quinta-feira, outubro 29, 2009

Liberdade



No último sábado, minha aula do curso de fotografia aconteceu no Bairro da Liberdade, em São Paulo. O objetivo era realizar o segundo ensaio fotográfico do curso (o primeiro foi no Bairro de Higienópolis). Adorei, pra variar. Já tinha ido à Liberdade outras vezes, mas não em missão tão especial. Essa foto da Jardim Oriental, localizado no Largo da Pólvora, é minha preferida.




Impressionante como a gente apura o olhar estudando fotografia. Veja como são lindos esses origamis de uma das barraquinhas da tradicional feirinha de artesanato, que acontece no bairro, todos os sábados.



E ando tão apaixonada pelo curso que contagiei meus filhos e eles têm ido às aulas comigo. O Yuri já foi duas vezes e a Tatá se animou pra acompanhar o passeio no sábado. Eu não sabia se fotografava ou se ficava de olho neles, para que não se perdessem em meio às milhares de pessoas que transitam pelo bairro aos sábados. Mesmo assim, valeu! Eles amaram o tour fotográfico e também aproveitaram para fazer vários clicks. Já eu, fiz quilos de fotos dos dois e adorei o efeito "mosaico" dessa imagem.




Esses charmosos postes de luz são a marca característica do bairro, cujo comércio é exepcional para quem ama cultura japonesa: resturantes, karaoquês, lojas de produtos alimentícios tipicamente orientais e bancas de revista especializadas em mangás. Fiquei curiosa quando vi camelôs vendendo só filmes nipônicos. Não faço ideia dos temas...



E o que dizer dessas pombas sobre a placa da Rua da Pólvora? Mais Guerra e Paz, impossível.



Bonachão e zangadão...


Minha rainha é "shiny happy people..."


E meu rei também...

segunda-feira, outubro 26, 2009

Pa(i)radoxo

(Para meu pai, Pedro Dantas, que faria 65 anos hoje).



Quanto mais os anos passam
suas garras afiadas
sobre o que lembro de ti,
mais o teu rosto vívido
toma a minha memória,
vence o tempo
e escapa, ileso,
do vão do não-existir.

Goimar Dantas
São Paulo
26-10-09



Ah, pai! Olha só o que eu achei: uma das suas músicas preferidas! Aquela do Festival MPB-80. Lembra?

sexta-feira, outubro 23, 2009

Alice: criador e criatura


Alice Liddell, encarnando a menininha maltrapilha, em 1859.

Estou completamente apaixonada por essa foto de Alice Liddell, publicada no livro Lewis Carroll, da incrível coleção Photo Poche, editada na França. A obra reúne as principais fotografias do multifacetado Charles Lutwidge Dodgson, que se tornou conhecido pelo pseudônimo com que assinou o celebrado Alice no País das Maravilhas.


Charles Lutwidge Dodgson, captador por Oscar Gustav Rejlander, 28 março de 1863.

Além de professor de matemática, escritor, criador de enigmas, jogos de lógica e apaixonado por ilusionismo, Carroll atuou como fotógrafo durante 25 anos, em um tempo em que essa arte/técnica ainda estava em seus primórdios.

A capa do livro.

É inegável sua capacidade de captar a expressão mais perturbadora das inúmeras meninas que retratou ao longo da vida, sendo a mais famosa delas, a própria Alice Liddell, musa inspiradora de seu livro mais conhecido.


Xie (Alexandra) Kitchin (1875).

Também gostei muitíssimo dos retratos da linda Xie (Alexandra) Kitchin, que Carroll produziu amiúde.


As irmãs Edith, Lorina e Alice (1859).

A introdução do livro é maravilhosa, reunindo inúmeras informações interessantes sobre a vida, a arte, os dilemas e polêmicas que envolveram a vida de Carroll. Praticamente uma minibiografia do artista. Um deleite que, infelizmente, terei de devolver para a biblioteca. Vou tentar comprar via internet porque é uma obra obrigatória para quem gosta desse misto de literatura, biografia e fotografia. Não dá pra não ter.

Para saber mais sobre Carroll clique aqui. Você também poderá acessar outras de suas fotos aqui.

quarta-feira, outubro 21, 2009

O semeador de livros vem aí!


O editor José Xavier Cortez, à esquerda, personagem da biografia prevista para 2010, que assinarei em parceria com a historiadora Teresa Sales, e o documentarista Wagner Bezerra, no último dia de gravação do documentário "O semeador de livros", com lançamento previsto para dezembro. Abaixo, reproduzo a íntegra da matéria veiculada ontem no Publishnews, revista eletrônica especializada em notícias do mercado editorial.

A saga do editor e livreiro José Xavier Cortez (Cortez Editora/SP), uma epopeia sobre a vida de um nordestino que fez dos livros a sua própria história, é contada no documentário “O semeador de livros”, viabilizado pela Lei Câmara Cascudo, (processo 025/2007) da Fundação José Augusto, do Governo do Rio Grande do Norte, para incentivo à cultura. O projeto captou patrocínios da ordem de R$ 260.000,00, sendo R$164.000,00 da Cosern - Companhia Energética do Rio Grande do Norte e R$ 96.000,00 da Petrobrás.

Com lançamento previsto para dezembro de 2009, o documentário dirigido por Wagner Bezerra que, também assina o roteiro com Heloísa Dias Bezerra, tem realização da Ciência & Arte Comunicação e co-realização da TV Puc ­ SP e encontra-se em fase de finalização. O filme será distribuído gratuitamente para instituições públicas de ensino, bibliotecas, videotecas públicas do Rio Grande do Norte e veiculado pela TV PUC - SP e TVs universitárias e educativas de todo o Brasil. Narrado em 1ª pessoa, o documentário mostra os caminhos percorridos pelo editor, que, ainda muito jovem, deixa a então pequena cidade de Currais Novos, no Rio Grande do Norte, em direção ao sul maravilha, embalado pelo sonho de vencer na vida.

O documentário descreve, ainda, o engajamento do Cortez em causas político-sociais, como a participação na famosa "Revolta dos Marinheiros" que levou a sua cassação e expulsão da Marinha do Brasil. A preocupação com os dilemas da sociedade brasileira que sempre fizeram parte da sua vida, como no episódio em que teve a livraria assaltada e ofereceu livros infantis ao chefe do grupo, proferindo a frase "leva isso pros seus filhos, que assim eles terão uma vida diferente da sua", o que foi prontamente aceito pelo infeliz sujeito, que deixou o local com os braços cheios de livros.

Ele revela, ainda, as dificuldades típicas dos humildes migrantes que saem da região norte-nordeste, se instalam em São Paulo e batalham para conseguir o primeiro emprego, o que, no caso de Cortez, aconteceu em um estacionamento como lavador de carros e depois manobrista. Descortina também o modo generoso como a pauliceia abre os braços para seus filhos adotivos, mostrando as proezas do jovem livreiro nos anos 70, quando fazia de tudo para conseguir atender os pedidos de professores e estudantes interessados em adquirir livros censurados pelo regime militar.

No media metragem tem destaque a grande amizade com renomados intelectuais que, nos anos de chumbo, faziam da PUC/SP um centro de resistência à ditadura. Como por exemplo, o escritor Paulo Freire e o cientista social Jose Paulo Neto, dentre muitos outros. O sucesso e o reconhecimento de Cortez ficaram atestados em 2005 quando foi condecorado com o título de cidadão paulistano, concedido pela Câmara dos Vereadores de São Paulo. A transição da função de livreiro de confiança dos alunos e professores da PUC, para editor campeão de vendas, a história de uma vida de dificuldades e glória construída lado a lado com paixões que vieram da infância: a família, os livros, a educação e o forró nordestino, são destaques do filme.

terça-feira, outubro 20, 2009

Assinado eu



Sinceramente, minha vontade é colocar todos os clipes e músicas da Tiê aqui no blog. Essa, por exemplo, é tão linda quanto triste... Mas esse último adjetivo jamais poderá desmerecê-la. Ao contrário: talvez seja exatamente por conta dele que a canção é tão especial. Pelo menos para mim.

sábado, outubro 17, 2009

sexta-feira, outubro 16, 2009

Um passarinho me contou...



Fiz essa foto há meses, à frente da tradicional Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, e considerei adequada para ilustrar esse post. É que estou achando divertida essa brincadeira de Twitter. Quando crio esses textos que permitem, no máximo, 140 caracteres, minha preferência é discorrer sobre escrita, leitura, poesia, fotografia, biografia... No fundo e na superfície, tudo isso sou eu - só que em grau máximo de concisão - coisa que até então eu considerava impossível de acontecer :) E dentre os mais de 100 tweets que já postei até agora, meus preferidos são esses:


1. Quanto mais escrevo, mais me convenço de que o único jogo que considero verdadeiramente importante é o de palavras.

2. Minha cruz e a minha espada são a escrita e a leitura. E eu passo a vida entre as duas: maior deleite não há.

3. A escrita organiza, expõe e liberta, para o mundo, ideias antes restritas a uma única cabeça. Escrever é, também, um ato de doação e amor.

4. Proposta: E no frio deste Outubro: te cubro. Com o calor que vem do meu ser tão...

5. Não importa se hoje é dia 30. O fato é que o mês de setembro, em mim, nunca chega ao fim.

6. Nem bem sinto cheiro de chuva, floresço. Destino que vem de berço: meu pai também era assim.

7. Quanto mais trabalho em meus textos, mais me comovo com a verdade contida na frase de Osman Lins: "Escrever é uma guerra sem testemunhas".

8. Receita para me tirar do sério: acordar cedo, comida fria, toalha mollhada e reunião adiada...

9. Talvez por ser do sertão e por estar na hora do café, me ocorre uma adaptação p/ o Pai Nosso: "A tapioca de cada dia nos dai hoje".

10. A Primavera, quem diria, está tendo um caso com o Inverno que, mesmo frio e calculista, resolveu ficar mais um pouco... Ah, o amor...

11. Dia Mundial sem carro? Pra mim é só mais um porque nunca tive nem carro nem senso de direção.

12. Escrever biografia é viver a vida do outro com tamanha intensidade que resta ao escritor a saudade do seu próprio dia-a-dia.

13. E o melhor de fazer entrevista é ver outra vida sendo revista.

14. Sertanejo, roceiro, minerador, marinheiro e manobrista que virou editor. Quem é? É José Xavier Cortez: brasileiro que não desiste nunca.

15. Escrevendo pelas paredes: peixe livre de rede. Sereia que busca encantar. Carne querendo ser verbo. Nome carregando o "Mar".

16. Quebrando a cabeça com os exercícios da aula de fotografia. Troco o filme "Quero ser John Malkovtch" por "Quero ser Annie Leibovitz".

17. Sempre que esses dilúvios fazem de “São Paulo” um mar, me pergunto se “São Pedro” não seria um nome melhor para este lugar...

18. Está acabando a segunda que, no fundo, foi um domingo "segundo".

19. Inconfidente, eu confidencio: em Minas, minha liberdade, ainda que tardia, é poder ler e escrever em demasia. É anoitecer à luz da poesia.

20. Hoje viajo pra MG. E viagem sempre me traz poesia. Aliás, poesia está em "quase" tudo: ainda não descobri a poesia de fazer as malas...

21. De repente, fez-se noite... E as nuvens, sofrendo açoite, choram lágrimas no ar. Então, São Paulo, que é pedra, se desmancha e vira mar.

22. Procuro, aflita, passaporte pra Pasárgada: não precisa eu ter morada, basta um lugar pra eu sorrir.

23.Setembro começa com uma pergunta que não quer calar: por quantas horas um pesadelo pode durar?

segunda-feira, outubro 12, 2009

O primeiro livro a gente nunca esquece...




O caso da Borboleta Atíria, de Lúcia Machado de Almeida, Coleção Vaga-lume, 1981, Editora Ática, foi o primeiro livro que li na vida. Lembro de que assim que concluí a leitura, entendi que dedicaria minha vida às palavras.

E neste dia das crianças, fiz essa foto como uma homenagem singela ao livro, à autora, que nos deixou em 2005, à Editora Ática, que contribuiu sobremaneira para que minha infância fosse ainda melhor e, finalmente, à menina que sempre existirá em mim.

sábado, outubro 10, 2009

Do sertão para o mundo



Acabo de ser informada de que a foto acima, tirada no último mês de junho no Smithsonian National Museum of Natural History, em Washington DC, foi escolhida para integrar a nona edição do Schmap Washington DC Guide, um guia distribuído gratuitamente na capital dos Estados Unidos.

A editora da publicação, Emma J. Williams, entrou em contato comigo há menos de um mês comunicando que a foto, encontrada na minha galeria no Flickr, havia sido pré-selecionada para compor o guia, mas ainda faltava a seleção final, que ocorreria no começo de outubro. A editora também pedia minha autorização para uso da imagem, caso tudo desse certo. Eu cedi os direitos, claro. Comecei a fotografar há pouco tempo, sem pretensões profissionais, mas, mesmo assim, seria ótimo ter uma imagem divulgada em uma publicação internacional.

Estou muito feliz com a notícia e, definitivamente, acho que esse negócio está ficando deliciosamente sério :)

terça-feira, outubro 06, 2009

Annie e Alice: fonte de inspiração


Primeira foto do ensaio de Annie Leibovitz, inspirado em Alice no país das maravilhas.

Estou pesquisando ensaios fotográficos fundamentados em obras literárias, como parte do meu projeto final do curso básico de fotografia. A ideia é que eu adquira as referências necessárias para compor meu ensaio sobre a obra Lolita, de Vladimir Nabokov.

A primeira dica da minha professora foi: "Veja o ensaio que Annie Leibovitz produziu para a Vogue americana, que teve como base o clássico Alice no país das maravilhas", de Lewis Carroll. Eu vi... E, desde então, não consigo tirar as imagens da minha cabeça: o ensaio é uma obra de arte e ponto.

Aliás, desde que iniciei meus estudos sobre fotografia, tenho pensando muito nessa linha tênue entre arte e técnica. Minha conclusão é de que arte deriva do encontro privilegiado entre inteligência, paixão e sensibilidade e cujo resultado é capaz de emocionar/inspirar pessoas. E da mesma forma que nos inspira, a arte também nos acomete daquela vontade irrefreável de compartilhá-la, fazendo com que outros possam sentir as mesmas sensações positivas que nos arrebataram quando deparamos com ela. E é por esse motivo que compartilho o ensaio de Annie Leibovitz. Para vê-lo, é só clicar aqui.

domingo, outubro 04, 2009

Henri Cartier-Bresson e os momentos decisivos



Ontem foi um dia muito especial. Na aula de fotografia decidi, com a ajuda da minha professora Rita Domiciano, qual seria meu projeto final, o qual preciso entregar no término de novembro. Eu tinha umas mil e quinhentas ideias, mas todas possuíam a mesma temática: literatura. Munida de experiência e da paciência que lhe é peculiar, Rita ouviu meus planos mirabolantes e arrematou-os com uma sugestão genial: por que eu não fazia um ensaio fundamentado no enredo de um único livro? Achei incrível e, imediatamente, escolhi Lolita, de Vladimir Nabokov.

Vários motivos me levaram à decisão: trata-se de um dos meus textos preferidos, conheço bem o enredo e tenho em casa uma adolescente perfeita para encarnar a personagem da história. Além disso, minha filha adora servir de modelo pra mim, sempre com muita disponibilidade e resignação para aguentar minha demora, meus erros, minhas refações. Fiquei feliz da vida com essa oportunidade de, digamos assim, fazer uma interpretação imagética de Lolita.

Depois do curso, fui com a família ao Sesc Pinheiros ver a belíssima exposição do grande mestre da fotografia: o francês Henri Cartier-Bresson. Para resumir em uma palavra: imperdível! Tenho estudado Bresson no curso de fotografia e, a cada dia, fico mais apaixonada por ele. Porém, nenhum livro ou explicação - por melhores que sejam - substituem o impacto de ver as obras do artista reunidas.

Bresson criou a teoria do “momento decisivo”: algo como ficar horas parado, num cenário interessante, esperando que aconteça algo digno de ser captado, eternizado. É aquele instante mágico que todo bom fotógrafo persegue e que ele encontrou, ao que parece, muito mais do que qualquer outro.

Para completar, ao sair da exposição, deparei com um lindo espetáculo de dança flamenca, na área externa do Sesc. Não tive dúvida e fui atrás do meu “momento decisivo”. Eu estava muito inspirada pelos trabalhos de Bresson e, talvez por isso, considerei as fotografias desse meu "Ensaio Flamenco" como as mais bonitas que já fiz. Inseri três aqui (abaixo), mas você também pode ver as que estou postando aos poucos no meu Flickr.



Uma das bailarinas da Cia Balangandança, em apresentação de dança flamenca, no Sesc Pinheiros, em São Paulo.


Penso que esse foi um dos "momentos decisivos" mais bonitos do espetáculo.


Gostei demais do resultado dessa, em que procurei enfatizar os pés, as cores, o movimento.