gente confeccionava na escola. Coisa de quinta, sexta, sétima série... Eu era péssima para atividades manuais. Só conseguia concluir os tais cadernos – sempre encapados com tecidos, aplicações de ilustrações, colagens de revistas e desenhos – com ajuda da professora ou das amigas mais prendadas.

Ano após ano, o suplício se repetia. Até porque criatividade era uma palavra completamente desconhecida para minhas professoras de (Des)Educação Artística. Pior é que minha mãe nunca gostou de cozinhar. Só ia para o fogão porque não tinha mesmo outro jeito, coitada. Mas ela recebia os tais cadernos com uma cara ótima, agradecendo e dizendo que eram bonitos. Ela os tem até hoje, com várias receitas que as mesmas professoras ditavam aos alunos, de modo que os presentes "originais" já chegassem às mães com quatro ou cinco textos explicativos de como preparar guloseimas. Não me lembro de ela ter feito nenhuma delas nessas duas décadas - também nunca cobrei porque sempre entendi que isso seria pedir demais.

Voltando ao Dia dos Pais... Perdi o meu há mais de vinte anos e não sou de ficar jururu no segundo domingo de agosto. Por que ficaria, afinal? Na verdade, vivo o Dia dos Pais diariamente. Estou sempre me lembrando dele, conjecturando a respeito de tudo o que poderia ter sido e que não foi: histórias que não vivemos, brigas que não tivemos e os presentes que eu lhe daria quando adulta, em qualquer data.

São sentimentos, saudades e construções de memórias constantes. E ainda continua não havendo Olivetto ou Guanaes hábeis o suficiente para reduzir essas lembranças e desejos a um único dia do ano. Eles e outros tantos até tentam, mas eu prossigo dando as costas, dizendo “tá bom...” E, quando vejo, já estou me presenteando com a recordação de eu-menina correndo de cabelo solto, brincando no quintal com a molecada e, por vezes, só voltando pra casa quando o pai, com uma braveza ensaiada em anos de cabra-macho do sertão, me colocava pra dentro.

É mesmo simples assim: não há presente que supere uma boa memória.

quinta-feira, agosto 06, 2009

Ensaios


Eu e minha Canon, que batizei de "Capitu", porque, às vezes, acho que ela também lança olhares "oblíquos e dissimulados".


Adoro fotografar livros. E esse é um dos meus preferidos.


No dia em que fotografei essa verdadeira obra-prima da literatura, não tínhamos rosas aqui em casa. Então, improvisei com outras flores.

quarta-feira, agosto 05, 2009

Bundista (ou quadrinha infame)




Subi a pé a montanha
atrás de iluminação.
Consegui foi um bom calo
e uma baita insolação.

Goimar Dantas
Santa Rita do Sapucaí,
22-04-09

terça-feira, agosto 04, 2009

Da essência das coisas




Perfume de lavanda no ar...
É que hoje lavei a alma,
rasguei o verbo
e tirei de letra!


Goimar Dantas
São Paulo
23 de julho de 2009

domingo, agosto 02, 2009

Retrato do artista quando jovem



Prossigo desvendendo os mistérios da minha nova máquina fotográfica. Dentre outras coisas, andei usando Yuri e seu quarto como cobaias de minhas experimentações em P&B. Adorei essa em que ele surge brincando com o violão.



Nessa foto, em que optei pelo detalhe, nada de brincadeira. Yuri é meu baterista preferido, como todos sabem.



Outra em que meu foco era o detalhe do instrumento. Gostei do resultado.