quinta-feira, novembro 25, 2010

Quem tem medo de papangu?



Meu primeiro livro com temática voltada para o público infantil chegou da gráfica ontem (clique na imagem da capa e da contracapa para ver melhor). Um sonho que se realiza. Um desejo profundo transformado em palavras, versos, imagens... Cores que explodem em páginas que são como pirotecnia de magia.

Ao recebê-lo, pedi que beliscassem meu corpo, minha alma. Por vezes, parece que acordei mas, ainda assim, custo a acreditar que a história iniciada no sertão da minha infância - quando descobri que meu avô era um papangu! - agora poderá povoar a imaginação de tantas outras crianças.



Nesta foto, ao lado de minha vó Maria, vemos meu saudoso e querido avô Pedro Horácio, que, nos carnavais do sertão, se transformava em papangu.

A verdade é que o livro transcendeu minhas expectativas e se tornou uma obra de arte. Tudo graças às belíssimas ilustrações da artista Cláudia Cascarelli, e também à condução competente do editor Amir Piedade, aliado a toda equipe da Cortez Editora.

Esse post é, também, uma forma de agradecer a todos os que acreditaram nessa deliciosa aventura. A começar por Alessandra Pires, amiga de muitos anos que se tornou agente literária e parceira essencial nessa estrada que exige tanta luta, persistência e teimosia. No fundo, sonho e suor lembram o maravilhoso repicar de sinos, singulares instrumentos que só produzem música por meio da força de quem os toca.

Obrigada!

terça-feira, novembro 16, 2010

Todo o amor que houver nessa vida...




Quem diria, hein, lobo? Quarenta anos... Parece que foi ontem que te vi pela primeira vez, na oitava série. O professor havia saído da sala uns minutos e a bagunça logo se instalou entre os alunos. Foi quando você, do alto de sua autoridade precoce e irrestrita, bateu com força na mesa e gritou a plenos pulmões: "Como é que é?! Vamos parar com essa zona porque eu tô querendo estudar!"

Naquele momento eu soube: você seria para sempre. Você seria para mim. Poucos dias depois, tratei de aplicar o golpe que se tornaria decisivo em nossas vidas: inventei que descendia de uma família de ciganos e pedi pra ler sua mão. O destino, um saco de pipocas e um passeio no alto da Serra do Mar se encarregaram do resto, como bem sabemos. E lá se vão 23 anos!

Parabéns pra você, lobo! Receba essa homenagem singela, mas cheia de amor e carinho!

Em tempo: escolhi as fotos, o texto e a música, mas nosso filho Yuri (cineasta aqui de casa) foi quem fez o vídeo.

Um grande beijo!

domingo, novembro 07, 2010

Posei para a Playgói




Mês passado o blog fez quatro anos. Já disse tudo e mais um pouco sobre mim neste espaço, mas resolvi comemorar (atrasada, como sempre) fazendo uma brincadeira: e seu tentasse me resumir em um único post? Vi que era impossível, mas achei o exercício válido e decidi compartilhar com quem vem sempre por aqui.

Vamos lá: meu apelido de infância é Gói e toda a minha família ainda me chama assim. Minha fruta preferida é jaboticaba, delícia que quando pronunciada carrega um som que considero doce como seu sumo. E sempre que me perfumo, é também com a essência das palavras.

Sou misto de terra, ar e mar. Terra porque apesar de estar longe, me sinto como que entranhada ao solo do sertão onde nasci. Ar porque sou espécie de ave extremamente avoada, com vertigem de altura, mas que ousa se deixar levar nos voos da imaginação. E mar simplesmente porque eu o trago em meu nome: GoiMAR. E não bastasse isso, nasci sob o signo de aquário, com ascendente em peixes. Mas a vida é uma piada pronta e a verdade é que não sei nadar. Então, um dia, ao olhar encantada o oceano à minha frente, escrevi: “Seria sereia / não fosse o medo / de maré cheia”.

Minha cor predileta? Lilás. Livro favorito? Dom Casmurro. Leio por paixão e escrevo por necessidade. Gosto de imprimir memórias e histórias. Tenho a impressão de que quem não escreve se perde, se esvai, some na poeira dessa grande esteira da vida. Morre, enfim, de verdade. Pra mim a escrita é lastro. Mastro onde me agarro.

Quando à noite me deito, sempre agradeço pela coberta, travesseiro, teto, universo. Choro quase todos os dias, basta assistir um noticiário, novela, filme. E a cada nova tragédia concluo, envergonhada, que minha fé é sazonal – uma vez que sofre baixa considerável na época das grandes chuvas, quando centenas de crianças e adultos morrem nas inundações do Sul e Sudeste deste país; ou ainda quando um avião cai, um prédio desaba, um terremoto atinge um país, a seca volta a castigar o sertão e por aí vai. Nessas horas recordo versos desesperados do poema Vozes d’ África, de Castro Alves, decorados quando eu tinha 13 anos: “Deus! ó Deus! Onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu’ estrelas tu t’ escondes embuçado nos céus?”

Reclamo exageradamente e as três coisas que mais me tiram do sério são: acordar cedo, comida fria e toalha molhada. Tenho orgulho de ser nordestina, sertaneja, lírica, lunática, solar. E isso nunca atrapalhou meu caso de amor eterno com a cidade de São Paulo que, diga-se, não é ciumenta. Ao contrário: é polígama, volúvel, libertária.

Gosto de contar histórias, fazer versos, textos e contextos. No dia-a-dia me divido, multiplico, adiciono e subtraio e, como a maioria das mulheres: não tenho tempo. Ele é que me tem e me domina numa relação doentia e passional. Mas é preciso dizer que ele, às vezes, me concede a graça de fazer yoga e ir à manicure. Há mulheres que nem isso.

Meus maiores amores são meus filhos, ambos minha razão e minha loucura. Sou um misto de mãe judia e italiana. Vivo dando sermão, arrancando os cabelos, fazendo drama, monitorando suas vidas, fazendo projeções desnecessárias, sofrendo por antecipação. Mas tento melhorar a cada dia, menos no que se refere aos sermões. Acredito que não dar sermão é um descaminho. Uma ausência de palavra, discurso, retórica. E eu me recuso a criar meus filhos sem palavra, discurso, retórica, argumentação.

Fico arrepiada com gente que diz: “Não me arrependo de nada”. Já eu me arrependo de muitas coisas. E a primeira delas é ter gargalhado numa situação muito inadequada e, com isso, ter magoado profundamente minha melhor amiga. Eu tinha nove anos de idade e até hoje tenho vontade de chorar mordendo o travesseiro quando lembro a cena: os olhos dela me fitando incrédulos, cheios de lágrimas causadas por minha colossal insensibilidade... Deus, como lamento!

Amo viajar, mas detesto fazer malas. Então, fazer o quê? Não ir? Ficar? Não ver? Não conhecer? Nem pensar: deixe-me ir, preciso andar!

Tenho medo de avião, sapo, cobra, barata, rato, aranha, morcego, mariposa. Mas sofro mesmo é com o frio. Não tenho nenhuma vontade de neve, fondue, esqui ou lareira. Aliás, lareira pode ser: mas só pra fazer charme quando a temperatura dos corpos estiver bem quente.

Adoro bebida doce, tipo vinho do Porto e batida de morango (dessas com mais leite condensado do que álcool), mas quase nunca me atrevo porque meu fígado se assemelha a um projeto mal feito, inacabado. Bastam dois goles e é batata: a tremedeira nas pernas é certa e a língua solta também. E uma vez solta, ela dispara declamando poemas de Augusto dos Anjos, Drummond e Bandeira. E vamos combinar que declamar Bandeira com voz pastosa é uma tremenda bandeira. Ninguém merece (ouvir).

Gosto de música brasileira, ODEIO feijoada, cerveja, chope e tenho ojeriza a cigarro. Prefiro um trem da CPTM lotado, na hora do pico. E se o trabalho me obriga a entrevistar alguém que fuma, eu vou. Mas me sinto arrasada, humilhada, mortificada, impregnada pela fumaça e pelo odor que abomino e, como diz o samba: “volto pra casa abatida / desencantada da vida”.

Nunca acampei. Acho o fim da picada dormir no chão por opção, ainda mais com bicho por perto. Não tenho um pingo de vontade de escalar, pular de paraquedas, bungee jump, andar de montanha russa. Isso eu deixo pra quem tem coragem. É... Minha covardia é crônica. Não fosse isso, viveria mais (intensamente) do que escreveria, como faz a maioria das pessoas.

Gosto de falar horas ao telefone, com minha irmã e com quer mais puder e quiser. Gosto de dividir a vida com meu bem, meu “Mau"(rício). Adoro lugares espaçosos e acho uma delícia usar pantufas e pijamas com estampas infantis. Gosto de livros, livraria, biblioteca, revistas, museus, arte, fotografia, vista pro mar, roda de amigos, férias, viagens de trem, documentários, seriados, making of, processos de produção, cartas, raridades, barulho de ondas quebrando na praia, pôr-do-sol, comida japonesa, cachorro quente, spaghetti, ovos mexidos, dicionários e programas literários. E se um dia aparecesse o gênio da lâmpada e me concedesse apenas um desejo, esse estaria na ponta da língua: queria meu pai de volta. Pra sempre.

Pra começo, é isso. E como já disse no poema O Amor de Janaína: “No mar e no mais: tudo é sal, saudade. Que existe, apenas, para gerar em seu ventre poemas”. E pra você que me acompanha nesta estrada virtual: muito, muito obrigada! Brindemos (no meu caso com suco) ainda por muitos e muitos anos!

Se eu fechar os olhos agora...



Tá linda essa entrevista! Gosto demais do trabalho do Edney Silvestre e fiquei muito feliz pelo sucesso de seu primeiro romance, o já premiadíssimo Se eu fechar os olhos agora, que lerei tão logo a pilha de livros ao lado da minha cama diminua um pouco.

O fato é que o também escritor Luiz Ruffato conduziu a entrevista maravilhosamente e Edney, por sua vez, abriu o coração como tem de de ser. Ambos nos presenteiam com um verdadeiro show de sensibilidade, inteligência e delicadeza. Recomendo muito, muito, muito!