quarta-feira, setembro 30, 2009

Minha alma na tela



Descobri a artista plástica Karen Cooper há cerca de um ano. Desde então, volta e meia entro em seu site e fico horas, embasbacada, olhando seu portfolio. É incrível como me sinto atraída pelo seu trabalho. Meu quadro preferido é Personal Collection, esse aí de cima. Cogitei comprá-lo porque realmente não era caro, mas o frete para o Brasil... Praticamente triplicava o valor. No fim das contas, aconteceu o inevitável: alguém foi lá e comprou antes de mim.

Fiquei arrasada, com a alma em frangalhos. Sabe quando você olha uma obra de arte e sente que ela foi criada especialmente pra você? Pois é... É assim que me sinto em relação a essa tela da Karen Cooper.

Sinceramente, não sei como vou resolver isso na minha vida, mas o fato é que, por existirem muito mais coisas entre o céu e a terra do que pode supor a nossa vã filosofia, ainda acredito, no fundo e na superfície, que esse quadro é meu. E não me canso, nunca, de olhá-lo.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Lirismo até em cima d'água



É por essas e outras que ando dividida entre o reino das palavras e o reino das imagens... Tive a sorte imensa de poder registrar essa cena em uma saída fotográfica realizada junto com minha turma do curso de fotografia, no último sábado, dia 22.

Nosso alvo era a Praça Buenos Aires (uma das mais lindas da cidade)e, na sequência, o não menos lindo bairro de Higienópolis. Voltei pra casa feliz da vida por ter tido a chance de fazer esses registros. Aos poucos, estou colocando as fotografias que mais me agradaram aqui, na minha galeria do Flickr. Você pode ir até lá e clicar sobre as fotos, caso queira vê-las ampliadas.

terça-feira, setembro 22, 2009

Explicação da Primavera


Fiz essa foto no sábado, na Praça Buenos Aires, e achei perfeita para ilustrar o poema.

Gosto da Primavera porque nela a gente não acorda, desabrocha.
Nela a gente não cresce, floresce.
Tampouco ninguém morre, transcende.

Na Primavera a gente não se banha, se orvalha.
A gente não se deita, deleita.
A gente não se cala, se espalha.

Na Primavera a gente não produz, frutifica.
A gente não seca, amadurece.
A gente não permanece, enraíza.

Na Primavera a gente vive de brisa.
Sente à flor da pele.
E inala, apenas, essências.

A Primavera não é uma estação.
Não há trem nem despedida.
É ponto de encontro, chegada.
Espécie de porto, de estrada...
Onde o único veículo que trafega é o coração.


Goimar Dantas
São Paulo
22/09/09

Minha primeira Emília



Minha singelíssima homenagem à atriz Dirce Migliacccio, minha primeira Emília, que, de hoje em diante, deverá levar seu encanto para algum lugar situado entre o Reino das Águas Claras e o Sítio do Picapau Amarelo.

terça-feira, setembro 15, 2009

Som de passarinho



A primeira vez que ouvimos Tiê foi em 2004 (ou 2003?). A cantora, que tem nome de passarinho, acompanhava Toquinho em evento do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Durante o show, o ex-parceiro de Vinicius teceu quilos de elogios à moça, mas Tiê ainda estava começando e não tinha um repertório pronto para apresentar ao público. Naquele momento, restou à plateia se conformar com Tiê interpretando as canções de Toquinho, o que não era nada mal. Porém, o tempo passou, graças aos céus, e agora a moça surge divina com o lindíssimo álbum Sweet Jardim (aliás, tem nome mais doce e poético do que esse? Desconheço).

O resultado é que eu, juntamente com a torcida da Poesia Esporte Clube, estamos completamente apaixonados pelo CD... Todas as canções primam pela delicadeza conquistada graças à abordagem poética que prevalece na trinca voz, letra e melodia.

Minhas preferidas são “Aula de francês” (clipe acima) e “Passarinho”- que você pode encontrar no You tube, juntamente com outras preciosidades de Tiê.

Minha recomendação é de que você aprecie sem um pingo de moderação.

domingo, setembro 13, 2009

Super Sônia



Dia desses fomos à casa da Sônia, superamiga que é uma verdadeira mãe para meu bem, meu “Mau”. Ela é doida por ele e o considera um filho. Ambos trabalham juntos e Sônia faz questão de cuidar para que o dia-a-dia do seu "filhão" seja o mais impecável possível. É sua hiper-mega assessora e, nas horas vagas, acaba atuando como enfermeira não só dele, mas de toda a equipe do escritório. Basta alguém espirrar e ela já está a postos, pronta a ajudar.

Antes de se render ao mundo corporativo, Sônia trabalhou como enfermeira-padrão anos a fio. Na verdade, é competente em tudo o que faz, mas minha impressão é de que realmente nasceu para cuidar das pessoas, zelar pelo bem-estar alheio. Nunca vi tanta paciência e interesse em ajudar. Sônia toma à frente de tudo e sai marcando consultas, exames, cirurgias... Vigia para que a pessoa não esqueça a hora dos remédios, indica bons profissionais, telefona todo dia pra saber se a pessoa está se recuperando bem e, se preciso for, arranja até briga com empresas de seguro-saúde.


Yuri, Tatá e um dos três chachorrinhos de Sônia.

É uma anfitriã de primeira, seja no apartamento de São Paulo – aconchegante e repleto de obras de arte que eu fotografei sem parar –, seja em seu refúgio praiano. Com sangue árabe nas veias, cozinha quitutes típicos que a gente come rezando, feliz pela graça alcançada.

Tem três filhos maravilhosos: Diego, Fabiana e Rodrigo, já adultos, mas ainda conserva uma paciência de Jó com crianças. As minhas são loucas por ela e, quando Sônia está perto, Yuri e Tatá me ignoram solenemente... Juro que não fico chateada. Sônia merece todo o amor do mundo.


Essa é apenas uma das diversas delicadezas encontradas na casa da Sônia. Não é linda?


Adorei essa gueixa, em marfim.


Também adorei esses hindus.


Termino com a pose dessa outra peça, a mais rara, diga-se.

sexta-feira, setembro 11, 2009

O perfume



Eu tinha 14 anos quando ganhei o perfume da minha vida. Seu nome era Magriff e exalava uma fabulosa fragrância amadeirada. Ainda hoje posso senti-la quando fecho os olhos e me transporto para aquele tempo mítico.

A bem da verdade, não esqueço nada do que diz respeito àquele perfume, a começar pela embalagem inusitada: uma caixa feita de ripas de madeira, como aquelas usadas para transportar frutas e verduras. Outra coisa interessante eram as camadas generosas de palha que forravam o fundo da caixinha, não apenas para impedir que o vidro se quebrasse, mas também para completar a estética rústica do produto, que, apesar do nome metido a gringo, tinha toda a pinta de nacional.

O frasco era pequeno e deveria abrigar não mais do que 50 preciosos mililitros do líquido com cujas gotas eu marcava os territórios dos meus pulsos e pescoço. Já a tampa do vidro possuía formato quadrado, também de madeira, reproduzindo o mesmo tom claro das ripas da caixinha. O mais intrigante, no entanto, era uma raiz(!) que, juntamente com o líquido, enchia de mistério o interior do frasco. Eu nunca tinha visto um perfume que viesse junto com uma raiz, talvez inserida ali para simbolizar a árvore da qual havia sido extraída a essência. A mesma que, por sinal, iria se entranhar em mim para todo o sempre.

Eu havia ganhado o mimo do Saulo, aluno que caiu de pará-quedas na minha classe, bem depois de o ano letivo já ter iniciado. Saulo era um cara engraçado, extrovertido, tagarela. Ficamos amigos de cara e, logo no primeiro dia, ele pediu que eu lhe emprestasse meus cadernos, de modo que pudesse copiar as lições que havia perdido.

Foram semanas até que ele conseguisse finalizar tudo. Mas, como eu também precisava dos cadernos para fazer os deveres diários, Saulo copiava o que podia e, no final da tarde, passava lá em casa para devolvê-los, de modo que eu conseguisse fazer minhas tarefas para o dia seguinte.

Bem, “passava lá em casa” é um modo de dizer. Eu morava numa casa de fundos que ficava em um enorme quintal e, quando ele chegava, encostava a bicicleta no portão, gritava meu nome e batia palmas. Eu ia até ele, pegava o caderno e entrava. Tudo muito rápido. Nunca pude convidá-lo para entrar, tomar um lanche ou coisa assim porque, na minha casa, a entrada de representantes do sexo masculino era terminantemente proibida. Afinal, “Seu Pedro Dantas” era uma fera – dessas que colocaria no chinelo qualquer pai de conto de fadas.

E como toda a vida real rende um ótimo enredo de novela, a fera estava em casa justo na primeira vez em que Saulo foi me entregar os cadernos. Tão logo o coitado gritou meu nome lá fora, meu pai tascou um: “- Que é que esse cabra quer com você?”. E eu, oblíqua, dissimulada e fingindo calma tibetana, respondi: “Ele quer apenas os meus cadernos”. Mas a fera era adepta do estilo coronel nordestino e nunca deu bola nem pra Machado de Assis nem pra Filosofia Zen Budista. Então, em tom de som e fúria, esbravejou: “Pois você avise a ele que eu não quero saber de macho gritando nome de filha minha no portão!”. É claro que eu não avisei e, com a graça de Deus, que, por vezes, é um roteirista generoso, sempre que Saulo reapareceu meu pai estava trabalhando.

Semanas depois, quando terminou de copiar tudo, Saulo surgiu com o presente. Era o perfume. Num rompante de timidez, justificou: “Minha mãe mandou pra você... Ela fez questão porque se não fossem seus cadernos e sua paciência em me emprestar tudo eu ainda estaria todo perdido em sala de aula”. Quase explodi de felicidade! Era tão raro eu ganhar um presente...

Imediatamente me apaixonei pela embalagem, pelo conteúdo, pelo cheiro, pela raiz que, enigmaticamente, era parte do perfume... Por muitos meses, sempre que eu o usava, me sentia, de alguma forma, mais fortemente conectada com o que havia de melhor em minha natureza. Parecia que eu ficava mais forte, mais bonita, mais confiante.

Procurei esse perfume por anos em todas as lojas possíveis e nunca o encontrei. É como se nunca tivesse existido.Ninguém sabe, ninguém viu. Guardei a embalagem vazia por muito tempo, mas, não me lembro como, ela se perdeu no vão da minha existência. Já a lembrança do perfume e sua essência peculiar retornam com força, dia sim, dia também, tomando meu coração de assalto.

Demorei muito para registrar essa história em texto, não sei bem por quê. Mas, agora que ela existe não apenas para mim, quero dedicá-la a Saulo Rodrigues, querido amigo de adolescência, que me concedeu a graça vivíssima dessas memórias.


quinta-feira, setembro 10, 2009

Invenção poética



“Nesse ponto, descobrem-se as distâncias que separam o registro histórico da invenção poética: o primeiro fixa determinadas verdades que servem à explicação dos fatos; a segunda, porém, anima essas verdades de uma força emocional que não apenas comunica fatos, mas obriga o leitor a participar intensamente deles, arrastado no seu mecanismo de símbolos, com as mais inesperadas repercussões”.

Trecho do texto introdutório do livro Romanceiro da Inconfidência, Coleção Folha Grandes Escritores Brasileiros,2008, que, por sua vez, reproduz a Conferência proferida na Casa dos Contos, em Ouro Preto, por Cecília Meireles, no 1 Festival de Ouro Preto, em 20 de abril de 1955.

sexta-feira, setembro 04, 2009

Buena Vista Social Club



Ontem, meu bem, meu "Mau" foi organizar nossos DVD's. E não é que ele achou o do Buena Vista Social Club dentro da caixa de O Auto da Compadecida? Quase chorei de alegria porque o danado estava perdido há séculos. No fim das contas, resolvemos um problema, mas ganhamos outro: onde estará o DVD de O Auto da Compadecida? Humpf! Definitivamente, aqui em casa temos um duende (ele é lindo, se chama Yuri, tem 13 anos e toca bateria). Mas, por favor, não espalhem.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Mimo para João e Bandeira


Estou firme e forte nas aulas de fotografia. No último sábado comecei a aprender fotometria. Temos de medir a luz, controlar a sensibilidade, a abertura da câmera. Nada de usar o automático, tudo no manual. Depois disso sai fazendo um monte de testes, sempre usando meus livros como cobaias (adoro fotografrar livros). A educação pela pedra, volume da Editora Alfaguara que reúne quatro livros do João Cabral, não poderia ficar de fora.



Faz tempo que eu acalentava a ideia de fotografar esse exemplar de Estrela da Vida Inteira, que um dia pertenceu ao meu amigo Márcio Rogério. Isso mesmo: pertenceu. Peguei pra ler e nunca devolvi. Morro de vergonha por isso e não me lembro por que aconteceu. Não sei se mudei de cidade, se foi ele quem mudou... Não lembro mesmo... Só sei que o livro foi ficando e se entranhando em minha casa, corpo e alma para sempre. Esse empréstimo tão mal sucedido para o Márcio aconteceu no século passado, começo da década de 90, quando éramos muito, muito jovens. Hoje, quando nos vemos, sempre tocamos no assunto, em meio a gargalhadas. Vivo prometendo comprar uma edição novinha pra ele. Vergonha de mim, meu Deus!