sexta-feira, abril 30, 2010

Bastidores de Cortez - A saga de um sonhador



E esquentando os motores para o lançamento da Biografia Cortez - A saga de sonhador, que acontece na próxima semana (conforme convite no post abaixo) em São Paulo, Recife, Natal, Currais Novos e Campo Redondo, disponibilizo aos leitores deste blog algumas imagens inéditas dos bastidores do processo de produção da biografia.

Nesta primeira imagem, que compõe o encarte de fotos do livro, vemos a miniatura de uma casa de taipa, típica do sertão nordestino, criação dos artesãos Marlos Camilo e Ruy Mazurek. O objeto enfeita o escritório do editor José Xavier Cortez, em São Paulo. Para mergulhar na vida do personagem, fotografei detalhes de sua casa e de seu ambiente de trabalho.



Essa foi uma reunião histórica na Cortez Editora, ocorrida em 23 de outubro de 2008. Histórica porque contou com a presença de todos os envolvidos no processo de investigação sobre a vida de Cortez. Na foto, estamos eu, que começara as pesquisas havia pouco mais de um mês, Teresa Sales, que já se debruçava sobre a vida do personagem há mais de dois anos, e o cineasta Wagner Bezerra, autor de documentário Semeador de livros, lançado em março deste ano. Foi uma oportunidade rara para trocarmos informações sobre Cortez (que aparece à esquerda, todo prosa com tantos admiradores à sua volta, rs!). Essas reuniões eram sempre uma alegria. Isso porque Teresa mora no Recife, e Wagner, em Goiânia. Então, sempre que ambos vinham a São Paulo, aproveitávamos para trocar figurinhas sobre nosso personagem e os diferentes processos de trabalho que mantínhamos em paralelo: a biografia e o documentário.



Enilson é irmão de Cortez e mora no sertão, numa casa vizinha ao Sítio Santa Rita, onde Cortez viveu na infância e na adolescência. Essa foto foi feita no dia em que o entrevistei (no total foram mais de 80 entrevistados, muitos dos quais tive de entrevistar várias vezes, tamanha a quantidade de informações que detinham). Essa imagem não entrou no livro, mas gosto tanto dela... Com paciência de Jó, é Enilson quem cuida para deixar a paisagem próxima ao Sítio Santa Rita tão bonita. Ele planta, colhe, rega, poda... Um sertanejo sonhador em meio ao seu oásis.



Nesta foto, todo mundo feliz da vida no dia em que eu e Teresa assinamos o contrato para a publicação da biografia.



Em quase dois anos de trabalho, esse foi um dos dias mais difíceis de todo o processo de produção da biografia. Quem me conhece sabe que uma das maiores dificuldades da minha vida é ter de acordar cedo... Pois nesse dia tive de estar de pé às cinco e trinta da manhã!! Isso porque tinha de acompanhar Cortez em seus exercícios matinais, no Parque da Água Branca, em São Paulo. Ele começa às 6h30, todo serelepe... Até hoje não sei como consegui fazer tantas fotos e entrevistar seus amigos numa hora que, para mim, ainda é alta madrugada. Foi um sufoco. Pensei seriamente em aparecer na casa de Cortez de pantufas, só pra fazer graça, mas, depois, em nome da seriedade profissional, desisti :)



Aqui, uma imagem do dia 1º de março de 2010, que encerrou em definitivo a captação de notícias para a biografia. O texto já estava praticamente pronto. Mas faltava inserir informações sobre essa festa, no Teatro da Universidade Católica de São Paulo, o famoso TUCA, onde se comemorou os 30 anos da Cortez Editora. Uma semana depois, eu entregava a versão finalíssima da Parte II da biografia (Teresa é responsável pela Parte I).



Durante todo o processo de captação de informações (e também da redação) recorri, principalmente, ao auxílio precioso de dois personagens importantíssimos: o primeiro deles é Leobaldo Dantas Cortez, primo do biografado e dono da memória mais espantosa de que já tive notícia em toda a minha vida. Leobaldo, que hoje trabalha na rede de livrarias Potylivros, que os irmãos de Cortez mantêm em Natal, trabalhou anos com Cortez, em São Paulo, e se lembra com riqueza de detalhes de fatos importantíssimos que me ajudaram a compor essa história.



Outro personagem indispensável na redação desta biografia: José Nizário Gomes, conhecido, entre os amigos do mercado livreiro, como "seu Gomes". Já para a família, "seu Gomes" é chamado de "Dedé". Pois Dedé (como eu ouso chamá-lo também) trabalhou 20 anos com Cortez, em São Paulo, e me ajudou muitíssimo durante esses dois anos de pesquisa e escrita. Dedé foi um revisor atento do conteúdo dos originais que, acredito, deve ter lido umas dez vezes. Geralmente era ele quem fazia sugestões preciosas de histórias que não poderiam ficar de fora, além de, juntamente com Leobaldo, me auxiliar com datas e outros detalhes. Além disso, foi um cicerone incrível que me levou a conhecer a cidade de Currais Novos, onde nasceu Cortez. Fomos, inclusive, na famosa Mina Brejuí, considerada a maior em extração de Scheelita da América do Sul (a scheelita é utlizada, dentre outras coisas, para a confecção de armamentos bélicos).



Nesta foto vemos o núcleo da família de Cortez em São Paulo: Potira (sua esposa, à esquerda , nos deixou em 2009... Fato que, sem dúvida, foi a maior tristeza desses dois anos de trabalho), Mara, Cortez, Miriam e Márcia. Sem os depoimentos sinceros e preciosos dessas meninas, filhas do protagonista, seria impossível conhecer a fundo meu personagem (meninas, obrigada!!!!!).

Bem, eu precisaria de um blog inteiro para agradecer todas as pessoas e também contar mais sobre os bastidores do livro. Mas, cadê o tempo? Vou tentar publicar mais algumas informações até domingo. Por ora, fica meu agradecimento a todos os que me auxiliaram nessa empreitada que exigiu tamanho fôlego. Mil vezes obrigada!!!!

segunda-feira, abril 26, 2010

Cortez - A saga de um sonhador



É com um orgulho imenso que convido a todos para o lançamento da biografia Cortez – A saga de um sonhador, (clique duas vezes sobre a imagem para ver melhor), que escrevi em parceria com a socióloga Teresa Sales. A obra narra a trajetória do editor e livreiro José Xavier Cortez, potiguar radicado em São Paulo há 45 anos.

Na infância e adolescência, Cortez foi lavrador, vendedor de secos e molhados e minerador. Entre os 18 e os 27 anos, serviu a Marinha, de onde foi expulso devido a complicações decorrentes do Golpe de 64. Chegou a São Paulo para começar a vida do zero e, nesse contexto tão comum a milhões de retirantes nordestinos, atuou como office boy, lavador de carros, manobrista, auxiliar de escritório, vendedor de loja de autopeças e, finalmente, vendedor de livros.

E como o sertanejo é, antes de tudo, um forte, em meio a tudo isso, estudou à noite, passou no vestibular da PUC-SP e se formou em Economia. De vendedor de livros nos corredores da universidade, se transformou em um dos maiores livreiros e editores do Brasil. Tivemos a sorte (eu e Teresa) de redigir uma biografia que traz à tona um dos personagens mais surpreendentes da história do Brasil recente: um homem que ousou vivenciar a saga de sonhar, a despeito de todos os obstáculos que a vida lhe impôs.

O evento aqui de São Paulo acontece dia 03 de maio, segunda-feira, com horário bem flexível: das 18h às 21h, na Livraria Cortez, Rua Monte Alegre, 1074, Perdizes (esquina com a Rua Bartira, ao lado da PUC). Também lançaremos em Recife, Natal, Currais Novos e Campo Redondo.

Fica aqui o convite!

sexta-feira, abril 23, 2010

Dia Mundial do Livro



Todo dia 23 de Abril, em que se comemora o Dia Mundial do Livro (suposta data do falecimento de Cervantes e Shakespeare), tenho o desejo fortíssimo de estar na Espanha, onde se celebra a data com o costume de caminhar pelas ruas trocando rosas por livros. Mas, enquanto não vou ao país do autor de Dom Quixote, sigo rendendo homenagens às obras literárias por aqui mesmo.

E hoje, mais do que nunca, estou contentíssima por ter sido presenteada pelo amigo Leo Ricino com 21 livros (lindamente encadernados). Isso porque o Leo vai se mudar e precisou se desfazer de parte de sua borgeaníssima biblioteca, composta por cerca de cinco mil volumes. Devo, portanto, 21 rosas a ele.

Sobre a foto deste post, fiz há tempos. Gosto demais desse livro (clique sobre a imagem para ver melhor), em que temos acesso às cartas que o poeta Paulo Leminski trocou com o amigo Régis Bonvicino.

Nelas, há diversos haikais que tornavam as tais cartas ainda mais belas. Fica a dica de leitura neste dia cuja cor cinza foi ganhando força e tingindo o céu por completo no decorrer das horas - uma paisagem que, por sinal, é um delicioso convite a um chá e a um bom livro.

terça-feira, abril 20, 2010

Hilda Hilst



Quem me conhece sabe de minha paixão por Hilda Hilst. Escritora que foi, ao lado de Adélia Prado, tema de minha dissertação de mestrado, em 2003. Amanhã, 21 de abril, Hilda faria 80 anos. E hoje, em meio ao turbilhão de emoções que vivi (metade por conta do trabalho e metade porque uma amiga muito querida passou por uma cirurgia delicadíssima no coração), recebi um e-mail maravilhoso do Daniel Fuentes, que cuida lá do Instituto Hilda Hilst, em Campinas.

Olha só que notícia boa ele nos deu:

Caros,

O Instituto Hilda Hilst tem a felicidade de comunicar, nesta semana em que Hilda completaria 80 anos, o inicio do processo de tombamento da Casa do Sol, sede do Instituto, e também o lançamento de projeto arquitetônico de reforma e construção de teatro, biblioteca e residência de bolsistas. Recomendamos também reportagem especial sobre Hilda e o futuro do Inst. Hilda Hilst que irá ao ar no programa Metrópolis da TV Cultura, quarta-feira dia 21, as 20:30 hs.


Neste tombamento vale ressaltar a fundamental participação da Academia Paulista de Letras, Unicamp e Ed. Globo, além da amizade e empenho da amiga Lygia Fagundes Telles. Importante valorizar também a parceria com o escritório RBF Arquitetura e Planejamento, responsável pelo projeto arquitetônico para o futuro da Casa do Sol.

Outro evento interessante que circunda esta "semana Hilda Hilst" é o lançamento do livro "Porque Ler Hilda Hilst", de Alcir Pécora, pela Ed. Globo, que contará com pocket-show de Zeca Baleiro e outros eventos interessantes.
Todos estão convidados (dia 21, 16hs, Livraria Cultura do Shopping Pompéia)!

Grande abraço,

Daniel Fuentes
www.hildahilst.com.br



Bom, queria compartilhar a notícia e terminar este post inserindo dois textos. O primeiro é meu soneto preferido nesta vida, que é, claro, de Hilda. O outro é um poema que o Drummond fez para ela. Uma coisa muito fofa, como só ele sabia fazer :) Estou certa de que vocês irão gostar.



Sonetos que não são


Aflição de ser eu e não ser outra.

Aflição de não ser, amor, aquela

Que muitas filhas te deu, casou donzela

E à noite se prepara e se adivinha



Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha

Que te retém e não te desespera.

(A noite como fera se avizinha.)



Aflição de ser água em meio à terra

E ter a face conturbada e móvel.

E a um só tempo múltipla e imóvel



Não saber se se ausenta ou se te espera.

Aflição de te amar, se te comove.

E sendo água, amor, querer ser terra.


(Roteiro do Silêncio(1959) - Sonetos que não são - I)



Agora, o poema do Drummond:


Estrela Aldebarã


Abro a folha da manhã

Por entre espécies grã-finas

Emerge de musselinas

Hilda, estrela Aldebarã.



Tanto vestido enfeitado

Cobre e recobre de vez

Sua preclara nudez

Me sinto mui perturbado.



Hilda girando boates

Hilda fazendo chacrinha

Hilda dos outros, não minha

Coração que tanto bates.



Mas chega o Natal

e chama a ordem Hilda.

Não vez que nesses teus giroflês

Esqueces quem tanto te ama?



Então Hilda, que é sab(ilda)

Manda sua arma secreta:

um beijo em morse ao poeta.

Mas não me tapeias, Hilda.



Esclareçamos o assunto.

Nada de beijo postal

No Distrito Federal

o beijo é na boca e junto.


(Carlos Drummond de Andrade)


Então? Não são duas coisas mais lindas, mais cheias de graça?

terça-feira, abril 13, 2010

O último desejo




Se você me chama,
viro chama:
fogueira de São João.
Labareda cor laranja,
pavio aceso,
explosão!
Se você me chama, fervo:
frevo, danço, rodopio!
Se você me chama,
escorro,
rente à margem do seu rio.
Viro lava in(can)descente,
cujo último desejo
é ser cinza e,
como um beijo,
me espalhar sobre você.

Goimar Dantas
São Paulo,
12/04/2010.

domingo, abril 11, 2010

Minha vida é um caderno aberto



Anotações do curso de documentário, que fiz ano passado. Neste dia, em específico, o palestrante era o documentarista Cao Guimarães, que discorria sobre os seus premiados curtas-metragens, dentre eles, o filme Da janela do meu quarto. Pra assistir a este curta, é só clicar aqui: www.youtube.com/watch?v=9pPiqWJeHZs.

sábado, abril 10, 2010

Curto circuito


Uma das fotos que inseri agora há pouco no Flickr, retratando os salões da Biblioteca do Congresso Americano, que visitei ano passado, em Washington DC.



Tô naquela fase de não saber se assovio ou chupo cana. Ando com muita vontade de escrever crônicas, memórias e declarações de amor, mas cadê o tempo pra revisar os sentimentos?

Nas últimas semanas, tudo tem demandado fôlego de atleta e só me resta acelerar ainda mais. A intensidade desses dias renderia um filme completamente alucinado, marcado por aquele estilo tipo vídeoclip, sabe?

Pois na pista de corrida dessa minha vida, desde que começou o mês de abril, li metade da ótima biografia Padre Cícero, de autoria de Lira Neto, escrevi um monte de textos, revisei, pesquisei, agendei, fotografei, cancelei, briguei, chorei, gritei pra caramba, me decepcionei, andei a pé, de ônibus, de metrô, desci a serra na direção de Cubatão, passei frio, fiquei presa num túnel, esperei, temi deslizamentos (mas era só um caminhão quebrado :P), cheguei à casa da minha mãe, almocei, saí com ela pra resolver assuntos de família (não, infelizmente não é nenhuma herança, rs), fui ao banco, voltei pra casa da minha mãe, tomei café, banho, jantei, aprendi noções básicas de xadrez com minha sobrinha de 12 anos, conversei horrores com minha irmã e, a uma hora da manhã do dia 09 de abril de 2010, tivemos, ambas, o maior ataque de riso já registrado em nossa existência.

De lá pra cá, voltei pra São Paulo, almocei no vegetariano com a editora e grande amiga, Rosângela Barbosa, falamos um monte, rimos outro tanto, voltei pra casa de táxi, respondi um quilo de e-mails, atendi duas dúzias de telefonemas, mandei mensagens de texto (odeio, só uso esse recurso em último caso) e, completamente descabelada, cansada e sem batom, recebi o marido que chegou de viagem.

Depois, fomos alugar três filmes. No mesmo dia, assisti um, debati assuntos profissionais, agendei um sem-número de compromissos pra semana que vem e me dei conta de que terei de ter fôlego redobrado na segunda quinzena de abril (para organizar tudo que preciso fazer no mês de maio). Então, hoje cedo fui à aula de Yoga, porque não me restava outra coisa a fazer pra manter a espinha ereta e o coração tranquilo (sim, porque a "mente quieta" eu não quero não, obrigada).

E entre uma coisa e outra, vim aqui pra dizer que indico vivamente:

1. A biografia Padre Cícero - Poder, fé e guerra no sertão, de Lira Neto. É tudo o que eu esperava e mais um pouco: texto elegantíssimo, história completamente aparentada com o realismo fantástico (adoro!) e uma verdadeira aula de pesquisa biográfica de qualidade.

2. O ótimo As meninas da Torre Hensique, primeiro livro da Adriana Lunardi. Ano passado li os outros dois e também os achei fantásticos. Meu preferido é o terceiro: Corpo Estranho, sobre o qual já falei aqui no blog. Mas, também carrego um bonde pelo segundo livro publicado pela moça: Vésperas.

3. O filme Há tanto tempo que te amo, (Philippe Claudel, 2009), vencedor de dois César e duas vezes nomeado ao Globo de Ouro. Você encontrará ótimas interpretações, tema sensível e, pra quem gosta, a possibilidade de ouvir francês durante uma hora e meia. AMO!:)

4. Gosta de boa música? Então vá no site da Rádio GNT e ouça as 10 Mais, sugeridas pelo crítico musical Arthur Dapieve. Estou completamente apaixonada por toda a seleção.

5. Se você está em São Paulo, não perca o festival de documentários É tudo verdade. Eu nunca consigo ir, mas vai que você tem mais tempo e mais sorte do que eu no quesito "sair de casa pra ir ao cinema"?

6. Gosta de fotografia? Acabei de postar, na minha galeria do Flickr, algumas fotos que fiz ano passado na Biblioteca do Congresso Americano: um dos lugares mais lindos que já vi na vida. Vá lá clicando aqui.


Enfim, é isso. Em breve tenho um montão de novidades! Aguarde!

segunda-feira, abril 05, 2010

Da inspiração à criação


Imagem captada ano passado, na Washington Square, em Nova York


Algumas imagens têm o poder de inundar meu coração com o líquido cálido da poesia.
E uma vez nessa essência mergulhado (como em um rito sagrado), o velho músculo cansado sai, assim, revigorado. E apesar de soldado raso, vê-se apto a bombear, por todo o corpo, simples imitação de vinho do Porto. E o gosto doce se espalha (pela veia e pelos vãos), me embriagando em silêncio: baque de Baco em meu tempo, em meu espaço. Fixa-se assim o laço, entre mim e a criação: espécie de verbo e carne. Mapa entre céu e chão.

Goimar Dantas,
São Paulo,
05-04-2010

sexta-feira, abril 02, 2010

A partida



Assisti A partida (direção de Yojiro Takita, 2008), vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2009, em meio à correria do final do ano passado. Desde então, vinha tentando encontrar um tempinho para comentar sobre ele aqui. Trata-se de um roteiro originalíssimo, apesar de tratar de um tema tão universal quanto a morte. Um assunto, a princípio, denso, mas que o filme consegue abordar com uma surpreendente mescla de humor e drama, pontuada com interpretações de sensibilidade rara.

Trama, diretor e elenco nos levam a refletir sobre a única certeza indiscutível que, um dia, nos tomará nos braços. E o que é, afinal, a morte? É possível enfrentá-la com dignidade e sabedoria? Como deve ocorrer esse rito de passagem? Com simplicidade máxima ou pompa e circunstância? É possível encontrar forças para sorrir quando a vida de uma pessoa que amamos é ceifada? Como irão reagir os que estão à volta daquele(a) que se foi? O que deixar como legado? E os assuntos não resolvidos? E as mágoas? De que modo esses e outros sentimentos continuarão existindo no tempo e no espaço? Se é que continuam...

O interessante da história é que para tratar desses temas, culturalmente vistos como profundos e filosóficos, roteiro e direção optaram por um caminho inusitado: antigos rituais fúnebres nipônicos. Na trama, um violoncelista recém-casado perde seu emprego em uma orquestra sinfônica e decide voltar para sua cidade de origem, onde sua falecida mãe lhe deixara, como herança, a casa onde viveram. Lá, ao interpretar de forma equivocada um anúncio de emprego publicado em jornal, o rapaz vai parar em uma agência funerária especializada, justamente, em belíssimos (acredite, são lindos) rituais fúnebres.

A necessidade econômica faz com que o jovem aceite o trabalho, a despeito de seus próprios medos e preconceitos. É quando tem início sua incrível jornada rumo ao processo de autoconhecimento, que ocorre paralela à descoberta de seu talento tão singular.

Vida e morte, superações e limitações, perdas e perdões, separações momentâneas e definitivas, alegria e tristeza, solidão e companhia são temas que permeiam esse filme que, com delicadeza oriental, é capaz de nos fazer rir e chorar. Muito mais do que o Oscar já conquistado, a obra merece – na minha modesta opinião – um lugar todo especial no coração da gente. Pra quem ainda não viu, fica a dica.