quinta-feira, janeiro 25, 2007
Um amante perfeito
Um ano inteiro se passou
sem que eu cedesse,
mas, um dia, aconteceu.
Sucumbi aos encantos do rei.
E me entreguei.
Foi numa manhã de Verão.
Deitei com ele na areia
à beira-mar – sem nenhum pudor.
Ao fundo,
a percussão das ondas,
o sopro do vento,
os agudos extremos
das gaivotas voyers.
Ele penetrou meu ventre,
meu torso, meu rosto, meu plexo...
Meu corpo ardia, sem febre.
Meu suor e meu sal escorriam,
sem dramas.
E eu desagüei ali mesmo,
na espuma das ondas...
Mas ele era insaciável
e seguiu me invadindo,
adentrando meus poros,
me tomando pela frente,
por trás,
em pé,
deitada...
Passeava pelas minhas costas,
aportava sobre minhas curvas.
E ainda aproveitava o enlace
para – grande astro que é –
me pintar em tons de canela
(como Jorge fez à Gabriela).
Ah, aquele calor sobre mim...
Horas se passaram
em que me deixei possuir
sem pressa.
E quando, finalmente,
olhei pra ele confessando cansaço,
calor em excesso e sede
ele me presenteou, cavalheiro,
com suaves pingos de chuva.
Poucos são os amores
que nos lavam o corpo e a alma...
Só me restou sorrir,
encantada.
E ele...
Ele vestiu-se com seus trajes
macios – como algodão de nuvem.
E foi partindo em outras direções,
mas não sem antes
dizer que voltaria no dia seguinte.
Ah... O sol...
Goimar Dantas
Juréia de São Sebastião
18h36
Em 06/01/2007
quarta-feira, janeiro 17, 2007
Poesia à revelia
Silêncio, mais que um desejo.
Silêncio, mais que um afeto.
Tormento não ter por perto
Resquício desse querer...
E as poesias? Nascem tortas!
Pois meus sentimentos fogem,
minhas paixões esvaecem.
As dores? Desaparecem!
Sem quietudes pra sofrer.
De tudo, não resta nada.
Adormecem as alegrias.
E as transformações são lanças
ferindo a essência dos dias.
Fujo, me escondo, me perco,
invoco a santa poesia,
mas ela se distancia
(clamando pelo silêncio).
Fecho a porta, tranco o quarto,
mas eles gritam lá na fora.
No pôr-do-sol ou na aurora
eu busco e não encontro a paz.
O mundo, essa roda-viva!
A terra – esse fim de tudo.
Os homens, os desafios...
Sem tempo para calar.
Urgências, trabalhos, filhos,
novas solicitações,
as velhas demandas vãs
(nunca, jamais o silêncio).
Mesmo assim, vem o poema!
E é quase uma valentia.
É desabafo na tarde.
A salvação desse dia.
É prova de teimosia.
Fera que escapa à jaula,
flor que resiste ao gelo
luz guiando a jornada.
E o poeta rompe o espaço,
salta as barreiras do tempo
e abre mão do silêncio
(insiste em parir palavras!)
E produz à revelia
do barulho, dos lamentos,
dos latidos sem sentido
dos cães de hoje e de outrora.
Tudo por um motivo:
poetas são como vento...
Têm de espalhar sementes,
levar recados da alma
Para o coração das gentes.
Goimar
Santa Rita do Sapucaí
Sul de Minas Gerais
Aos vinte e cinco minutos do dia
27/12/06
sexta-feira, janeiro 12, 2007
Nego Dé
(Para minha filha Tailane Morena, baiana nascida em Ilhéus)
E lá vinha Nego Dé.
Deus de ébano.
Riso de marfim.
Filho de Oxóssi.
Dono de ginga sem fim...
Corpo que é quase um rito.
Bailarino do infinito.
Jogador de capoeira.
Quando dançava descalço,
na dureza do asfalto
e parecia voar...
Tudo o mais se aquietava.
Tristeza se dissipava.
Espetáculo sem par!
Restava os olhos vidrados
da multidão encantada.
Das gentes de todo o mundo
que vinham pra admirar,
O místico Nego Dé...
Pássaro preto e alado.
Espécie rara de homem
Doutor na arte de amar...
Serpenteando no sol,
suava cegando a gente e
num brilho quase indecente
saltava pra acompanhar
a batida do atabaque.
África em pleno ar!
Mágico Nego Dé...
Metafísica e verdade.
Experiência divina.
Espécie nova de fé.
Êxtase mais que sagrado.
Profano pastor baiano.
Redenção dos meus pecados.
Entrego minh’alma a Dé...
Nessa aliança de versos,
palavras eternizadas.
Amor que une a poesia,
à dança de todo o dia,
no compasso da Bahia –
regência do velho Bonfim...
Lá onde impera a arte.
Mares que não se acabam,
palco de todos os Santos.
Magia a não ter mais fim...
Templo de Nego Dé.
Imagem que mora em mim.
Goimar Dantas
Santa Rita do Sapucaí,
Sul de Minas Gerais
Em 25/12/2006,
às 13h37.
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