terça-feira, abril 07, 2009
A herança de Chicó e Manoel
Chicó, personagem da peça O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, interpretado, em minissérie, pelo autor Selton Melo.
Na última sexta-feira, dia 03, recebi um e-mail curiosíssimo, para dizer o mínimo. Um senhor me perguntava se eu, de fato, conhecia Nego Dé, personagem de um poema que escrevi em 2006 (para ler o poema, clique aqui). Não tenho o direito de revelar o nome desse senhor e, por extremo respeito à sua privacidade, também não posso dizer o motivo que o levou a manifestar tanto interesse pelo personagem descrito em meu poema.
Mas o episódio me deixou muito intrigada e, por conta disso, fiquei com vontade de esclarecer umas coisas por aqui: à exceção das minhas crônicas e dicas de filme, música etc, grande parte do que publico neste blog são poemas. E poemas pertencem ao reino do imaginário. Nem sempre têm relação com o que vivo.
É verdade que já os escrevi inspirada em pessoas reais. Pessoas que amo ou que, por algum motivo, exercem forte poder/influência sobre mim. Mas esses poemas não correspondem à totalidade dos meus textos, composta, também, por versos que são a expressão de meus sonhos ou a representação escrita de uma inspiração nascida de imagens, músicas ou qualquer outra forma de arte que tenha tocado meu coração.
Há, ainda, a poesia que, como costumo dizer,"recebo” de presente, por obra e graça da natureza. É o caso da chuva e do mar, que, generosos, sempre me concedem muita inspiração.
Acima, o poeta Manoel de Barros, que, assim como Chicó, tem explicação para o caso.
Digo tudo isso para ressaltar que quando escrevo poemas geralmente obedeço a uma das frases mais conhecidas de Manoel de Barros, um de meus poetas contemporâneos preferidos e que ousou afirmar o seguinte: “- Sabe, noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento que é mentira”.
Pois é. Como diria Chicó, personagem criado por Ariano Suassuna em O auto da compadecida: “Só sei que foi assim”.
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