domingo, março 01, 2009

Obra em progresso

Há coisa de uns três anos mandei uns poemas meus pro e-mail do Leandro D'arco, um músico que, nas horas nada vagas, trabalha como executivo no mercado corporativo, juntamente com meu bem, meu "Mau". Leandro recebeu os poemas perto das 18h, pouco depois, segundo conta, imprimiu todos, desligou o micro e foi pra casa.

Menos de duas horas depois, ele gravou esse vídeo musicando um deles. É São Paulo Poesia. O interessante da gravação é vermos o processo de trabalho na íntegra, com seus erros e acertos. Reparem como Leandro apresenta dificuldade em achar a melodia certa pra uma das frases iniciais, indo e voltando umas cinco vezes. Em seguida, deslancha e entra completamente no espírito da coisa. Algum tempo depois de ele me mandar esse vídeo, pedi autorização pra postá-lo aqui no blog e, imediatamente, ouvi: "Que nada, querida! Podexá: faço um novo e te mando. Aquele lá tem uns probleminhas e quero corrigir". HAHA. Tô esperando até hoje...

Não faz mal. Depois de tanto tempo, Leandro já me autorizou a postar a obra do jeitinho que está aí: "em progresso". E como eu desconheço mãe que ache filho feio, escuto a música, lembro que a letra é minha e fico aqui babando. Só tenho a agradecer ao Leandro que não ficou só nisso e ainda musicou outro de meus poemas. Para ver essa outra performance do moço, é só clicar aqui e escutar O amor de Janaína. Já a letra de São Paulo Poesia está logo abaixo.





São Paulo Poesia

São Paulo, lamento e caminho, metrópole e ninho, sonho e sedução...
São Paulo, de arrependimentos, prazeres, lamentos, calma e confusão.
São Paulo, da terra molhada, da pele encharcada de raios de sol.
São Paulo, furor pós-moderno, cópia dos infernos, Éden nos Jardins.
São Paulo de mil movimentos, espaços e ventos, verões e manhãs.
São Paulo dos bares e ruas, dos céus e das luas, putas seminuas.
São Paulo, conceito abstrato, do sangue no asfalto, tortura e tesão.
São Paulo, caminhos diversos, atrasos, progressos, trem de uma nação.
São Paulo, paixão visceral, da lama e do caos, sinos, catedrais.
São Paulo dos mil artifícios, dos medos e gritos, luz e escuridão...
São Paulo, trilha de bandeiras, de amor sem fronteiras pro mundo lá fora.
São Paulo das mil hierarquias, das periferias, do samba e do jazz.
São Paulo, poesia concreta, na ferida aberta de todos os loucos.
São Paulo, magia de Houdini, cena de Fellini, Glauber, Mazzoropi...
São Paulo, donzelas vadias, meretrizes castas no centro das praças.
São Paulo, reino dos pilantras, palco de carrascos, de deuses nefastos.
São Paulo, Brasil solidário, berço abençoado no Pátio do Padre.
São Paulo, terra dos gigantes, eternos viajantes, peões e empresários.
São Paulo, rios e viadutos, alegrias e lutos, fonte de afeição.
São Paulo, sem definição! Castigo ou perdão? – Xaxado e baião.
São Paulo, da complexidade e da filosofia de um bom botequim.
São Paulo, roteiro de amores e de dissabores, carma do sem-fim.
São Paulo, tempero da vida. Bela, mas... Bandida. Socorro! Ai de nós!
São Paulo do espírito inquieto, moleque irrequieto nas ruas, sinais...
São Paulo da Santa Poesia, da doce utopia, do norte sem cais...
São Paulo, que acolhe e domina, maltrata e ensina:
TE AMO...
Sem mais!

Goimar Dantas
São Paulo
10/08/2004

Um comentário:

Anônimo disse...

Goimar!
Esse poema, quando o li pela primeira vez em 2004, me tocou como uma das mais belas e sinceras homenagens à cidade que mais amo.
E me marcou, já naquela época, a sua ligação biossocial e antropocultural com uma cidade que você ama(va) por adoção.
Não há o que dizer, a não ser que seus versos, por tão tocantes, fazem aumentar nosso amor pela cidade e pela autora.
Prof. Leo Ricino