sexta-feira, fevereiro 27, 2009

A musa do mar

(Para Tailane Morena, que me concedeu a graça de ser sua mãe)




E ao ver a beleza desse teu olhar
O mar se rendeu e se pôs a chorar
Ondas imensas de lágrima e sal
Que ao ver-te sereia,
deitada na areia,
Ao fim te banharam
Num rito vassalo...
Tal qual oferenda
Para Iemanjá.

Goimar Dantas
São Paulo
26-02-09

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Um vexame na Escócia

(Aviso aos navegantes: estou sem tempo de escrever esses dias e, por isso, vou postar este texto escrito no final de 2007 e carinhosamente guardado para uma ocasião como esta).


Atores escoceses nos guiando pelo tour histórico e noturno nas ruas e becos de Edimburgo (a foto tá um horror, mas vale pelo registro da noite vexaminosa).


Eu amei a Escócia e os escoceses, simpaticíssimos e, por isso mesmo, bem diferentes dos ingleses. Delirei com a arquitetura medieval de Edimburgo e agradeci aos céus pelos seus pubs, cujos cardápios sempre eram repletos de sopas de todos os sabores. Alimento abençoado que me aquecia do frio e, por isso mesmo, me fazia lembrar antídotos de histórias encantadas. Faz mais de um ano que estive lá, mas, penso que o frio vivenciado na Escócia permanecerá em minha memória para sempre.

Conforme já adiantei em um post mais antiguinho, quase congelei nas terras altas. Um dos passeios inesquecíveis foi um tour histórico, realizado à noite, pelas ruas do centro de Edimburgo. O objetivo era seguir dois atores-guias enquanto ambos iam parando aqui e ali, fazendo encenações e, por meio disso, explicando a história de cada praça, estátua, monumento.

Tudo muito interessante a não ser pelo fato de que o invólucro corporal onde habito nesta encarnação jamais ter suportado baixas temperaturas. Paguei um mico gigantesco e morri de vergonha das pessoas que, junto comigo, acompanhavam o tour. Meu frio era tão descomunal que meus dentes batiam sem que eu pudesse fazer nada para detê-los. Enrolei minha cabeça com o cachecol e só deixei os olhos de fora. Senti-me uma muçulmana expiando seus pecados.

A cena era tão pastelão que até os atores, vez ou outra, esticavam os olhos na minha direção. Acho que o barulho dos meus dentes tirava a concentração dos dois. E o curioso é que o restante do público parecia não sentir um terço do frio que me acometia. Todo mundo ali – até mesmo meu bem meu Mau – agüentava a provação com uma elegância exemplar. No máximo, mantinham os braços cruzados, de modo a trazer ao corpo um pouco mais de calor. Meu bem meu Mau se compadecia do meu sufoco e se agarrava a mim tentando colaborar com meu aquecimento. Mas, infelizmente, pouco adiantava. Acho que só uma caldeira de usina siderúrgica me ajudaria numa hora daquelas.

E isso porque nunca peguei frio abaixo de zero. Não tenho a menor curiosidade, apesar de saber que, um dia, vai acontecer. Minha filha é doida pra conhecer a neve e... Bem... O que uma mãe não faz pelos filhos, não é mesmo? Enfim, naquela noite, devia estar uns quatro graus em Edimburgo, nada muito absurdo não fosse o vento cortante que tornava a sensação térmica infinitamente mais gelada.

No final do passeio, fomos levados para uma espécie de livraria improvisada. Ali, os fiéis da Igreja Católica se encarregam de divulgar a cultura local com ênfase nos aspectos histórico-religiosos. Espiritualidades à parte, a loja era, para mim, uma bênção. Um local finalmente bem quentinho, onde nos serviram chá e biscoitos. Pena eu ter esquecido de tirar fotos desse momento, literalmente, divinal. Meu cérebro, acho, ainda estava meio congelado.

domingo, fevereiro 22, 2009

Na veia




É Carnaval lá fora. Cá dentro, entretanto, tento organizar meus livros velhos na minha estante nova e minhas ideias novas na minha cabeça velha. É trabalho pesado e já suei em bicas desde a hora em que dei início a esse esforço descomunal. Há dias deixei meu escritório minúsculo pra trás porque o calor está absurdo nessas paragens e eu capitulei. Vim trabalhar na mesa da sala porque é mais arejado por essas bandas.

Minha varanda bem poderia me abrigar, mas venta em demasia por lá e meus papéis e anotações voam. E em meio a esse balé alado sou eu quem perde o chão, inviabilizando minha dança diária nesta Terra. Tenho 10 livros pra ler, 30 entrevistas pra transcrever e cerca de 40 pessoas ainda por entrevistar. E tudo isso diz respeito a apenas um projeto. Os demais, mesmo espremidos em meio a esse turbilhão, vivem, pulsam e não se conformam por estar em segundo plano, invadindo meus sonhos, pensamentos, devaneios e as conversas que travo no dia a dia.

E para além das pesquisas e textos de trabalho ainda convivo com os poemas e crônicas que fluem, constantemente, pela minha alma e pelas minhas veias. Autoritários, esses textos exigem passagem, rompem meus diques e comportas e só sossegam quando inundam folhas ou telas de computador.

Nos últmos dias convivo com pelo menos dois desses textos, ambos desesperados para explodir em jorro. São eles: Lúcia e A indesejada das gentes. E pra fazer companhia a eles, hoje me apareceu uma vontade gigantesca de escrever sobre a Saudade. Porém, como a estrutura desse novo texto ainda é semente e, por isso mesmo, carece de tempo pra se desenvolver, resolvi, por motivos de força maior, produzir esses parágrafos que não estavam previstos e que surgem como um desabafo necessário em meio ao vendaval atual. É assim: eu luto para dominar as palavras, mas, no fundo, sei que só me resta obedecê-las.

Em todo caso, já descobri a trilha sonora para o futuro texto que tecerei sobre a Saudade. A música se chama Na veia, entoada com a intensidade que já é marca registrada do vocalista Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado. Com vocês, um pouco da minha Saudade.

 Cordel do Fogo Encantado - Na Veia


Na veia

Eu vou cantar pra saudade com seu vestido vermelho e a sua boca
Eu vou cantar pra saudade descer na minha cabeça e comandar sua festa, festa

Aquele cheiro som imagem do teu corpo incendeia
E um rio carregado de saudade vem correr na minha veia
Na veia amor, na veia.
É como a luz da lua que atravessa a parede da cadeia
Clareia mais forte que o sol.

E Quando a saudade chegar com seu batalhão de agitadores
E tanta bandeira
Vou cantar aquele som da gente
Vou rasgar o teu vestido novo

sábado, fevereiro 21, 2009

Carnevale




Passistas na pista:
um fogo se instaura!
É o baticundum
dos seus corações.
No ritmo solto,
refrões, melodias
no compasso exato
do samba poesia.
São moças-estrofe
de amor e de morte,
volúpias ardentes
que inspiram paixões...
Fervem fevereiros
e invadem a Quaresma!
As moças de brilhos,
de vícios,
pecados,
seus saltos
tão altos
sobre os pés alados:
que pousam nas almas
e mexem com a gente,
sobre o asfalto quente
das vãs ilusões.

Goimar Dantas
São Paulo,
Carnaval de 2008 (é... guardei durante um ano).

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Transplante




Dôo meu sangue,
Medula óssea,
Um rim,
A córnea,
Por um bom verso.

Faço transplante
Em troca do implante
De um bom poema
No peito meu.

Sei que sou carne,
Sei que sou ossos,
Mas sem poesia...
Meu corpo esfria.

E aí... Não posso!
Melhor não ser...


Goimar Dantas
São Paulo
18-02-09

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Notas musicais




Há fases em que preciso muito mais das melodias
ditando o tom dos meus dias
e me explicando as razões.

São como teses-canções
com um quê de filosofia,
compassos e harmonias:
regimento de emoções.

Trilhas de sonhos,
saudades,
nostalgias,
sentimentos...

Música é como um tempo
que se quer eternizar...

Um amor,
uma lembrança,
um olhar,
uma presença...

Música é uma sentença
pra se cumprir ao luar.

Ao lado de quem se gosta,
na cadência do desejo,
no doce desassossego
de um peito e do seu arfar.


Goimar Dantas
São Paulo
18-02-09

domingo, fevereiro 15, 2009

Minha galeria


Nuvens emoldurando a Rodovia Fernão Dias, no Sul de Minas Gerais, novembro de 2008.

Meu flerte com a fotografia é coisa recente, mas, no que depender de mim, pode virar um caso pra vida toda. Eu tomei a iniciativa de estreitar os laços criando uma galeria no Flickr. Falta técnica e equipamento, mas o olhar apaixonado sobre cenas, paisagens e pessoas... Esse eu posso garantir que tenho. Estou aos poucos colocando minhas fotos por lá. Apareçam para uma visita! É só clicar aqui.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

O leitor




Na última quarta-feira, dia 11, tivemos uma epifania. Largamos tudo e fomos assistir O leitor. Desde então criei a campanha “Pare tudo e vá ao cinema”. É o mínimo que posso fazer pelos amantes da sétima arte. A crítica se pôs genuflexa em relação ao trabalho magistral da atriz Kate Winslet – e não poderia mesmo ser diferente. A moça, que ganhou o Globo de Ouro pela atuação nesse filme, está impecável na construção de uma personagem de extrema complexidade como é sua Hanna Schmitz – uma condutora de bonde alemã que, nos anos 50, esconde o passado nazista e se envolve com um jovem de 15 anos.

As cenas entre os dois são lindas e permeadas de trechos de romances que o jovem adolescente lê para ela. Com um roteiro sensacional, baseado no romance de Bernhard Schlink, o filme traz, ainda, o excelente David Kross, ator alemão que dá vida ao jovem Michael Berg. É fantástico ver como o menino, literalmente, cresce na trama, se transformando num homem atormentado pelas reviravoltas do destino. Homem esse que, no trecho final da película, é vivido por Ralph Fiennes. Mas você pode ler mais sobre o filme clicando aqui, na resenha do UOL.

E sobre essa resenha propriamente dita, o que mais me impressionou foi o último parágrafo, em que o autor afirma que apesar de Kate mostrar “o talento e a profundidade de sempre” está “muito melhor” no filme Foi apenas um sonho, em que volta a fazer par com Leonardo Di Caprio. Não acreditei. Como assim está “muito melhor”??? E isso é possível???? Caramba...

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Outra estação




O moço não me olha mais...
Não me escuta,
Não me vê.
Perdeu o trem,
foi-se embora!
Virou saudade, memória,
Poesia que faz doer.

O moço nem sequer acena.
Não olha pra essa estação.
De certo vive outra história,
Escuta outra moça agora...

Mas será que ela faz versos,
Poesia, fado, canção?
Será que ela conta “causos”?
Declama?
Sabe de cor?
...

Talvez, quem sabe, ele volte...
Qualquer dia,
Qualquer hora,
Para ouvir meus devaneios
E sorrir,
E se encantar...
E Sherazade que sou,
Pensando bem, meu amor,
Só isso já vai bastar.

Goimar Dantas
São Paulo
21-12-08

sábado, fevereiro 07, 2009

Samba paulista



Esses são os meninos do "Sambô", que pesquei ontem, no blog do Tas. Achei essa mistura de samba e rock que eles fazem s-e-n-s-a-c-i-o-n-a-l. E o vocalista? Que voz mais incrível...

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Pueril





Ontem à noite sonhei
Que a inspiração não dormia...
Coisa mais boa seria
Se isso fosse verdade!

Sonhei não haver saudade
Nem confusão
Nem conflito
Paixão não era delito
E se obedeciam às vontades

Que maravilha seria
Ver desejos saciados
E o meu sorriso espelhado
No fundo dos olhos teus...

E para além desse sonho
Sair por aí dançando
Feito crianças, brincando,
Sob um céu mais do que azul...

Mas os sonhos são finitos
E as noites – pena! – terminam
E ao ver o dia surgindo
Volta em meu peito a saudade,
O conflito
E a vontade,
O desejo
E a confusão...

E a inspiração? Foi-se embora!
Porque já estava na hora
De novamente dormir...

E o meu sorriso?
Quem dera!
E os teus olhos?
Quimera!

Numa outra noite...
Quem sabe...

Goimar Dantas
São Paulo
06-02-09



quinta-feira, fevereiro 05, 2009

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Haikai felino



Vou varar a noite
Com a lança afiada
Do meu olhar.

Goimar Dantas
Artur Nogueira
17-01-09

domingo, fevereiro 01, 2009

Mais my space



Há um mês estou mergulhada em textos, sites, revistas, livros teóricos sobre biografias ou biografias propriamente ditas. Quando estou realizando um trabalho que vai levar muito tempo, mergulho de cabeça no tema. E assim está sendo agora. Dei início às entrevistas e às leituras para compor a biografia do editor José Xavier Cortez em setembro, mas, como faço outros traballhos paralelos, precisei desacelerar as coisas nos dois últimos meses de 2008. Não via a hora de chegar janeiro para conseguir conciliar melhor todas as tarefas. Deu certo. Li ótimos livros (além de agendar diversas entrevistas). Aliás, entrevistar pessoas (todas tão diferentes entre si) é, sem dúvida, uma das coisas mais prazerosas desse trabalho. O aprendizado é enorme.

E se durante o dia predominavam as entrevistas, nas noites e finais de semana deste mês, minha atenção era voltava para as leituras. E a melhor delas foi o excelente livro Biografismo - Reflexões sobre as escritas da vida (Editora Unesp, 2008), do jornalista Sergio Vilas Boas. A obra é fruto da tese de doutorado do autor, defendida na USP. Vilas Boas fez um trabalho muito competente, repleto de informações e dicas indispensáveis aos que desejam enveredar pelo universo das biografias. Para mim, o livro se transformou em espécie de Bíblia, de manual para o dia a dia de trabalho. Também adquiri e devorei uma edição especial da revista Entrelivros, dedicada à questão Jornalismo x Literatura. Os artigos estão fantásticos e o melhor é que, a maioria, acaba resvalando em temas relativos à biografia. Um dos meus artigos preferidos é "O conto-reportagem de João Antônio", um deleite assinado pelo ótimo Gabriel Falcione, de apenas 24 anos. Já Vilas Boas também assina um texto nesta Entrelivros, intitulado: "Perfil, o gênero nobre do jornalismo literário".

Na seqüência, li a biografia Maysa, de autoria do jornalista Lira Neto. Fiquei curiosa porque só consegui ver dois capítulos da minissérie e também porque ainda não tinha lido nenhuma biografia do Lira, que faturou o Prêmio Jabuti, em 2007, pela autoria de "O inimigo do rei", que narra a trajetória do escritor José de Alencar. Adorei a da Maysa. Texto e pesquisa impecáveis. Recomendo vivamente.

E em meio a tudo isso, nunca lembro de colocar o CD da Diana Krall pra tocar (esse que também aparece aí na foto)... Mas agora que deixei o danado aqui perto de mim a moça não me escapa.




Talvez seja a menor coleção do mundo, mas o que posso fazer? Por onde ando vivo procurando miniaturas de máquinas de escrever, porém, até hoje, só consegui essas da foto acima. Meu xodó é a maior de todas (à esquerda), made in China, que adquiri há uns cinco anos. A segunda também pode ser usada como apontador (essas são as mais fáceis de achar, tenho duas, mas não quis inserir uma repetida aí na foto), a terceira, à direita, consegui comprar na mesma loja da Rua Heitor Penteado, onde comprei a primeira (aquela que disse ser meu xodó). E, finalmente, a menor de todas, na frente, ao centro, ganhei em 2003... É um mimo delicadíssimo, feita de cristal Svarovsky (eu sei... mal dá pra ver na foto, embora eu tenha feito várias tentativas para registrá-la de maneira mais adequada). Tenho um ciúme danado dela e muito medo de que quebre... A bem da verdade, acho que essa miniatura mereceria estar numa estufa mas, como ainda não possuo algo sequer parecido aqui em casa, a fofura de cristal permanece protegida dos esbarrões das minhas crianças, muitíssimo escondida, dentro de uma de minhas gavetas. Tenho esperança de que quando meus filhos tiverem cerca de 25 ou 30 anos eu finalmente possa deixá-la em um lugar de maior evidência. Quem sabe na sala? O importante é ter fé! heheheh



Ok... Já deu pra ver que eu A-D-0-R-O miniaturas de bonequinhos, bichinhos e afins. Pois é... Sou mesmo doida por elas. E o resultado é que os amigos descobrem e vão me presenteando com mais e mais.



O interessante é a lembrança associada à cada uma delas. Quem me presentou? De que lugar vieram? De Paris? Da 25 de Março? De Nova York? Da feirinha da Benedito Calixto? Essas da foto acima, por exemplo, têm histórias as mais diversas. E eu adoro olhar pra elas e rememorar suas origens.