sexta-feira, abril 11, 2008

O anjo triste


(O anjo triste é dedicado ao poeta Augusto dos Anjos, que surgiu na minha vida quando eu contava 16 anos, numa linda aula de literatura dada pela professora Regina, no colégio Primo Ferreira, em Santos. Eu adorava decorar seus versos e sair por aí em saraus informais, declamando-os para quem quisesse ouvi-los... Ainda hoje, tantos anos depois, olho com espanto e frescor apaixonado para poemas belíssimos como A idéia... que trata da trajetória das idéias desde o momento em que nascem, até a hora em que esbarram na língua, por vezes, incapaz de dar voz a elas. A descrição desse caminho, repleto do vocabulário cientificista típico dos simbolistas que já flertavam com o modernismo, é um assombro de beleza que não canso de rememorar - principalmente quando elas, as idéias, me acenam, de longe, faceiras... Mas também sou fã de carteirinha de outros poemas como As cismas do destino, Versos íntimos, Último credo, Psicologia de um vencido... Cheguei a decorar os três últimos, tantas foram as vezes em que os li... Antonio Callado, do alto de sua sabedoria, certa vez escreveu que um país que não reverencia e não reconhece a grandeza de um poeta como Augusto dos Anjos não tem mesmo salvação. Como diz um grande amigo meu: "Eu assino sob" ).

Toda essa imensa tristeza
E a tua melancolia...
O que trazem de verdade?
Como marcaram teus dias?

Como nasceram teus versos?
De onde vem tanta dor?
Quem oprimiu o teu peito?
Que foi que te sufocou?

Nas veredas do caminho
Nas ondas do teu oceano
Quantos te desbravaram?
Quantos roubaram teus sonhos?

Desde cedo eu me pergunto:
Quando é que se deflagrou
A angústia funda de Augusto
A lança que o transpassou...

Quem dera eu voltar no tempo
Para afagar teus cabelos
Deitar-te, assim, no meu colo
Realizar teus desejos...

Saber quais são teus mistérios
Sanar tuas agonias
Trazer à tona o amor
Que em tua alma dormia

Goimar Dantas
São Paulo
09-04-08

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