quinta-feira, janeiro 29, 2009
Chega de saudade
Esta semana assisti Chega de saudade (2008), um filme maravilhoso da Laís Bondanzky, diretora do premiado Bicho de sete cabeças (2000). Sempre achei Laís uma mulher incrível, cujos projetos ultrapassam a fronteira das películas cinematográficas para repercutir, também, sobre o território social. É assim com o projeto Cine Tela Brasil, que desenvolve junto com o marido, o roteirista Luiz Bolognesi. Juntos, eles percorrem, desde 2005, cidades do interior de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, levando cinema às comunidades carentes. Ao chegar às pequenas cidades com um caminhão, contendo uma tenda de 13m x 15m, 225 cadeiras, tela, ar condicionado, som e equipamento profissional, os dois apresentam longas-metragens nacionais e abrem espaço para discussões e debates. Não à toa, Laís foi uma das personagens escolhidas para o livro Mulheres que fazem São Paulo (Editora Celebris, 2004), que escrevi em parceria com a jornalista Viviane Pereira.
A diretora Laís Bodanzky e o o roteirista Luiz Bolognesi
Apesar de ser fã de carteirinha de Laís, não consegui assistir Chega de saudade no cinema e tive de esperar pelo lançamento em DVD. A espera valeu à pena! O filme é lindo! A sensibilidade de Laís (na direção) e de Luiz Bolognesi (que assinou o roteiro) possibilitou a criação de um filme, ao mesmo tempo, denso e delicado, abordando o universo dos chamados bailes de dança de salão, também conhecidos como bailes da saudade, geralmente voltados ao público da terceira idade. Laís e Luiz lançaram luzes sobre temas universais como amor, ciúme, infidelidade, sexo, carência, desejo e rejeição, mas com o diferencial de o fazerem sob a ótica de personagens geralmente descartados pelo cinema, pelos livros, novelas etc... Afinal, para a maioria das produções, quem tem mais de 60 anos é literalmente jogado às traças. Nesse contexto, diretora e roteirista foram ousados e inovadores.
O mais incrível é que tudo é exposto de forma não-linear, dispensando até mesmo a figura típica do protagonista. Imagino que deve ter sido dificílimo filmar uma história, por assim dizer, circular, sem núcleo, ao som constante de música e tendo como pano de fundo temporal as poucas horas de duração de um único baile. É pura magia ver o modo como as histórias vão surgindo, se entrelaçando e permitindo que cada um dos personagens conquiste o público de maneira arrebatadora. E o mais curioso é que isso aconteça sem que saibamos, ao certo, quem são essas pessoas. Afinal, grande parte das personagens não tem história pregressa, profissão, sobrenome. Em meio a isso, a câmera transita faceira por todas as direções, ora enfocando os dramas de um casal, ora evidenciando as alegrias e seduções de outro. Uma loucura...
Os casais Paulinho Vilhena e Maria Flor e Tônia Carrero e Leonardo Villar
Leonardo Villar (o inesquecível protagonista de O pagador de promessas, primeiro filme brasileiro a vencer o Festival de Cannes, dirigido por Anselmo Duarte) está surpreendente ao lado de Tônia Carrero. Stepan Nercessian, por sua vez, também está M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O como o galanteador Eudes, cujo objetivo maior em todo o filme é conquistar a jovem Maria Flor. É lindo ver como a personagem dela (Bel), uma garota de 20 anos que vai parar ali por acaso acompanhando o namorado (o técnico de som interpretado por um competente Paulinho Vilhena), se deixa levar pela lábia do cinquentão Eudes (Stepan). Incrível como o filme consegue transmitir o clima de sedução crescente entre esses dois personagens, à primeira vista, tão díspares... E ainda tem Cássia Kiss (como Marici), Betty Faria (como Elza) e Clarice Abujamra (dando vida à Rita)... Impagáveis também.
Maria Flor(Bel), cortejada, no filme, por Stepan Nercessian (Eudes)
E o que dizer da trilha sonora caprichadíssima??? Só pra ter uma ideia, a vocalista da banda que anima o baile é ninguém menos do que a cantora Elza Soares, em ótima performance. Já a direção de fotografia, assinada pelo genial Walter Carvalho, optou pelo estilo realista, beneficiando a atuação em detrimento da estética dos atores. Confesso que senti certa estranheza no começo, tamanha a revelação dos suores, rugas e maquiagens meio borradas, exageradas... Mas, depois de uns minutos, a gente percebe que era mesmo essa a intenção. Um baile real, com pessoas reais. Até porque à exceção dos atores centrais, os demais dançarinos eram todos frequentadores legítimos de bailes de dança de salão, selecionados em salões espalhados por toda São Paulo.
Se ainda não viu, fica a sugestão (veemente) desta potiguar que vos escreve.
Abaixo, o delicioso trailer do filme pra vocês.
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5 comentários:
ótima dica. Havia visto o trailler e me interessado, mas como você, perdi no cinema.
Verei e volto aqui para te contar o que achei.
E obrigada pelos elogios que deixou no blog :)) O melhor disso tudo é estar cercada por pessoas talentosas e que me inspiram. Você é uma delas e mais cedo ou mais tarde terá um poema seu "scrapliftado"! O difícil é escolher qual...
Ai, meu Deus...
Que emoção!!! Já pensou?? Um poema meu repleto das cores e formas imaginadas por você????
Affffffffffffffffff... Vou ficar toda besta (acho que já estou, né? rs!)
beijos, flor!! Ah, alugue o filme, sim! É LINDO!
Sera que voce sabe qual é o nome do poema que diz Eudes?
Oi!! Poxa... Achei lindo o poema, mas também não sei o nome... Que pena!
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