sábado, fevereiro 13, 2010

Acadêmicos da escrita



O Carnaval tradicional é um estranhamento para mim. Todo ano é a mesma coisa: a Festa de Momo vem e me encontra concentrada, terminando algum texto cujo prazo de entrega está batendo às portas, com uma pressa, um ritmo, uma força e uma cadência muito superiores aos das baterias das escolas que se enfileiram nas avenidas Brasil afora.

E diferentemente desses lindos meninos que fotografei mês passado em Olinda, minha fantasia é costurada com linhas e tramas alfabéticas, acrescidas de acessórios de morfossintaxe e estilística. E ao invés de plumas, penas. Penas cuja função é extrair palavras do tinteiro do mundo.

Nos pés, um salto muito alto, não para sambar, mas para compensar minha estatura tão pequena frente à grandeza das coisas que preciso ver e registrar. Para quem escreve abrindo mão da purpurina em detrimento do lirismo, o Carnaval é sempre uma festa solitária, plena de alegria e beleza, mas também de medo e incerteza.

No bloco compacto do texto, ensaístas substituem passistas, romancistas compõem, sempre, a comissão de frente, poetas dominam, claro, os carros alegóricos, biógrafos fazem as vezes de puxadores de samba (porque em seu ofício tentam trazer à tona as melhores histórias, dando voz e visibilidade a enredos que estariam perdidos no tempo e no espaço, não fossem eles a juntá-los em única composição). E a flâmula dessa escola... Ora, essa quem porta só poderia mesmo ser ele: Bandeira, que se desloca da ala dos poetas para honrar o nome tão propício ao carnavalesco ofício.

Mas que ninguém se engane: na Acadêmicos da escrita, todo mundo pula numa solidão de dar dó. Um não pode ajudar o outro. Quem cai tem de se levantar sozinho. Quem perde o fôlego fica pra trás. Quem quebra o salto não participa mais.

E como este ano minha folia é sair no "Bloco da biografia", peço licença pra ir ali aquecer a voz e o verbo, porque já está chegando a hora de eu cantar/contar uma linda história.


Goimar Dantas
São Paulo
13 de fevereiro de 2010

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