sexta-feira, julho 30, 2010

Minutos de sabedoria



A escritora e jornalista chilena Isabel Allende é movida à paixão. Paixão pela arte de contar histórias. Paixão pelas causas ligadas à temática feminina. Vale muito a pena reservar um tempinho (17 minutos, sendo mais exata) para ouvir essa mulher que já viu e viveu muitas coisas e que, melhor ainda, desenvolveu sensibilidade e atenção especiais às causas verdadeiramente importantes.

Nessa palestra tão deliciosa quanto surpreendente, ela nos conduz por muitas reflexões e histórias reais, dentre elas, duas ou três que, diga-se de passagem, conseguem ser ainda mais impressionantes do que tudo o que a chamada literatura fantástica já ousou produzir... O vídeo tem legendas em português, basta clicar em "view subtitles" e selecionar este idioma. Eu recomendo muitíssimo.

sábado, julho 24, 2010

José, Pilar e um devaneio



Estou contando os dias pra assistir José & Pilar, do diretor Miguel Gonçalves Mendes. O filme aborda a relação do escritor português José Saramago com a jornalista espanhola Pilar del Rio, sua esposa durante mais de 20 anos. Eu poderia postar só o trailer do filme, já disponível no You Tube, mas preferi a matéria exibida pelo ótimo programa Entrelinhas, da TV Cultura, porque vai além e traz uma bela entrevista com o diretor.

Adoro filmes dessa natureza porque me interesso muitíssimo pelas pessoas, pelo modo como se portam no mundo, por seu processo de trabalho, suas escolhas, amores e lugares onde, por motivos vários, decidem habitar. Gosto de saber sobre suas manias, idiossincrasias, desejos, erros, acertos.

Gosto de observá-las por ângulos variados, de enveredar por seus labirintos, mistérios, memórias. Sinto prazer em acreditar que as conheço profundamente, mas também gosto quanto me surpreendem provando que isso é impossível. Quero saber quais suas músicas e livros preferidos, conhecer seus ritos, identificar seus gestos mais repetidos, suas qualidades, defeitos, segredos. Gosto tanto do ser humano que me espanto.

A vida de uma pessoa me interessa tanto quanto sua obra. No que se refere a escritores, por exemplo, adoro descobrir que fulano escreveu determinado texto porque estava apaixonado por beltrana ou influenciado por isso ou aquilo. Gosto de cruzar informações, de intertextualidades, influências. Gosto de ler cartas trocadas entre pessoas que já se foram ou que ainda vivem (mas que mal se lembram de que um dia escreveram as tais cartas). E é mágico sentir que o que descrevem entra pelas retinas da janela da minha alma como se fosse um filme, um livro, uma cena de um grande clássico.

Gosto de resgatar histórias empoeiradas, adormecidas no interior de gavetas, baús, caixas, corações. Gosto de trazer à tona lembranças repletas de carinho, amor, dor, humor. Histórias que corriam o risco de serem para sempre apagadas das linhas do mundo, não fosse a minha intervenção tão indiscreta.

Por isso escrevo: para tentar eternizar pessoas, histórias, coisas, eventos. Pura pretensão, eu sei... Mas uma pretensão que me faz muito, muito feliz.

Em tempo: dedico esse devaneio a todos os Josés e Pilares do mundo.

sexta-feira, julho 23, 2010

Yuri superstar



Quem acompanha esse blog sabe: meus filhos têm lugar cativo por aqui. E já faz um tempo que eu estava querendo postar a vertente "Billy Eliot" de Yuri, meu primogênito. Os três leitores fiéis deste blog já devem ter lido em minhas confissões anteriores: eu não danço nada, infelizmente. Porém, Yuri parece ter herdado a cadência, a malemolência e a capacidade espetacular de requebro de boa parte da minha família que, tipicamente nordestina, costuma se esbaldar com extrema categoria pelos arrasta-pés da vida.

A coisa é sofisticada: a maioria arrasa no forró, mas tenho primas e primos que vão além e mandam ver em diversas modalidades. Nesse contexto, minha ausência de molejo nas pistas pode ser encarada como um daqueles mistérios verdadeiramente insondáveis, que insistem em residir entre o céu e a terra de minha vã filosofia. Tergiversações e lamúrias à parte, tá aí o vídeo mais recente que meu Fred Astaire e seus amigos inseriram no You Tube. Trata-se da apresentação do grupo de dança que acabaram de criar, denominado: "Star Company", especializado na mais nova modalidade da dança contemporânea adolescente: o free step.

É também o primeiro vídeo estilo "superprodução" dos meninos, uma vez que foi gravado em duas locações: nas dependências do condomínio onde moramos e no cenário exuberante do Parque Villa-Lobos, em um lindo dia de sol deste inverno. E lá no Villa-Lobos, os integrantes do grupo se apresentam e finalizam o vídeo com o que chamam de "combo" (que é quando todos dançam juntos). Enfim, um deleite pra mãe coruja nenhuma botar defeito.

domingo, julho 18, 2010

Do sentido das coisas




Um poema poderá, quem sabe,
aquecer esse coração que pulsa trêmulo
de frio.
Então será como aquele cobertor que o pai,
tomado de amor, espalhou sobre a filha
numa madrugada fria da infância.
O cobertor era roto.
Mas o amor do pai...
Esse era de um acolchoado nobre o suficiente para aquecer a menina.
Trinta anos depois, o poder e o calor daquele amor
enchem uma recordação de sol e saudade.
Uma memória rara.
Um poema.
Finalmente o inverno faz sentido.

Goimar Dantas
São Paulo
18/07/2010.

domingo, julho 04, 2010

Memórias de Lobato


Com Dona Hilda, ao centro, e parte da equipe da biblioteca Monteiro Lobato.

Aos seis anos, toda a minha fantasia morava no Sítio Pica-Pau Amarelo, originalmente criado por Monteiro Lobato. Mas, como naquele tempo eu não tinha acesso a livros, meu Sítio era mesmo a reinvenção da obra do grande escritor brasileiro que, justiça seja feita, foi levada às telas de maneira genial pela Rede Globo de Televisão, no final dos anos 70.

Ainda hoje fico comovida quando lembro as inúmeras vezes em que desejei ser Emília, a boneca falante movida à inteligência e impetuosidade. Devo muitas de minhas peripécias infantis a Lobato. Por isso, foi com emoção imensa que, em 30 de junho último, em uma das salas da Biblioteca Municipal Monteiro Lobato, localizada na Vila Buarque, em São Paulo, bati um papo delicioso com uma das eternas crianças marcadas pelo universo originário da obra Lobatiana. Trata-se de dona Hilda Villela Junqueira Merz, hoje com 86 anos.


A equipe leva Dona Hilda para conhecer a graciosa instalação "O poço do Visconde".

Como tantas crianças de sua época, Hilda passou a infância lendo as obras de Lobato e escrevendo ao autor inúmeras cartas que ele, gentilmente, respondia. A diferença entre Hilda e as demais crianças que se correspondiam com o autor é que, em 1937, Hilda, ainda adolescente, e levada à editora de Lobato pelas mãos do avô, não apenas conheceu o escritor como se tornou amiga do criador de Reinações de Narizinho até sua morte, em 04 de julho de 1948.


Mobiliário, caricaturas, fotografias, livros, bonecos e outros itens compõem o Museu Monteiro Lobato, uma das atrações da biblioteca.

Hilda contou que a primeira vez em que o viu a emoção foi tamanha que não conseguiu falar. Porém, pouco tempo depois, Lobato já estava almoçando na casa do avô de Hilda, estreitando relações com a família da menina e elogiando muitíssimo a habilidade do cozinheiro da residência que, nas palavras do escritor, era “melhor do que Tia Nastácia”.


Pedaço da costela de Lobato, relíquia que leva às crianças ao delírio na biblioteca Monteiro Lobato.

A cada aniversário de Lobato, Hilda costumava presenteá-lo com balas caseiras de caramelo, que ele adorava. Após a morte do autor, Hilda se tornou amiga de dona Purezinha, esposa do escritor, e também de Marta, filha de Lobato – ambas já falecidas. Hoje, mantém amizade com Joice, neta do criador do Reino das Águas Claras.


Acima, as várias faces de Lobato. Abaixo, fotografias dos filhos do escritor, em diferentes fases.

Hilda conhece tudo e mais um pouco sobre a obra e a vida de Lobato e, por conta disso, trabalhou durante 20 anos na Biblioteca que leva o nome do autor de O saci. Aliás, fica aqui meu agradecimento à Rita, à Kazue, ao Oiram e ao Nelson, que compõem parte da equipe da Biblioteca e que contribuíram para tornar a manhã do dia 30 inesquecível.

De minha parte, vou levar esse encontro em meu coração para semrpe. E será com grande alegria que irei falar mais sobre ele em meu livro Rotas Literárias de São Paulo.

Em tempo: hoje faz 62 que Monteiro Lobato nos deixou. Para saber mais sobre a incrível Biblioteca que leva seu nome, especializada em literatura infantil, clique aqui.