segunda-feira, agosto 16, 2010
Tradição lírica
O advogado aposentado Armando Marcondes Machado Jr., um dos ex-presidentes do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo do São Francisco (USP), reuniu, durante 20 anos, um verdadeiro arsenal de informações sobre os 30 mil estudantes que, entre 1827 e 2006, se formaram nessa que é uma das faculdades mais tradicionais do país.
A pesquisa se transformou numa obra que, por assim dizer, tem um quê de proustiana, na medida em que é composta por 7 volumes e um livro extra(!), publicado em 2007, dessa vez agrupando informações e poesias dos poetas e prosadores que já passaram pelo local.
Alguns volumes da coleção escrita por seu Armando.
Machado Jr, conhecido por todos como "seu Armando", se dedicou ao projeto de forma apaixonada e abnegada. Sem ajuda financeira de qualquer espécie, em tempos pré-Lei Rouanet, patrocínios e afins, o advogado precisou esperar até a sua aposentadoria, de modo que tivesse a quantidade suficiente de horas para dedicar-se à empreitada.
Durante as duas décadas que o trabalho durou, seu Armando vasculhou pilhas de documentos e arquivos os mais diversos para levantar o máximo de informações possíveis sobre os estudantes e turmas que passaram pelas famosas arcadas da faculdade. Precisei me segurar para não chorar durante a entrevista porque, cinco minutos após iniciar nossa conversa, descobri, para meu deleite, que seu Armando foi colega de turma da escritora Hilda Hilst que, de acordo com a pesquisa de seu Armando, colou grau em cerimônia solitária, dia 19 de setembro de 1953, meses depois da maioria de seus colegas. É... Papai do céu é bom demais comigo. Amém.
Aqui e ali, a faculdade preserva bustos, fotografias de poetas, reprodução de versos em monumentos e documentos sobre os grandes autores que frequentaram o lugar. Alguns desses documentos, bem como objetos, estão expostos no pequeno museu que a faculdade mantém.
Estudantes se reúnem no pátio das arcadas mais famosas de São Paulo, em foto feita em abril deste ano.
Caminhar sob as arcadas do Largo do São Francisco é conectar-se ao espírito de grandes personalidades das letras nacionais. E não é pra menos. Basta conferir uma pequena lista de quem já estudou ali para sentir o lirismo que impera no local. Espia só a listinha: Castro Alves, Fagundes Varela, Bernardo Guimarães, José de Alencar, Raul Pompéia, Monteiro Lobato, Oswald Andrade, Vicente de Carvalho, Lygia Fagundes Telles, Hilda Hilst, Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari, Guilherme de Almeida e Menotti Del Picchia. Isso pra ficar, claro, só na esfera literária. (Nem me atrevo a falar dos 12 presidentes da república, governadores, senadores e empresários de sucesso que saíram das arcadas diretamente para o comando das principais instituições nacionais porque essa, como sabemos, é uma outra história).
Sem dúvida, a Faculdade de Direito do Largo do São Francisco compõe uma trajetória indispensável para os que, como eu, são aficionados por colecionar memórias e histórias das rotas literárias de São Paulo.
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