segunda-feira, outubro 15, 2007

As montanhas mágicas


Um universo verde me invadiu.
Estou em Minas.
Montanhas me recebem
de horizontes abertos
e rios correm para me saudar.
Mas antes que me alcancem,
flerto, obscena,
com o barro vermelho
(amante feito de matéria macia,
substancial...)
Ele se lança sobre mim possessivo,
na rua,
na relva,
no quintal...
Eu finjo certo recato
e, para excitá-lo ainda mais,
digo, cheia de malícia:
“Não, não... Vou sujar minha saia rendada se me deitar com você aqui... Não, por favor, não...” (e outras desculpas esfarrapadas e femininas).
Dá certo.
E ele vem mais forte,
cheio de desejo e,
com a ajuda do vento cúmplice,
sobe pelas minhas pernas
e vai se entranhando à minha pele.
Em pouco tempo,
somos um.
Artista e escultura.
Barroco sagrado e profano.
Mas a energia de Minas me deixa insaciável
e, então, sigo para me banhar no rio,
o mais criativo dentre todos os amantes.
Com ele, conforme já disse o filósofo
(usando outros termos):
A experiência nunca é a mesma...
O ritual se completa
com o passeio entre as árvores.
Amores impressionistas que me cercam,
me abrigam,
me afagam...
Folhas e flores roçam meu corpo
em carícias incessantes
(como um pincel sobre a obra-prima).
Agora sim,
sou parte da paisagem.
Respiro fundo,
tão fundo que me torno ar.
Flutuo,
vôo,
Liberdade, ainda que tardia!
De repente,
olho pra dentro de mim
E o que descubro?
Minas inteiras de palavras-preciosas
Estou rica
Poemas brilhantes brotam do meu peito
Inconfidências bem-vindas
Mas eu perco a cabeça...
e revelo romances em demasia
De repente,
me vejo exposta
em praça pública
(como Joaquim José da Silva Xavier)
Porém, nas Minas paradoxais,
esse ritual me faz viva, feliz.
Regresso à terra de São Paulo grávida,
renovada.
Por todo o caminho,
as montanhas me acenam,
eucaliptos me perfumam,
ipês floridos fazem festas para meus olhos...
Uma vez mais,
é hora de contar com o vento.
Cabe a ele soprar a melodia
que anuncia,
para breve,
o nascimento de mais uma poesia.
Riqueza concebida na terra,
no ar
e nas águas das Minas.
Das Minas Gerais.

Goimar Dantas
Santa Rita do Sapucaí
Sul de Minas Gerais
13/10/07

Imagem: foto de Hélio Mello, disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/images/sinapse02_20.jpg

Um comentário:

Anônimo disse...

Como você consegue mesclar tudo desse jeito: sensualidade,
erotismo, natureza da Terra e natureza do Homem, fantasias da natureza e fantasias da Mulher! E como seus versos fluem, enlevam, encantam! Caracas!Você está cada dia mais... essencialmente poesia. Às vezes fico até com a sensação que a poesia te basta! Que de nada mais você precisa, a poesia a
penetrou, a prenhou, a poesia está em todos os seus poros e pólos! E
brotam, brotam, como brotam suave e gostosamente, encantadoramente! Deus! Como eu mesmo queria ser assim! Sabe que te invejo né!? Mas... fique tranqüila... é uma puta inveja totalmente saudável e torcendo sempre por um novo filho
dessa gravidez eterna que Minas consegue meter nessa alma explosiva, inquieta e aberta. Essa alma prostituta, sempre aberta às safadezas dos seus próprios sonhos e profundos sentimentos.
Que lindo! Mais um lindo, lindíssimo! Só falta publicar, com os demais, num livro mesmo, pra consagrar de vez quem, como poetisa, nada deve às Hildas,
Adélias, Cecílias, Floberlas, Anais Nin e tantas outras extraordinárias poetias-musa.
Beijos boquiabertos
Leo